Ok, Google! Ei, Cortana! Ei, Siri! Ei, Alexa!

A inteligência artificial chegou, e todas as grandes empresas apostam que ela pode substituir os apps como conhecemos atualmente. Com isso, os comandos de voz devem ser a próxima grande forma de interação com as máquinas, sucedendo a era das telas de toque e do teclado e mouse. Dispositivos conectados estarão por toda a parte, sempre esperando com seus microfones ligados pela sua próxima ordem.

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Você pode ter reparado um detalhe no parágrafo acima que pode ser um pouco perturbador. Sim, você terá microfones por toda a parte escutando tudo o que é dito no ambiente, esperando pelo próximo comando de voz.

Não é nem mesmo possível argumentar que os microfones estão lá, mas desligados. Se você falar “Ok, Google” para o seu celular neste exato momento, ele irá responder. Para isso, ele precisa efetivamente estar te escutando 100% do tempo, esperando por uma palavra-chave para que ele possa começar a agir com o seu comando de voz.

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A implicação de privacidade disso é horrível, porque não há como garantir que as empresas estão, de fato, agindo de acordo com as melhores práticas de proteção às suas informações. O ganha-pão do Google, por exemplo, é a extração do máximo de dados possível do usuário com base na forma como ele usa os serviços da empresa para direcionar anúncios mais relevantes aos seus interesses. Não seria surpresa se um microfone instalado na sua casa servisse para alimentar ainda mais o perfil que a companhia mantém de você e seus familiares. Microsoft, Apple, Amazon também poderiam adotar práticas similares, porque, afinal de contas, ninguém lê os termos de uso e privacidade dos serviços que utiliza.

As companhias negam este tipo de abuso, claro. O Google recentemente apresentou o Google Home, que, em resumo, é um microfone que escuta seus comandos e realiza ações de acordo com suas ordens. Para isso, ele precisa estar escutando 100% do tempo, mas a empresa promete que nada do que é dito antes de um comando “Ok, Google” é processado online na nuvem.

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Funciona assim: o dispositivo, de fato, está sempre escutando. O áudio é processado sempre para identificar quando o usuário fala um “Ok, Google”, ou “Ei, Siri”, ou “Ei, Cortana”. Tudo o que é dito antes disso é guardado localmente, sem ser enviado para os servidores da empresa, e descartado. O que for dito depois disso, sim, trafega pela internet para transformar o comando em uma ação da inteligência artificial.

Mas como dito, uma pequena alteração nos termos de uso e de privacidade pode mudar isso. Para quem se preocupa com espionagem governamental, também há o histórico do governo americano, como revelado por Edward Snowden, espionar globalmente os usuários de grandes serviços online com e sem a chancela das empresas americanas envolvidas. Dispositivos que sempre escutam seriam mais uma porta de espionagem.

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E há outras implicações sérias, que não tem tanto a ver com o comportamento das empresas responsáveis, mas em relação à segurança. É um alerta frequente dos especialistas, de que novos dispositivos conectados estão chegando ao mercado sem a devida preocupação com a proteção dos usuários. Isso abre brecha para que os aparelhos sejam hackeados e aí, sim, o perigo é real.

No caso de um dispositivo desses ser hackeado, não estamos falando apenas na invasão de privacidade de dizer “estou com dor de cabeça” e ver anúncios de analgésicos. O aparelho se torna uma arma que pode ser usada para detectar números, por exemplo. Você começa a falar seu RG, seu CPF, seu número de cartão de crédito, sua conta bancária e alguém com más intenções pode causar uma dor de cabeça enorme com estas informações.