Antigamente, era raro que um processador para computadores pessoais tivesse mais do que quatro núcleos. A AMD chegou até mesmo a lançar, processadores com oito núcleos, mas eles eram uma espécie de exceção: eles não ofereciam ganhos consideráveis de performance com relação aos chips de quatro núcleos da Intel.

Mas nos últimos anos, isso começou a mudar. Em 2015, por exemplo, a MediaTek lançou o Helio x20, um processador de dez núcleos para celulares. O mercado de celulares também ajudou a popularizar processadores hexa-core (com seis núcleos) e octa-core (com oito), já que essas configurações permitiam que os aparelhos economizassem energia na maior parte do tempo, mas otimizassem sua performance quando necessário.

Finalmente, nos últimos meses, tanto a Intel quanto a AMD resolveram trazer os benefícios de muitos núcleos para os computadores pessoais. A Intel lançou recentemente a sua linha Core i9 de processadores com até 18 núcleos e 36 threads, enquanto a AMD lançou também os “Threadrippers”, processadores com até 16 núcleos e 32 threads. Os novos dispositivos, voltados principalmente para PCs de trabalho intensivo, prometem levar a computação pessoal a um novo nível.

Eles marcam também a primeira vez em muito tempo que a AMD e a Intel oferecem produtos que competem diretamente um com o outro pelo mesmo preço. Mesmo assim, eles têm diferenças importantes em sua arquitetura que fazem com que cada um deles seja melhor para determinadas aplicações. É sobre isso que vamos falar a seguir. 

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Novidades da Intel

Para falar sobre as novidades da Intel, é necessário começar falando sobre a AMD. A concorrente da Intel vem anunciando, há algum tempo, que pretende lançar processadores extremamente potentes, com múltiplos núcleos, capazes de performance tão boa quanto os chips de ponta da Intel, mas por um preço menor. A Intel ficou atenta às informações, e decidiu tomar uma atitude. 

Essa atitude veio na forma da linha Core i9 e da plataforma X299 – o modelo que das placas-mãe com suporte aos processadores dessa linha. Por um lado, essa plataforma permitiu que a Intel lançasse processadores extremamente potentes. Por outro, ela acabou criando um problema para os clientes da empresa: eles não conseguirão atualizar seus processadores sem trocar de placa-mãe. E os processadores mais simples compatíveis com a nova plataforma não terão acesso a todos os seus recursos.

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Por exemplo, os processadores mais simples da linha só poderão usar dois canais de memória (mesmo que as placas tenham mais). E eles só terão acesso a 16 canais PCI express. Essa é uma interface bastante importante, já que placas de vídeo e unidades de armazenamento podem se conectar a ela. Uma placa de vídeo já abocanha os 16 canais de uma vez só. 

Mesmo assim, a Intel preferiu focar nos ganhos de performance que a plataforma possibilita. Os seus processadores de ponta usam uma versão modificada da arquitetura Skylake, chamada de Skylake-X. Ela muda a maneira como os núcleos trocam informações uns com os outros, diminuindo a latência e melhorando a performance. E também traz uma atualização da tecnologia Turbo Boost Max 3.0 que permite elevar o clock de dois núcleos em até 200 MHz para melhorar a performance.

O resultado dessas melhorias é ilustrado no processador Core i9 7900X, que segundo um review do ArsTechnica, é o processador mais rápido do mercado. E ele é só o começou, porque a Inteli ainda tem quatro outros processadores com mais núcleos do que ele para lançar. 

Novidades da AMD

A AMD, por sua vez, lançou os processadores Threadripper com a sua arquitetura Zen, que estreou na linha Ryzen de processadores no começo deste ano. Os processadores Ryzen, no entanto, eram uma espécie de “entrada” para o prato principal da linha, que veio em seguida. 

Uma diferença visível entre os Threadrippers e os processadores da Intel é o tamanho. Os processadores da AMD são bem maiores, e não é à toa. Eles praticamente “juntam” dois processadores menores em um só. Cada uma dessas unidades menores contém dois complexos de núcleos (CCX), com quatro núcleos cada. Ou seja, ele é basicamente dois processadores octa-core juntos. A imagem abaixo ajuda a entender isso:

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No total, eles têm 40 MB de cache, o que é muito. O cache é um espaço no qual o processador pode guardar as informações de que ele mais precisa, para que ele não precise acessá-las de outro lugar. E como cada CCX tem seu próprio cache, essa informação pode ficar bem distribuída e facilmente acessível, diminuindo o tempo para essas operações. 

O principal diferencial dos Threadrippers é no tocante ao seu suporte a canais PCI Express. Os processadores da Intel oferecem, no máximo, 44 canais. Os dois modelos que a AMD já lançou, no entanto, permitem o uso de até 64 canais. Você pode, por exemplo, colocar quatro placas de vídeo em uma só placa-mãe, ou três placas e mais um SSD NVMe, por exemplo. 

É verdade que são casos de uso muito específicos. Mas a aposta da AMD é que, com o avanço da computação em nuvem e da inteligência artificial, esses casos se tornarão cada vez mais comuns. Isso porque essas tecnologias exigem placas gráficas para agilizar seu processamento, e um processador capaz de suportar várias placas terá uma grande vantagem. Além disso, dispositivos de armazenamento com interface PCI express também estão se tornando cada vez mais comuns.

Resultados de benchmarks

Pelos testes já feitos comparando o Threadripper 1950X da AMD com o Intel Core i9 7900X (que custam, ambos, US$ 1.000), os dois tem uma performance semelhante apesar de suas diferenças de arquitetura. Mas cada um deles se mostra mais capaz que o outro em alguns casos específicos. Os canais do YouTube Linus Tech TipsPaul’s Hardware foram dois que, além do ArsTechnica, já fizeram a comparação.  

Como o 1950X tem mais núcleos, ele se sai melhor em situações que são capazes de usar todos esses núcleos. Exemplos de situações desse tipo são benchmarks sintéticos, tarefas de codificação de vídeos e renderização em 3D, por exemplo. Na maioria dos testes desse tipo, os processadores da AMD ficaram à frente com uma vantagem ampla. 

Mas se por um lado eles tem uma performance multi-núcleo melhor que os da Intel, cada núcleo dos processadores da Intel é mais potente. Por isso, tarefas que exigem um esforço maior de um número menor de núcleos acabaram dando vantagem ao 7900X. 

Games, justamente, são uma das tarefas desse tipo. A maioria dos jogos só consegue aproveitar, no máximo, quatro núcleos de processamento. Tanto que o processador da AMD tem uma configuração chamada “Game Mode”, que praticamente desativa metade dos seus núcleos, mas muda a maneira como eles gerenciam a memória para otimizar seu desempenho nesses casos.

A diferença fica evidente nos benchmarks com jogos rodando em 1080p. Nesses casos, os PCs com processadores da Intel conseguem renderizar muito mais quadros por segundo. Mas em resoluções maiores, essa diferença vai desaparecendo. Assim, quando os jogos são renderizados em resolução 4K, a diferença é mínima. 

Conclusões

De maneira geral, a conclusão é a seguinte: computadores voltados para trabalho com tarefas pesadas, como renderização em 3D ou edição de vídeos em resolução 4K, se darão melhor com um processador top de linha da AMD do que com um da Intel do mesmo preço.

Por outro lado, se games em resolução 1080p forem um dos principais usos do computador, os processadores da Intel oferecem melhor performance pelo valor. Esse, no entanto, é um caso bem raro: há processadores bem mais baratos capazes de rodar jogos nessa resolução sem nenhum problema. 

Se você vai montar um PC para games com um processador de ponta da Intel, o mais provável é que você esteja pensando em resolução 4K. E, nesse caso, a diferença entre o chip da Intel e o da AMD é bem menor. Dessa maneira, fica evidente que a AMD tem um grande trunfo na manga contra a tradicional campeã do mercado de processadores para PCs.