Na última terça-feira, 20, vazou o áudio de uma reunião realizada na Apple cujo tema, ironicamente, era “Pare os vazadores — mantenha a confidencialidade na Apple”. O evento foi comandado pelos diretores David Rice (segurança global) e Lee Freedman (investigações globais) e por Jenny Hubbert, que também trabalha no time de segurança, mas na área de comunicação e treinamento de pessoal.

O Outline, que obteve a gravação, fez um extenso relato sobre o que os três disseram a uma audiência composta por aproximadamente 100 funcionários. E o site também informou que essa foi apenas uma de várias reuniões que devem ocorrer internamente para tentar controlar o fluxo de vazamentos.

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Nas fábricas

Na Ásia, operários usam táticas das mais criativas para furtar partes de aparelhos, escondendo-as em banheiros, jogando pela descarga para caçá-las depois no esgoto… “Tivemos 8.000 gabinetes furtados muito tempo atrás por mulheres que colocavam os cabos internos em seus sutiãs”, afirmou Rice.

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Há um mercado efervescente em torno das fábricas, com anúncios de “compra-se” colados em postes pelas ruas e em dormitórios. Os interessados chegam a pagar o equivalente a um ano de salário para quem obtiver peças capazes de informar o que e como será o novo produto da Apple. A maioria das mercadorias vai parar no Huaqiangbei, um dos maiores mercados de eletrônicos da China, que emprega cerca de 500 mil pessoas e fatura aproximadamente US$ 20 bilhões por ano. A própria Apple faz visitas recorrentes, sendo que, apenas em 2013, comprou 19 mil gabinetes do iPhone 5c antes do anúncio e mais 11 mil antes do início das vendas.

Mas o problema tem diminuído drasticamente ao longo dos últimos anos. “Em 2014, tivemos 387 gabinetes roubados”, disse Rice. No ano seguinte, foram 57 — dos quais, 50 desapareceram na noite do anúncio. Em 2016, de 65 milhões de produtos desenvolvidos, apenas quatro foram roubados. “É uma taxa de cerca de um em 16 milhões, o que nunca se viu na indústria”, comemora ele.

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Na própria Apple

Uma curiosidade descoberta com a divulgação do áudio é que, atualmente, vazam mais informações através de empregados nos Estados Unidos do que pela cadeia de fornecedores que a empresa montou na Ásia. Rice disse acreditar que isso seja resultado de desatenção: como o barulho sobre os vazamentos nas fábricas sempre foi alto, a Apple deixou de notar que havia um problema no seu próprio quintal. Quando isso acontece, o time de Freedman entra em ação para investigar — e geralmente leva bastante tempo, um caso citado por ele demorou três anos para ser concluído.

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Ao contrário do que acontece nas fábricas, os vazamentos americanos ocorrem por motivações que vão além do dinheiro. Em várias situações, a Apple descobriu que o vazador acabara de receber uma avaliação negativa, mas em outros casos a pessoa simplesmente deixou escapar informações por falar mais do que deveria. O maior problema, entretanto, é o medo de se pronunciar, porque as pessoas tentam esconder seus rastros quando acham que cometeram um deslize — foi o que aconteceu quando, em 2010, um protótipo do iPhone 4 passou três semanas perdido porque um funcionário o deixou num bar.