Desde o início desta segunda temporada, “Mr. Robot” tem dado ao público mais perguntas do que respostas. Quem matou Romero, qual é o plano do Dark Army, o que Whiterose quer com a E Corp, onde estão Trenton e Mobley e, talvez a principal dúvida de todas, o que aconteceu com Tyrell Wellick?

Você espera que os últimos episódios comecem a desvendar o mistério, mas o penúltimo capítulo da temporada foi exibido na última quinta-feira, 15, no Brasil e deixou a história toda ainda mais complexa do que ela já estava. Confira nossa análise (repleta de spoilers) abaixo e aproveite para recapitular os últimos 10 episódios.

O criador da série, Sam Esmail, nunca negou a forte influência que outros grandes filmes e diretores tiveram sobre o seu trabalho. A primeira temporada de “Mr. Robot”, por exemplo, é cheia de referências a obras como “Clube da Luta” e diretores como David Fincher e até Michael Mann.

Essa “dependência” em outras obras de arte diminuiu consideravelmente na segunda temporada, que parte por um caminho muito mais autoral e criativo do que a primeira. No episódio desta semana, “eps2.9_pyth0n-pt1.p7z”, porém, a série se joga num universo digno de David Lynch.

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Tudo gira em torno da magnífica sequência estrelando Angela e Whiterose. A primeira, que andou meio deixada de lado nos últimos episódios, é levada para uma sala escura, diante de uma criança, um aquário e um Commodore 64 rodando “Land of Ecodelia”, um fictício game de RPG em turnos. Mais absurdo do que isso, impossível.

A construção da cena, em si, já é bizarra por si só. A passagem do tempo, lentamente conduzida pelos atores e pelos movimentos de câmera, dão a todo aquele ambiente a aparência de um sonho. Como nos melhores filmes de David Lynch, nós sentimos que há alguma coisa errada com o que está acontecendo, mas embarcamos na onda porque, afinal, o que mais podemos fazer?

O diálogo entre Angela e Whiterose é também um dos mais francos e esclarecedores de toda a série. Pela primeira vez vemos a líder do Dark Army oferecer tanto do seu valioso tempo para uma personagem que, até aqui, foi ignorada por todos a seu redor, expondo boa parte do seu próprio caráter.

Angela se mostra uma mulher forte, determinada e destemida, cortejada por Whiterose que a vê como uma peça importante para sabe-se-lá-qual jogo ela está tramando. O que nos remete a outro momento tocante e muito esclarecedor do episódio: o diálogo entre Dom e Alexa.

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Para quem não sabe, aquele pote falante com quem a investigadora do FBI joga conversa fora de vez em quando é uma assistente virtual da Amazon, que existe no mundo real e é vendida nos EUA. É como uma Siri, Cortana ou Google Now fora do smartphone.

O diálogo é instigante porque funciona como o oposto do que acabamos de aprender sobre Angela. Enquanto esta foi fragilizada durante toda a série, pouco a pouco construindo uma couraça de auto-confiança que a levou às voltas com Whiterose, Dominique foi se desconstruindo diante da incapacidade de vencer seus algozes.

A agente do FBI, supostamente durona e cheia de marra, mal consegue suportar a sensação de impotência ao notar que seus ideais de justiça, sua virtude e seu caráter não são páreo para o poder do império macroeconômico de uma coalizão entre o governo chinês e a E Corp.

O aparente “fracasso” de Dom, que passou toda a segunda temporada sempre um passo atrás dos hackers que ela tanto persegue, fica evidente quando ela se dá conta de que não há justiça nesse mundo que seja capaz de combater o poder do dinheiro. Poder este que está prestes a ser monopolizado pela E Corp e sua moeda virtual, a ECoin.

A “conversa” entre Dom e Alexa é, então, esclarecedora por nos mostrar uma personagem esgotada de suas forças em busca de algum conforto humano. No entanto, diante dela, todo o conforto que ela pode buscar está nos braços de uma inteligência artificial fria e sem carinho para compartilhar. A cena é carregada de um humor constrangedor, quase tragicômico.

Por cima de tudo isso, porém, está sempre o onisciente e pouco confiável narrador-personagem: Elliot, o líder da fsociety e desencaeador do que tudo o que a série tem feito. O episódio começa e termina com o nosso protagonista determinado a descobrir o que seu alter ego, Mr. Robot, faz quando ele não está por perto.

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Toda a sequência é confusa, e tem toda a razão de ser. Afinal, conscientemente, Elliot está tentando descobrir o que ele mesmo faz quando uma outra personalidade assume o controle do seu corpo. De modo objetivo, porém, tanto Elliot quanto Mr. Robot são apenas dois lados de uma mesma figura.

Mas assim como episódios anteriores decretaram, a diferença entre o que é real e o que é imaginário é apenas uma questão de ponto de vista. Em “eps2.9_pyth0n-pt1.p7z”, Tyrell Wellick, o executivo da E Corp supostamente assassinado por Elliot, aparece em carne e osso novamente diante do herói, tornando toda essa dinâmica ainda mais confusa e bizarra.

Mas será que ele está mesmo vivo? Não fica claro se Tyrell é mais um fruto da loucura de Elliot ou se os dois estão, de fato, trabalhando juntos por todo esse tempo. Nem mesmo Elliot sabe se pode ou não confiar naquilo que vê, o que, por consequência, faz com que nós também duvidemos.

Resta ainda saber o que aconteceu também com Cisco e Darlene, personagens de muita importância para a trama e que foram totalmente ignorados no episódio desta semana. Ao que tudo indica, as respostas para esses mistérios só serão reveladas no último capítulo, que vai ao ar na semana que vem. Se é que todas as respostas serão mesmo entregues.

“Mr. Robot” é exibido no Brasil pelo canal Space, toda quinta-feira, às 23h20.