Quem acompanha o universo da tecnologia de perto sabe que o mercado de smartphones é definido por tendências que surgem (às vezes do nada) e levam todas as principais empresas na mesma onda. Às vezes essas tendências passam; às vezes, não.

As duas ondas do momento são: telas com bordas finas e mais esticadas verticalmente e câmeras duplas. O Galaxy A8, primeiro grande lançamento do ano da Samsung no Brasil, segue essas duas tendências bem de perto.

Mas custando até R$ 2.400, será que vale a pena? O Olhar Digital passou algumas semanas com o Galaxy A8 – modelo menor, com tela de 5,6 polegadas – e, nos parágrafos abaixo e no vídeo acima, contamos para você o que achamos do aparelho.

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Design e tela

De cara, o que mais chama a atenção no Galaxy A8 é o visual. A tela do aparelho tem 5,6 polegadas, mas se você já pegou um celular de 5 polegadas na mão, pode acreditar que é quase a mesma coisa. Isso porque as bordas dele são bem mais finas que o normal.

A Samsung chama esse princípio de design de “display infinito”. Enquanto celulares comuns vêm com tela de proporção 16:9, o Galaxy A8 vem com proporção de 18,5:9. Assim, o painel ocupa a maior porção da parte frontal do celular, deixando pouco espaço para as bordas laterais, superior e inferior.

Não é tão “infinito” quanto o Galaxy S9, o parente mais próximo, mais caro e mais poderoso do A8. O S9 tem a tela ligeiramente arredondada nas laterais, o que, visualmente, reduz ainda mais as bordas. No A8, as bordas dos lados esquerdo e direito são bem mais visíveis.

O painel Super AMOLED tem resolução Full HD+ (2.220 por 1.080 pixels, com 441 pixels por polegada) e é um dos melhores que a Samsung já fez. O brilho tem um alcance bem amplo e as cores são bem fortes, com um ótimo contraste, mas sem parecer exagerado como alguns outros celulares da Samsung já fizeram.

O resultado é uma tela que fica muito bem visível em diferentes ângulos em relação ao olho e não deixa nada a desejar debaixo daquele sol forte ao ar livre. Até o sistema de brilho automático, que eu costumo deixar desligado na maioria dos celulares por ser quase sempre desastroso, funciona rapidamente e com transições bem suaves.

O restante do design é discreto e funcional. O Galaxy A8 não tem botões físicos na parte da frente, de modo que os controles de navegação ficam na tela (e eles podem sumir para deixar mais espaço para o conteúdo, se você quiser). O leitor de digitais fica na traseira e numa posição bem fácil de alcançar.

O alto-falante do A8 fica numa posição bem pouco usual: na lateral direita do smartphone, pouco acima do botão liga/desliga. Desse jeito, ao segurar o celular na horizontal para ver um vídeo, sua mão não vai tampar a saída de áudio.

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Teria sido melhor se o alto-falante tivesse sido colocado na parte da frente, fazendo o som sair em direção ao espectador. Na posição em que ele está, o som sai um pouco disperso, mas não chega a ser tão ruim quanto colocar o alto-falante na parte de baixo.

Além disso, o smartphone da Samsung mantém a tão querida entrada de 3,5 milímetros para fones de ouvido, tem uma porta USB-C, ambas na parte inferior do celular. Há duas gavetas no A8: uma na lateral esquerda, que guarda o chip SIM de operadora, e outra na parte de cima, que guarda o segundo chip e um cartão microSD, que pode ser de até 400 GB.

Para completar, o A8 possui proteção contra água, certificação IP68. Isto significa que, em tese, ele aguenta 30 minutos sob 1,5 metro de água doce. Mas não é recomendável testar esse limite. O A8 foi feito para sobreviver a acidentes com água ou uso na chuva, mas não deve ser levado para a piscina e muito menos para a água salgada do mar.

Performance e bateria

Vários elementos definem se um celular é rápido ou não, mas alguns têm mais peso do que outros. Falo especificamente do processador e da memória RAM, que, no Galaxy A8, não deixam a desejar, considerando a categoria intermediária que ele ocupa.

O processador do Galaxy A8 é um chip montado pela própria Samsung com oito núcleos, sendo dois deles voltados para tarefas mais simples, como enviar mensagens e alguns apps de redes sociais, de 1,6 GHz; e outros seis para tarefas mais pesadas, como games e streaming, de 2,2 GHz. A memória RAM é de 4 GB.

Avaliar a velocidade de um celular é difícil porque depende do ponto de vista do observador. Se você está acostumado com celulares top de linha, vai notar que o A8 não é tudo isso. É comum vê-lo soluçar em apps bem básicos, como Facebook, Twitter e Instagram, mas nada que atrapalhe muito a experiência.

Se você vem de um celular mais básico, como um Galaxy J ou um A5/A7 do ano passado, vai ver uma boa melhora. Jogos pesados como “AsphaltX” e “N.O.V.A. Legacy” rodam tranquilamente no A8, sem travamentos e sem esquentar muito. Mas não se assuste se, após alguns meses de uso, o estresse cobrar seu preço e o celular começar a rodar mais lentamente que o normal.

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Para tirar uma análise mais objetiva, rodamos no A8 dois aplicativos de avaliação de desempenho. No AnTuTu, ele fez 117.526 pontos. Já no Geekbench, o celular fez 1.498 pontos em single-core, que avalia o desempenho de um só núcleo do processador; e 4.150 pontos em multi-core, que avalia o desempenho dos oito núcleos em conjunto.

São números consideravelmente bons, na altura de um top de linha de dois anos atrás, como o Galaxy S7, e bem melhor do que concorrentes como Zenfone 4 e Moto X4. Como comparação, um Galaxy S8 faz 172.114 pontos no AnTuTu e 1.192 pontos de single-core e 6.724 em multi-core na análise do Geekbench. Isso apenas reforça a tese de que o A8 é “quase” um S8 com outra cara.

Isto nos remete à bateria. A unidade de energia do celular é de 3.000 mAh, o que não é pouco. Mas o processador e a tela grande consomem boa parte dessa energia toda. Em média, o celular dura umas 12 horas de uso moderado – isto é, oito horas de Wi-Fi, quatro horas de 4G, navegando por redes sociais, jogando, ouvindo música e vendo vídeos por streaming.

Para carregar, ele vai de 0% a 100% em cerca de duas horas. Em resumo, não é a melhor bateria do mundo. Em uma semana de uso intenso, você vai precisar carregá-lo ao menos uma vez por dia se não quiser ficar sem energia num momento delicado. Mas é difícil encontrar no mercado atual performances muito melhores do que essa por esse mesmo preço.

Software e segurança

Outro elemento que impacta na nossa relação com o smartphone é a usabilidade, definida pelo software. O sistema operacional é o Android 7.1.1 Nougat, customizado sob a chamada “Samsung Experience 8.5”, software que substitui a malfadada TouchWiz que, por anos, fez o trabalho de deixar o Android mais pesado nos celulares da coreana.

A customização que a Samsung aplica ao Android agora é bem mais leve e otimizada, mas ainda não é perfeita. Há uma série de recursos redundantes, exagerados ou puramente desnecessários na interface, mas as animações e transições são bem mais rápidas, o que contribui para tornar a usabilidade mais leve como um todo.

O grande problema continua sendo bloatware. Ao ligar o Galaxy A8, você se depara com uma lista de apps sugeridos pela Samsung que, em outras versões do celular, seriam incluídos obrigatoriamente. Agora, você até tem a opção de negar a instalação desses apps, mas é só um placebo. Mesmo que você negue a instalação de todos eles, o Galaxy A8 ainda vem com aplicativos pré-instalados que você não pediu.

Alguns são interessantes, como um explorador de arquivos nativo e um gravador de voz. Mas a maioria é redundante, como um browser chamado simplesmente “Internet” (desnecessário quando o Android já vem com Chrome) e o de galeria (já existe o Google Fotos). Sem falar nos apps da Microsoft, que podem ser inúteis se você não tem Office 365. Por conta de tudo isso, dos 64 GB de memória interna prometidos na embalagem, só 51 GB chegam livres para o usuário.

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Mas nada supera a Bixby, assistente “inteligente” da Samsung que estreou no S8. Digo “inteligente”, assim, entre aspas, porque de inteligente ela não tem nada. Ao contrário do Google Assistente, a Bixby não fala português e nem tem integração com outros serviços do Google para garantir respostas melhores e mais rápidas.

Além disso, só dá para usar a assistente em suas limitadíssimas funções se você fizer login em sua conta da Samsung – se é que você tem interesse em registrar mais uma conta online que traz poucos benefícios em relação às outras centenas de contas que um usuário comum de internet é obrigado a carregar para todo lado.

O software também traz alguns recursos bacanas de segurança, como o “Pasta segura”, que, como o nome diz, coloca alguns apps e dados do usuário numa área protegida por senha; e um scanner facial bem rudimentar baseado puramente na câmera, sem contar com todos os recursos de um iPhone X, por exemplo.

Desbloquear o A8 com o rosto é relativamente fácil e rápido, mas não passa muita confiança. Em nossos testes, tentamos desbloquear o celular usando uma foto e não conseguimos, mas é melhor usar o leitor de digitais, por precaução, já que ele continua sendo mais confiável de qualquer maneira.

Câmeras

Além da tela, outra coisa que chama muito a atenção no Galaxy S8 é o conjunto de câmeras. Na parte de trás há um sensor de 16 MP e abertura de f/1.7. Na frente, são duas câmeras: uma de 16 MP e outra de 8 MP, ambas com f/1.9 de abertura. Nada de estabilização óptica ou qualquer outro recurso de hardware.

A câmera dupla frontal serve para aplicar o efeito “foco dinâmico”, que deixa o plano de fundo da imagem borrado enquanto destaca o primeiro plano. É o que fotógrafos chamam de efeito “bokeh”, normalmente aplicado com grandes câmeras profissionais com lentes de longo alcance.

Outros smartphones já fazem isso, como o Galaxy Note 8, os iPhones 7 Plus, 8 Plus e X, além do Moto X4, Moto Z2 Force, Moto G5s Plus e o recém-lançado Galaxy S9+. A diferença é que todos estes celulares têm cameras duplas na parte de trás, e não na parte da frente como o Galaxy A8.

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No nosso teste, o efeito de foco dinâmico funciona bem. O software altera a nitidez do segundo plano rapidamente e quase sempre consegue separar bem o que está em primeiro plano do que está no fundo, até mesmo detalhes complicados como óculos e fios de cabelo. Mas nem sempre.

Depende do que está no seu plano de fundo e a diferença de iluminação. Em fotos noturnas, o A8 tem mais dificuldade para acertar a separação dos planos. Durante o dia é mais fácil, mas se o que está atrás de você é um objeto muito cheio de detalhes, é comum ver os planos se misturarem.

De um modo geral, porém, o efeito não é nem melhor e nem pior que o de outros smartphones com câmera dupla atrás. Supera com folga os da Motorola, que têm série dificuldade para acertar essa exposição. Mas não é muito diferente do que o Galaxy Note 8 consegue fazer. A tecnologia ainda é nova e, em muitos casos, ainda precisa ser refinada para chegar a níveis realmente satisfatórios.

Fora isso, não há muito o que dizer a respeito das câmeras do Galaxy A8. A definição das cores é bem realista, com pouco ruído mesmo em ambientes escuros. Com frequência, porém, os contornos de pessoas e objetos ficam levemente borrados, prejudicando um pouco a definição de algumas imagens.

O balanço de branco também pode sair desequilibrado em ambientes de muito contraste. O HDR está lá, vem ativado por padrão, mas faz pouca diferença quando você quer fotografar alguma coisa sob a sombra contra a luz. Mas, de um modo geral, a câmera é bem eficiente.

Em nenhum teste vimos qualquer defeito grave, como aberrações cromáticas ou excesso de ruído em fotos com pouca luz. Pelo contrário: nestes casos, o Galaxy A8 surpreende na maioria das situações. Há ainda um modo de fotografia mais completo que permite alterar algumas configurações, aperfeiçoando o resultado quando o preset automático não é bom o bastante.

Veja algumas fotos tiradas com o Galaxy A8 abaixo.

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Conclusão

O Galaxy A8 pode ser encontrado no site da Samsung custando R$ 2.400. Em uma rápida pesquisa por sites de varejo, dá para encontrá-lo com preços variando entre R$ 2.000 e R$ 2.200. Nessa faixa de preço, dá para comprar outros modelos como o Zenfone 4 de 6 GB de RAM e os tops de linha Moto Z2 Force e LG G6.

Em termos de performance, o Galaxy A8 não é nenhum monstro. Ele não supera os já citados concorrentes em testes de velocidade e apresenta alguns soluços um pouco incômodos na navegação por apps bem básicos. Mas nada que chegue a deixar o usuário estressado com vontade de jogar o celular pela janela. Ou seja, nada de realmente especial neste quesito.

O que o Galaxy A8 tem de especial é, em primeiro lugar, a tela, que além de ser numa proporção maior que a dos concorrentes, está no mesmo nível que a de celulares top de linha; e a câmera dupla frontal com efeito de foco dinâmico, o que não existe em nenhum outro smartphone vendido no Brasil.

O Zenfone 4 Selfie até possui câmera dupla na parte da frente, mas ela não tem a mesma função. No caso do celular da Asus, as duas câmeras só servem apara alternar entre um ângulo maior ou menor, capturando mais ou menos conteúdo em cada foto. Foco dinâmico só existe em celulares com câmera dupla na parte traseira.

Já a tela de proporção maior pode ser encontrada em celulares mais baratos, como o LG Q6, ou da mesma faixa de preço, como o G6. Na categoria top de linha, essa característica é mais comum, aparecendo também no Galaxy S9. Em breve, será possível ver celulares com tela de 18:9 em muitos outros formatos e preços, ao passo em que a tecnologia se torna mais popular.

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O que nos leva à pergunta: o Galaxy A8 vale a pena? Trata-se de um celular muito pouco excepcional no quesito câmera traseira e performance. Se você só precisa de um celular razoável, e não faz questão de câmera dupla frontal e tela de 18,5:9, há opções melhores e mais baratas no mercado, como os já citados Moto Z2 Force, LG G6 e Zenfone 4 de 6 GB de RAM.

Mas se você gostou muito da ideia da câmera frontal dupla e da tela esticada, e decidiu comprar o Galaxy A8, não vai se arrepender. O smartphone cumpre praticamente tudo o que promete e não decepciona em quase nada, equilibrando bom desempenho em aspectos cruciais, como bateria, performance e câmera, com recursos exclusivos que funcionam bem.

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