Ano após ano, uma série de novos smartphones chegam ao mercado nas mais diversas faixas de preço. Entre eles, porém, pouca coisa muda: uns têm telas maiores, outros têm processador mais rápido e outros, por puro capricho das fabricantes, são apenas mais caros.

Essa evolução é bem-vinda, claro, mas fica cada vez mais difícil convencer os usuários de que é hora de comprar um novo smartphone. O argumento, na maioria dos casos, resume-se a: “compre o nosso novo top de linha, ele abre o WhatsApp mais rápido e custa R$ 1.500 a mais do que o que você já tem”.

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É nesse cenário que a Motorola corajosamente trouxe ao Brasil o Moto Z, seu mais novo smartphone de alto desempenho. Com o aparelho, a empresa fez escolhas, no mínimo, polêmicos, como abandonar a entrada para fones de ouvido, reformular o nome e o design da linha. A principal novidade, porém, são os Moto Snaps: acessórios modulares que dão novos “poderes” e funções ao smartphone com um simples conjunto de ímãs.

Não há como negar que a Motorola pelo menos tentou trazer algo de realmente novo ao mercado. Mas será que a aposta deu certo e o Moto Z é tudo isso que a empresa promete? Passamos mais de uma semana com o aparelho para testes e você confere, nos parágrafos abaixo, nossas impressões sobre o dispositivo.

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Design e tela

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O primeiro contato com um novo smartphone é sempre visual, e não há como negar que o Moto Z é, no mínimo, exótico. Extremamente leve e fino, o aparelho tem apenas 5,19 milímetros de espessura, o que impressiona tanto ao olhar quanto no tato.

A espessura mínima, porém, deixa à mostra um volume considerável na área da câmera traseira. Para acomodar todos os recursos do novo sensor (sobre os quais falaremos mais adiante), a Motorola precisou deixar ali uma lombada que polui um pouco o design do smartphone. Parece mais um erro do que uma decisão consciente.

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Outros detalhes do design são ainda mais “ousados”. Na cor preto com grafite, a traseira metálica fosca com sutis linhas douradas dá um toque de sofisticação que é sempre bem-vindo num smartphone top de linha. As marcas de dedo, porém, surgem rapidamente com o uso regular.

Nas laterais, um contorno que lembra alumínio dá mais segurança à “pegada”. Os botões de volume e o liga/desliga, porém, são muito pequenos e todos do mesmo formato. Fica difícil, pelo tato, identificar qual é qual quando você ainda não está habituado ao celular.

É verdade que o botão que liga e desliga a tela tem uma textura diferente, mas trata-se de um detalhe tão pequeno que você ainda se pegará passando o dedo por todos os botões laterais antes de decidir qual é o certo a ser pressionado. A fabricante bem que poderia tê-los feito de tamanhos diferentes para tornar a experiência um pouco mais intuitiva.

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Na parte da frente, o modelo preto é simples e discreto. Contudo, algumas escolhas que se repetem desde o Moto G4 continuam difíceis de defender. A principal delas é o sensor de impressão digital, que a Motorola insiste em colocar na parte da frente e abaixo da tela.

Nada contra o sensor em si, que funciona muito rápida e precisamente. Com o tempo o usuário acaba se acostumando a usá-lo para bloquear e desbloquear a tela com facilidade, o que acaba transformando-no numa espécie de botão liga/desliga não-oficial.

O problema, assim como no Moto G4, é que ele só serve para isso. Não é um botão pressionável que te leva à tela principal do sistema, como o botão de início do Galaxy S7, por exemplo. É só um quadrado que poderia ter sido colocado em qualquer outro lugar do aparelho, menos na frente.

Isso gera dois problemas. Primeiro: você vai constantemente tentar apertar o sensor para voltar à tela inicial do celular sem querer, esquecendo-se de que ele não funciona assim. É como apertar o interruptor para acender a luz de casa quando você esqueceu que acabou a luz em casa.

Segundo problema: ele deixa o smartphone muito maior do que deveria ser. A tela tem 5,5 polegadas, mas o coorpo do dispositivo tem 155,3 milímetros de altura. Isso é mais do que o Galaxy S7 edge, por exemplo, que também tem 5,5 de tela, mas tem 150 milímetros de altura e bordas curvas.

O Moto Z chega a ser mais alto do que o Moto G4 Plus, que tem 153 mm de altura e também vem com o sensor de impressões digitais na frente. Isso acontece porque, além dele, o celular possui também a marca “moto” estampada na parte da frente adicionando mais alguns milímetros de espaço inútil.

Tudo isso demonstra que a Motorola poderia ter trabalhado melhor o design do Moto Z para que ele fosse um pouco mais convidativo e ergonômico. Claro que tudo isso é uma questão de gosto pessoal e há usuários que não vão se incomodar. Mas que poderia ser melhor, isso poderia.

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A empresa finalmente voltou a apostar em displays melhores no Moto Z com o retorno do Super AMOLED. A tela do aparelho é Quad HD (2560 x 1440), com 535 pixels por polegada. Em outras palavras, a resolução é ótima, mais do que suficiente para um smartphone desse tamanho.

As cores, porém, podem assustar os usuários de longa data da marca. Assim como os Galaxy top de linha da Samsung, o Moto Z aposta em contrastes mais altos e cores mais quentes e realistas. Trata-se de uma mudança muito bem-vinda que, junto à alta resolução, dá mais vida ao display.

Software e desempenho

Em termos de software, o Moto Z mantém o principal atrativo dos smartphones da marca. O Android 6.0 Marshmallow instalado de fábrica é quase puro, com mínimas modificações na interface além do relógio como widget fixado na tela inicial – algo que já vimos no Moto G4 e que pode ser removido facilmente.

Da mesma forma, são poucos os aplicativos pré-instalados pela fabricante. Na unidade que usamos para avaliar encontramos o app de compras da Amazon e o Prip, um aplicativo de mensagens da própria Motorola semelhante ao WhatsApp. A fabricante, porém, garantiu que esses apps não estão disponíveis nas unidades para venda, mas foram deixados, por engano, na nossa unidade de testes.

A versão “oficial” do Moto Z, porém, vem com um novo aplicativo de navegação entre pastas do sistema, desenvolvido pela Lenovo, o mesmo colocado em smartphones da linha Vibe. Além dele há um app de configuração de gestos e comandos de voz, o Moto, e ambos são bem úteis. Considerando que tudo isso ocupa muito pouco dos 64GB de memória interna (expansível a até 2TB com cartão microSD), não há motivo para se preocupar com bloatware no Moto Z.

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A performance do aparelho é outro ponto alto. Ele vem com um processador Snapdragon 820 quad-core de até 1.8 GHz, além de GPU Adreno 530 e 4GB de RAM. É verdade que o Galaxy S7 e o Zenfone 2 possuem CPUs com mais altas velocidades de clock máximo, mas isso não significa que o Moto Z corre riscos sérios de engasgar.

Nos nossos testes, o aparelho não travou ou deu sinais de lentidão uma vez sequer. Testamos de tudo, desde navegação simples pelo Chrome e apps básicos, como Facebook e WhatsApp, até alguns mais pesados, como o Snapchat, e também jogos – Asphalt 8, Need for Speed, Lara Croft Go e o mais procurado do momento, Pokémon Go.

Mesmo usando todos eles ao mesmo tempo e alternando de um para o outro rapidamente, o Moto Z não ficou lento e nem engasgou. Se você é do tipo que prefere números, aqui estão os resultados de testes de benchmarking: 131.403 pontos no AnTuTu e 3.792 pontos em multi-core no Geekbench. Ou seja, performance no mesmo nível da dos principais concorrentes.

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Em termos de bateria, também não há do que reclamar. Embora não seja uma das maiores do mercado – “apenas” 2.600 mAh, enquanto o Galaxy S7 vem com 3.000 mAh e 3.600 mAh na versão Edge -, o Moto Z até que dura quase um dia inteiro de uso moderado, graças às otimizações do software.

O TurboPower, carregador de 15 W que acompanha o celular, por sua vez, faz a bateria ir de 15% a 100% em menos de uma hora com facilidade. O pacote mais básico do Moto Z ainda vem com um Moto Snap de bateria que proporciona pelo menos mais 4 horas de uso moderado, pela nossa experiência. Ao todo, portanto, é possível ficar mais de um dia e uma noite sem precisar ligar o celular à tomada.

Câmera

A cada novo smartphone as câmeras da Motorola têm uma pequena melhora. Com o Moto Z não é diferente. O aparelho vem com aquela que provavelmente é a melhor câmera de um celular da empresa, embora ainda não seja tão boa quanto a do Galaxy S7 ou Note 7, ou mesmo a do iPhone 7 ou 6s.

A lista de recursos é longa: 13MP de resolução, abertura f/1.8, estabilização óptica, autofoco a laser, flash balanceado, HDR e um modo “profissional” no software que permite ao usuário controlar o foco, balanço de branco, velocidade do obturador, ISO e compensação de exposição.

Os ajustes, em si, são bem básicos e não garantem uma experiência próxima a de uma câmera profissional de verdade, mas valem pela experimentação. Além disso, o Moto Z repete um recurso utilizado no Moto G que registra três imagens para cada foto que você tirar e seleciona a melhor com base em uma série de atributos.

As cores fotografadas pelo Moto Z saem bem vivas e realistas, embora o sensor ainda peque um pouco na captura de detalhes. É fácil notar certo ruído em imagens noturnas ou ambientes pouco iluminados, mas o flash é bem balanceado. Em situações opostas, o resultado é sempre muito bom.

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Em vídeos, o Moto Z grava imagens a 1080p com 60 quadros por segundos, ou 4K a 30 quadros por segundo. A resolução é boa, mas é fácil notar que, em alguns pontos menos iluminados, a imagem fica granulada. A estabilização óptica, porém, funciona muito bem para quem pretende fazer vídeos com o celular na mão e em movimento.

Já a câmera frontal, por sua vez, tem 5MP, flash LED e um campo de visão bem aberto. Isso significa que selfies com o Moto Z conseguem enquadrar uma área maior, algo muito útil em fotos em família ou grupos grandes de pessoas. As cores e a nitidez, por sua vez, não são das mais fiéis.

Há ainda um filtro embelezador incorporado ao software, um recurso que já apareceu em outros celulares da Lenovo. Esse sistema promete corrigir imperfeições na pele das pessoas fotografadas mas, invariavelmente, acaba deixando-as com um aspecto artificial e pouco verossímil. Recomendamos deixar o recurso desligado.

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Moto Snaps

Com todos os recursos à parte, o mais impressionante do Moto Z são mesmo os Moto Snaps. Não é a primeira vez que um smartphone chega ao mercado com acessórios modulares, porém. O LG G5 diz ser o primeiro da categoria no mundo, mas a experiência não chega nem perto da praticidade do Moto Z.

No caso da Motorola, tudo o que você precisa fazer é acoplar um dos Snaps à traseira do celular e pronto. Não precisa baixar nenhum aplicativo, apertar nenhum botão ou fazer qualquer configuração. Os acessórios funcionam instantaneamente e de modo bastante intuitivo.

Recebemos os três primeiros Snaps da Motorola para testar com o Moto Z. O primeiro deles é o que vem no kit mais básico e se chama Incipio OFF Grid Power Pack, ou o “Snap de bateria”. Quando acoplado, o que ele faz é recarregar a energia do seu celular como um carregador portátil.

O Moto Z fica mais grosso e pesado com esse Snap conectado, mas é o preço que se paga por uma bateria extra. Com ele, o celular ganha muito mais tempo de autonomia, como já citado. Por outro lado, a bateria interna do Snap se esgota rapidamente se você quiser o usar o celular enquanto ele carrega. Ou seja, caçar Pokémons com o Power Pack conectado não deve render muito mais tempo de jogo.

Outro problema se nota no momento de carregar o Snap. Ao contrário dos outros acessórios, o Power Pack não tem entrada para o carregador. Encher sua bateria exige que ele esteja ligado ao Moto Z. Resultado: você precisa deixar o celular com o Snap na tomada até carregar os dois. É comum que o smartphone termine primeiro e você ainda tenha que deixá-lo na tomada por mais alguns minutos para carregar o módulo. Vendido separadamente, o Power Pack custa por R$ 399.

Outro Snap disponível no lançamento do Moto Z é o Insta-Share Projector, que custa R$ 1.499. O que ele faz é projetar a imagem do celular em qualquer superfície, com direito a estabilização e correção de ângulo e ajuste de foco. Caro, mas funciona bem – embora sua utilidade seja questionável.

Por fim, é possível acoplar ao Moto Z o JBL SoundBoost, um amplificador de som que funciona muito bem e de volume alto. Esse Snap custa R$ 699 e faz as vezes de uma caixa de som Bluetooth, só que presa à traseira do celular, incluindo um apoio para propagar melhor o som. É possível encontrar caixas de som sem fio com performance superior ou do mesmo nível, mas mais baratas.

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A Motorola ainda promete começar a vender em outubro um quarto Snap, chamado Hasselblad True Zoom. O acessório acrescenta à câmera do aparelho um sistema de zoom óptico de 10x, flash Xenon, controle de obturador e de outras configurações em botões físicos, além de registrar imagens em formato RAW, como câmeras profissionais DSLR fazem. O Hasselblad custará R$ 1.499 vendido separadamente.

Conclusão

Mas, afinal, o Moto Z vale a pena? Antes de respondermos à pergunta, é preciso levar em consideração alguns fatores. O principal deles é polêmico: a ausência da entrada P2 para fones de ouvido tradicionais. Assim como o iPhone 7, o Moto Z conecta o fone e o carregador por uma mesma porta, o que permitiu que seu design fosse tão fino.

A porta em questão é USB-C, um novo padrão de conectividade reversível. Graças a ele, um antigo incômodo dos smartphones Android desaparece. Você não precisa mais virar a entrada do carregador quatro ou cinco vezes até achar a posição certa. O USB-C pode ser conectado por qualquer lado, não importando a posição.

O óbvio problema, porém, é que nenhum fone de ouvido com fio vendido hoje no Brasil funciona diretamente com o Moto Z. A opção do usuário é usar um fone Bluetooth ou conectar ao smartphone um adaptador de USB-C para P2. Mesmo assim, é impossível carregar o celular e ouvir música ao mesmo tempo, por exemplo, a menos que você use um fone sem fio.

O problema fica ainda mais nítido quando você percebe que, dentro da caixa do Moto Z, há um fone de ouvido simples em formato P2. A Motorola vende um celular com entrada USB-C mas não tem um fone compatível. Até mesmo por isso vem um adaptador na caixa, o que facilita o lado do usuário.

Talvez seja uma questão de tempo até que todo o mercado siga essa mesma tendência e o consumidor seja obrigado a se adaptar. A princípio, a ausência de entrada para fones no Moto Z não incomoda tanto. Mas, para muitos usuários, com certeza será um fator determinante na hora da compra de um novo smartphone.

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Outro fator que se deve levar em conta é o fato de que o Moto Z é dual chip, mas só aceita cartões Nano SIM. Além disso, um dos slots de chips funciona também como slot para cartão de memória. Ou seja, você só pode usar dois chips se não usar nenhum microSD.

O que nos leva ao preço. O Moto Z vem em diversos kits diferentes, incluindo Snaps diversos de acordo com a vontade do consumidor. O mais básico custa R$ 3.199 e inclui o Snap de bateria. Como comparação, o Galaxy S7, seu principal concorrente, chegou ao Brasil em março por R$ 3.799.

Considerando que, graças aos Moto Snaps, o Moto Z tem muito mais recursos e quase dois dias de bateria (somando a do Incipio Power Pack), é óbvio que o novo top de linha da Motorola vale muito mais a pena no quesito custo-benefício. Ele é também mais poderoso do que o LG G5 SE e mais barato do que o iPhone 7 – que ainda não tem preço revelado no Brasil, mas certamente deve vir beirando os R$ 4 mil, como seu antecessor.

Há de se levar em conta também o preço salgado dos Snaps. Embora seja um conceito muito inovador e original, os módulos são muito caros para a realidade brasileira. E, como a indústria da tecnologia já nos ensinou, a barreira do preço ainda é um fator determinante para a popularização de novos conceitos.

O Moto Z é um smartphone diferente de tudo o que se vê no mercado, um dos melhores Android vendidos no Brasil e, sem dúvida, vem com o preço mais justo que se pode encontrar num aparelho top de linha, considerando tudo o que ele pode fazer. Se vale a pena? Resposta curta: sim. O Moto Z é o top de linha que todos deveriam ser.