Pesquisadores da Universidade de Harvard anunciaram ontem que conseguiram criar hidrogênio metálico. Essa seria a primeira vez que o material é criado em toda a história mundial, e sua existência poderia marcar uma revolução nas áreas de tecnologia e exploração espacial.

Segundo o Independent, a descoberta poderia ter uma série de aplicações sensacionais. Entre as possibilidades estão computadores mais rápidos, trens de levitação magnética, carros mais rápidos e foguetes que poderiam levar a humanidade mais longe – e mais rápido – do que nunca. E tudo isso poderia ser feito usando um combustível ambientalmente limpo. O vídeo abaixo, da própria Harvard, fala mais sobre ele:

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Bigorna de diamantes

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A descoberta, de acordo com a Reuters, confirma a teoria de 1935 do físico Hillard Bell Huntington, segundo a qual o hidrogênio (normalmente um gás em temperatura ambiente) poderia existir em forma metálica quando submetido a uma pressão imensa.

Para atingir essa meta, os cientistas Isaac Silvera e Ranga Dias submeteram uma amostra de hidrogênio a uma pressão de 71,7 milhões de PSI (mais de 200 mil vezes a pressão de um pneu de carro), uma pressão maior que a que existe no centro da Terra. Fazer isso exigiu colocar a amostra numa prensa entre dois diamantes sintéticos, num arranjo conhecido como “bigorna de diamantes”.

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Nesse ponto, segundo o professor de física David Cerpeley disse em entrevista ao site, os diamantes ficam próximos de rachar. No entanto, Silvera testou um método novo para polir e controlar o formato dos diamantes de maneira que eles não rachassem. Graças a isso, a pressão pôde ser atingida e o material, formado.

Supercondutor, supercombustível

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O motivo pelo qual essa descoberta é tão importante é o fato de o hidrogênio metálico ser um supercondutor. Isso significa que ele é capaz de conduzir eletricidade sem quase nenhuma perda. De acordo com Silvera, “até 15% da energia são perdidos por dissipação durante a transmissão, então se conseguíssemos fazer fios com esse material e usá-los na nossa rede elétrico, isso mudaria essa história”.

Materiais semicondutores já são bastante usados na indústria de computadores. Esses materiais também são excelentes condutores, mas suas propriedades supercondutoras só ocorrem quando eles estão a temperaturas baixíssimas. O hidrogênio metálico, contudo, é supercondutor mesmo à temperatura ambiente. Assim, ele poderia ser usado tanto em fios como em processadores e componentes computacionais. Graças à sua baixa resistência, componentes feitos com ele seriam mais rápidos. 

Também seria possível usar o hidrogênio metálico como um combustível armazenável. Isso porque os cientistas estimam que ele seria metaestável, o que signigica que ele manteria sua forma e suas propriedades mesmo que a pressão sobre ele fosse removida.

“É necessária uma energia tremenda para converter o hidrogênio em metal”, disse Silvera ao Eureka Alert, “e se você convertê-lo de volta a hidrogênio molecular, toda essa energia é liberada, então ele seria o combustível de foguetes mais potente conhecido pela humanidade, e poderia revolucionar a exploração espacial”.

Dúvidas

No entanto, outros pesquisadores ainda duvidam de que a equipe de Harvard tenha de fato conseguido produzir hidrogênio metálico. Segundo a publicação científica Nature, cinco outros cientistas expressaram ceticismo diante dos anúncios dos pesquisadores, e disseram precisar de mais evidências para comprovar que o material realmente foi criado.

O físico Paul Loubeyre disse à publicação: “Eu não achei a publicação [da equipe de Harvard] convincente de maneira alguma”. Para ele, “se eles quiserem realmente ser convincentes, eles precisam refazer as medidas, medindo realmente a evolução da pressão”.

Silvera e Dias alegaram ter visto um brilho metálico no meio da bigorna de diamantes que teria vindo do hidrogênio metálico. No entanto, segundo o geofísico Alexander Goncharov, o brilho pode ter vindo do óxido de alumínio que reveste a ponta dos diamantes sintéticos da bigorna. Ainda assim, a Harvard continua a sustentar que o material foi de fato criado.