Uma matéria feita pela Forbes e pela Point revelou que o aplicativo de mensagens Kik, um concorrente do WhatsApp popular nos EUA e Canadá, virou um app favorito de pedófilos. Com mais de 300 milhões de usuários e usado por 40% dos adolescentes estadunidenses, ele se tornou, nas palavras de um pedófilo condenado, um “paraíso dos predadores”.

Os repórteres criaram uma conta falsa se passando por uma menina de 14 anos. Eles usaram a conta para acessar cerca de dez grupos públicos no app com os temas “para adolescentes” e “14 anos”; esses grupos permitem que cada participante veja o perfil de todos os outros. Em uma hora, eles receberam dez mensagens privadas, todas de homens, uma das quais continha uma imagem com linguagem sexual explícita. 

Eles então usaram outro aplicativo, chamado de “K Friend Finder”, cujo suposto objetivo é ajudar os usuários do app a encontrar amigos, e que tornam o perfil do usuário mais visível. Dez minutos após configurar o app, os repórteres receberam cerca de 300 mensagens, quase todas de homens, muitas das quais eram visivelmente sexuais e algumas das quais continham imagens de pênis. O vídeo da reportagem, em inglês, pode ser visto abaixo:

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Problemas do app

A reportagem identificou algumas das características do Kik que fizeram com que ele fosse tão usado por pedófilos. Uma delas é o fato de que é possível criar uma conta sem nenhum tipo de autenticação. Ao contrário de apps como o WhatsApp e o Telegram, que associam a conta ao número de telefone do usuário, o Kik não faz nenhum vínculo desse tipo quando o usuário se inscreve.

É possível usar o app de maneira completamente anônima e compartilhar mensagens e arquivos de maneira privada, assim como nos outros apps citados. Mas o fato de que os perfis dos usuários podem ser divulgados, com filtros pouco eficazes em evitar esse tipo de abordagem inapropriada, torna o Kik mais perigoso para adolescentes.

Uma questão que os repórteres levantam na matéria é que o app, embora permita a divulgação dos perfis, não tem um recurso como solicitação de amizade. Qualquer pessoa que veja o seu perfil pode enviar uma mensagem, e todas as mensagens – de amigos ou de desconhecidos – são tratadas da mesma maneira. 

Problema de longa data

Mais de um pedófilo condenado já mencionou o Kik como ferramenta para aliciar menores. Um deles, Thomas Paul Keeler II, entrou em contato com mais de 300 menores por meio do app. Outro, William Steinhaus, compartilhou imagens sexualmente explícitas de si mesmo ao lado de menores com ao menos outros 25 usuários.

De acordo com o promotor público Zach Myers, casos como esse são recorrentes. “Colegas meus também processaram muitos criminosos que estavam usando o Kik, seja para se comunicar com vítimas que conheceram em outras plataformas, seja para localizar e se comunicar com vítimas por lá mesmo”, disse.

Como o The Verge ressalta, os problemas envolvendo pedofilia no Kik datam de ao menos 2016. No começo daquele ano, o New York Times já reportava sobre o risco que o aplicativo representava para os adolescentes. O Kik, segundo a Forbes, sequer deleta os perfis de usuários condenados por pedofilia: 18 perfis de pedófilos condenados ainda estavam acessíveis no momento da publicação da matéria, incluindo o de Steinhaus. 

Numa declaração à Forbes, um porta-voz do Kik afirmou que a empresa tem a segurança como prioridade e continua a investir nessa área, mas admitiu que eles “podem e vão fazer mais” para proteger seus usuários. “Nós não removemos proativamente os perfis de acusados porque isso assume que todas as pessoas investigadas fizeram algo de errado”, disse. Mas ele também afirmou que pretende começar a remover perfis de usuários “que foram condenados por crimes relacionados a pedofilia”.