Na última quarta-feira, 6, o Facebook, por meio de um comunicado de Mark Zuckerberg, anunciou um plano novo para o futuro da companhia. A rede social azul, que quase todo o mundo conectado usa, deixará de ser o grande foco da empresa, que passará a dar maior valor para aplicativos de mensagens com uma aposta forte em criptografia.

Antes de tudo, é importante notarmos que não é por que a empresa afirmou que vai mudar seu foco que, de fato, vai. Existe uma chance de que Mark Zuckerberg tenha apresentado seu projeto sem de fato preparar um plano de monetização para sua nova visão de privacidade. Hoje, a empresa se sustenta coletando toneladas de dados de seus usuários a partir de todas as fontes possíveis para servir anúncios direcionados, e isso simplesmente não é viável quando suas informações passarem pelos servidores da empresa completamente cifrados. Um novo modelo de negócios precisará ser apresentado.

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Vamos supor que a empresa tenha planejado direito seu novo caminho e realmente coloque seu plano em prática. Isso significaria uma mudança grande de rumo para a empresa, o que também representaria que Mark Zuckerberg finalmente entendeu que sua rede social está saturada.

Não é difícil entender esse conceito. O Facebook já tem mais de 2 bilhões de pessoas conectando-se à rede diariamente: isso significa que quem já tem acesso à internet e interesse em ter uma conta no Facebook, já tem. O espaço para crescimento é mínimo, portanto, e o movimento que vemos é justamente o oposto: nos mercados mais maduros, como Estados Unidos e Europa, justamente as regiões onde cada usuário rende mais à empresa, a plataforma tem registrado perda de usuários.

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A expansão para áreas mais periféricas da economia global tende a não compensar financeiramente a perda de público nos mercados centrais. Isso leva Mark Zuckerberg e seus colegas a repensar algumas coisas para manter esse público que rende mais aos cofres da companhia dentro de seu “curral”. Isso também significa entender que o Facebook como ele existe hoje não é mais o futuro: ele é um passado que levou a companhia a grandes números e feitos, mas que claramente dá sinais de desgaste.

Um dos grandes motivos que fez com que o Facebook perdesse boa parte de sua popularidade foi a percepção de que o que a empresa faz com os dados de seus usuários talvez não seja ilegal em muitos dos casos, mas beira a imoralidade e o descaso. Isso foi evidenciado com alguns escândalos recentes, como o caso da Cambridge Analytica e outros problemas que se acumularam posteriormente, como uma brecha que permitiu que contas de 50 milhões de usuários fossem indevidamente acessadas.

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As pessoas também estão ficando mais inteligentes em relação à exposição na internet. O sucesso do formato Stories, inaugurado com o Snapchat e replicado com maestria pelo Instagram, mostra que usuários de plataformas sociais preferem expor suas vidas de forma mais restrita, protegidos pela efemeridade e a garantia de que aquilo vai deixar de ser público dentro de algumas horas. O Facebook também percebeu que cada vez menos as pessoas estão postando coisas pessoais em sua rede social, diminuindo a eficácia da coleta de dados e tornando sua atividade online menos rentável.

Todos esses ingredientes misturados formam uma sopa difícil de engolir para a empresa, que se viu numa situação em que ficou claro que, sim, a rede social até pode crescer por mais algum tempo no formato em que ela existe hoje, mas esse crescimento não parece mais sustentável.

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Daí a necessidade de reformular seus negócios. Ao apostar em aplicativos de mensagens e criptografia, o Facebook espera atrair um novo público: aquele que está preocupado com privacidade, que está preocupado na garantia de que seus dados não serão interceptados indevidamente. A empresa está atrás de quem fica incomodado em saber que se você mandar para um amigo uma mensagem com a frase “estou pensando em viajar”, você será bombardeado de banners de agências de viagem.

Mais do que pensar em pessoas, ao anunciar essa nova proposta, o Facebook pretende se tornar uma plataforma adequada para empresas, que dependem de criptografia para que não vazem o conteúdo de comunicações internas ou de conversas com clientes. Isso é especialmente importante, visto que a companhia de Zuckerberg já demonstrou repetidas vezes interesse em ampliar sua participação em e-commerce e pagamentos digitais.

Isso tudo significa que a rede social Facebook vai morrer? Certamente não, especialmente enquanto ainda continuar movimentando bilhões de dólares por trimestre. Mas significa que o Facebook sabe que ela não tem como se sustentar no longo prazo diante do seu tamanho e da mudança do perfil dos usuários de internet. Agora ficará nas mãos de Zuckerberg fazer com que sua nova visão renda financeiramente o que os acionistas esperam do Facebook, o que pode ser um desafio, já que vai contra tudo o que sua companhia pregou até hoje e ainda não parece haver um plano claro de ação. Se ele vai conseguir tirar essa ideia do papel, só o tempo dirá.