Já passou da meia-noite e agora já posso acessar a internet. Depois de abrir o mIRC e o Napster, entro em uma sala de bate-papo para encontrar com alguns amigos e pedir o número do ICQ deles. Estamos em 1999, e nesta época é necessário considerar os gastos com a conexão. Afinal, o custo da informação digital ainda é alto.

Voltamos para 2016, e a necessidade de pensar duas vezes antes de acessar a internet permanece presente. Se antes precisávamos conviver com o cálculo de pulsos telefônicos, agora a conta é dos dados consumidos, já que existe a intenção de operadoras de bloquear o acesso do usuário à internet fixa após o cliente exceder a franquia que contratou.

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Em entrevista ao Olhar Digital, Demi Getschko, engenheiro e diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.Br), entidade vinculada ao Comitê Gestor da Internet no Brasil, compara a medida com os tempos – lá na década de 1990 – em que os usuários precisavam economizar para não serem surpreendidos com cobranças absurdas ao final do mês. Com a decisão da Vivo, isso pode voltar a se tornar realidade, uma vez que os clientes que ficarem sem franquia poderão contratar novos pacotes de dados, do mesmo modo como é feito na internet móvel, para continuarem conectados.

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“Não tem justificativa. É algo ruim para os internautas em geral”, diz Getschko. Para explicar melhor os efeitos da novidade, ele compara a internet com a aquisição de um carro. “Não adianta eu comprar um carro que ande em velocidade de 80 km/h durante apenas cinco dias e no restante do mês ele não funcione. Se eu vou comprar um carro, quero que ele ande à 80 km/h todos os dias”, compara.

Basicamente, Getschko, que é um dos nomes mais importantes em relação à internet no Brasil, não aprova as franquias de limitação de internet pelo fato de que elas justamente limitam a experiência do usuário.  Por mais que a velocidade oferecida em alguns planos seja satisfatória, o limite de franquia cria barreiras ao acesso à informação.

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No entanto, ainda há esperança para não voltarmos no tempo. Questionado se as empresas que estão adotando a prática podem voltar atrás devido a pressão social, inclusive com um abaixo-assinado que já ultrapassou um milhão de assinaturas, o engenheiro acredita que sim. “Conseguimos reverter a proibição do WhatsApp no Brasil e também obtivemos vitória no caso do YouTube há alguns anos atrás (na questão do vídeo da modelo e apresentadora Daniella Cicarelli). Podemos conseguir anular essa alteração”.