A Uber promete levar o transporte privado a qualquer cidadão de São Paulo com um smartphone na mão, mas nem todo canto da cidade tem acesso ao serviço. Pelo menos desde o ano passado, a empresa passou a vetar algumas regiões da metrópole, especialmente periferias.

É o caso da Brasilândia, na zona norte da capital paulista. Quando um usuário abre o aplicativo no celular em algumas ruas do bairro, surge na tela o aviso de que “a Uber não está disponível na sua área no momento”. Em outros casos, nenhum aviso aparece, mas os carros que circulam pela região simplesmente somem do mapa no app.

Motoristas ouvidos pelo Olhar Digital confirmaram o caso. Segundo eles, o veto acontece quando muitos parceiros da Uber sinalizam que, naquela região, há risco recorrente de assaltos. Procurada, a assessoria de imprensa da empresa disse que a medida é tomada em algumas áreas específicas “devido a questões de segurança”, mas que “grande parte das viagens Uber começa ou termina em regiões da periferia de São Paulo”.

Para atender à população que agora não consegue mais usar o Uber na Brasilândia, um par de moradores da região – Emerson Lima, de 40 anos, e Alvimar da Silva, de 48 – criou um rival chamado União da Brasilândia, ou apenas Ubra. O serviço leva motoristas aos moradores do bairro por telefone ou pelo WhatsApp, ainda sem um app próprio.

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Basta que o morador entre em contato com a Ubra por mensagem ou ligação direta, informe seu destino e espere pela chegada do carro. A corrida custa R$ 2 por quilômetro rodado, calculado de antemão com base na rota mostrada pelo aplicativo Google Maps. O serviço aceita dinheiro, cartão de débito e também de crédito como pagamento.

Emerson conta que o projeto nasceu por iniciativa do sócio, Alvimar, que trabalhou como motorista de Uber por seis meses. Em pouco tempo, muitos vizinhos e conhecidos da região começaram a pedir corridas “por fora”: já que o aplicativo não atendia o bairro, queriam que o motorista os levasse de um ponto a outro e cobrasse de forma independente.

Assim nasceu a Ubra, que em apenas 20 dias já conta com seis motoristas – todos de confiança da dupla Avilmar e Emerson, moradores da Brasilândia, e com seus carros devidamente avaliados, incluindo ar condicionado. Para Emerson, o trabalho na Ubra é mais do que um serviço de transporte, mas uma atitutde de preservação social e de apoio à periferia.

“A Uber é gringa, não é uma empresa genuinamente brasileira. A Uber não é periferia. Eu estou aqui há 40 anos no mesmo endereço. Quando cheguei aqui era tudo sítio, fábrica de tijolos, olaria… Nós sofremos diariamente, no nosso passado, presente e no nosso futuro a gente não enxerga muita perspectiva”, diz Emerson, em entrevista ao Olhar Digital.

Segundo ele, que é artista plástico e coordena muitos outros projetos sociais na Brasilândia, o bloqueio à periferia imposto pela Uber “é mais uma chicotada”. “Mas ainda bem que a Ubra está aí, vai crescer, estamos recebendo o apoio de muitas pessoas, vamos legalizar a empresa e expandir para outros projetos”, diz Emerson.