A privacidade é o direito cívil que garante o controle da exposição e disponibilidade de informações pessoais, individuais e intransferíveis. E ela vem, cada vez mais, sendo discutida (e ameaçada). No último século, a tecnologia vem abruptamente abstraindo o que chamamos de mundo real e, de maneira análoga, constrói um mundo digital em que o acesso às informações acontece de maneira incrivelmente rápida por meio da Internet. O mundo real e o universo digital começaram a criar fronteiras indivisíveis e jurisdições que são frequentemente discutidas por orgãos de regulamentação da rede.

Todos nós, no mundo digital, somos chamados de usuários e ganhamos avatares a cada serviço utilizado para nos relacionarmos e, assim, nos agruparmos em comunidades e fazermos negócios de interesse mútuo. No momento em que nos registramos em qualquer serviço, acordamos com termos de uso e o compartilhamento de informações pessoais. É uma simples escolha: concordar com as dezenas de condições ou não utilizar. Não temos tempo de escolha para consultar um advogado que avalie se alguma condição ali apresentada pode comprometer a sua confidencialidade e integridade. Basicamente, estes serviços são mandatórios para continuidade e agilidade das relações “reais”.

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E nossos rastros estão em todo lugar. Afinal, diariamente, eu e você consumimos ao menos um produto ou serviço pelos quais precisamos pagar. Vou dar um exemplo meu. Costumo frequentar cafés e, na hora de pagar a conta, são poucas opções: dinheiro, cartão de crédito ou débito. Raramente uso dinheiro. Prefiro o cartão, pela facilidade. Mas… toda vez que passo meu cartão, também deixo informações que me identificam individualmente. O processador de cartões e a franquia de cafés conhecem os detalhes do meu histórico de transações: localização, data e hora, quantia e preferências.

E tem mais – em geral, utilizo o Wi-fi e para isso é necessário que eu me identifique pelo número de documento, e-mail e telefone. Não demora muito e recebo uma nova mensagem: “Você acaba de ganhar um café grátis! Volte sempre e acompanhe nossos cafés gourmetizados por meio das nossas redes sociais.”. Neste exato e curto momento, foi estabelecido um canal de relacionamento entre mim e o lojista.

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Não quero perder minha privacidade! Vou sacar todo o meu dinheiro, guardar debaixo do colchão até que meus dias acabem na terra!!! Mas e o meu café!? Simples, compro uma máquina! Sento em frente ao computador, acesso o navegador e procuro a melhor máquina de café expresso do mundo. Diversas opções aparecem e então começo ler a opinião dos usuários e inclusive vídeos sobre cada um dos modelos e grãos de diversos lugares do mundo. Descubro que essa máquina só é vendida no outro lado do oceano. Enquanto penso em como chegar lá, recebo um e-mail: “Promoção! Compre sua máquina de café agora mesmo, pague no boleto e receba em casa!”. Bingo! Clico, compro, informo meu endereço, imprimo o boleto, vou no banco pagar e aproveito para sacar todo o saldo e encerro minha conta, afinal o banco sabe muito (quase demais) sobre mim.

Quando chego em casa feliz com meu brilhante plano de máxima privacidade, me dou conta de que fui vítima da mesma cilada. Como descobriram meu e-mail? Além de tudo, eu passei o endereço de casa!

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Não há como fugir! Este simples relato do cafezinho reflete o quanto involuntariamente estamos conectados com simples atos cotidianos. A tecnologia é um caminho sem volta para nossa evolução e a segurança e privacidade das informações é assunto relevante para todos nós. Diversas iniciativas e regulamentações em vigor determinam o período de armazenamento de acordo com os tipos de dados e nacionalidade dos cidadãos. Empresas de diversos portes e competências debruçam-se, todos os dias, para tornar o mundo conectado mais seguro. No “mundo real”, somos cidadãos e – nas redes – criamos usuários avatares. Os orgãos reguladores visam proteger os cidadãos e punem os responsáveis em caso de abuso na manipulação dos dados, mas você irá concordar que ainda estamos longe do consenso.