Uma startup do Texas diz que será capaz de imprimir casas até o fim do ano. A tecnologia tem potencial para ajudar a resolver questões de moradia, mas enfrenta obstáculos técnicos e de regulamentação. “Não é mais um projeto do laboratório de ciência da escola”, explica Jason Ballard, cofundador e diretor-executivo da Icon, uma empresa de tecnologia de construção.

A companhia planeja lançar a impressora na segunda-feira (18). O equipamento pode produzir bangalôs de até 186 m² — quase tão grandes quanto uma casa média norte-americana, que tem 223 m². A impressão de abrigos simples já ocorreu na Europa e nos EUA, mas a inovação tem sido encarada por alguns como uma promessa, não uma realidade.

Fundada há dois anos por Ballard, a Icon arrecadou US$ 9 milhões em capital e diz que esse será seu primeiro esforço para obter receita significativa. Um ano atrás, sua impressora só poderia construir uma estrutura de 46,5 m² — ou seja, um lar temporário, no máximo.

A Cielo Property Group, desenvolvedora com sede em Austin, pretende usar a impressora Vulcan II, da Icon, para produzir habitações econômicas na cidade até o fim do ano. Há cerca de um ano, a Icon construiu lá uma casa de 32,5 m² e a tecnologia foi aprovada pela prefeitura local. Isso poderia facilitar o caminho para os projetos da Cielo.

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Ainda assim, os construtores devem enfrentar ceticismo sobre a aparência das novas residências. Suas camadas são colocadas uma de cada vez — para os mais críticos, as paredes ficam parecidas com as dobras de um cão da raça sharpei.

Obstáculos práticos

A tecnologia enfrenta outros obstáculos práticos. Aumentar a produção e o envio de máquinas caras e pesadas é positivo, mas é primordial que as unidades sejam resistentes a ventos, chuvas, mudanças de temperatura e outras variações externas e internas. “Você não está em um ambiente estéril de laboratório”, lembra Scott Norman, diretor-executivo da Associação de Construtores do Texas. “Somos, por natureza, uma indústria conservadora”, afirma.

A impressora 3D da Icon é controlada por um tablet e requer poucas pessoas para operá-la e supervisioná-la. A máquina, que pesa 3.800 libras, espreme concreto como se confeitasse um bolo. Ela substitui os trabalhadores que montam a casa e instalam chapas de rocha, isolamento e acabamentos exteriores, bem como produz menos resíduos do que um canteiro de obras tradicional.

Segundo a Icon, custa cerca de US$ 20 mil e leva vários dias para imprimir uma casa de 186 m² em 3D. Depois de calcular o custo do terreno e dos acessórios, como encanamentos e acabamentos, isso equivale a uma redução de cerca de 30% no custo total, diz Ballard. Em Austin, uma residência custa em média US$ 400 mil. É possível, então, reduzir seu preço em US$ 120 mil, o que é uma proposta interessante. Vale enfatizar que essa redução não considera os lucros das construtoras.

Várias empresas em todo o mundo ampliam esforços para construir casas e outras estruturas, como quartos de hospitais e celas, com impressão 3D. É o caso da Mighty Buildings, com sede em Bay Area. Ela arrecadou US$ 10 milhões para imprimir casas — mas ainda não divulgou o desfecho do projeto.

Escassez de trabalhadores

E mais: casas impressas em 3D podem resolver problemas da indústria. Os custos de construção dispararam em razão da escassez de trabalhadores em alguns países e do aumento nos preços dos materiais. Nos últimos anos, cerca de 1,2 milhão de casas foram construídas nos EUA, um número mais de 20% menor do que a média histórica. 

Essas residências não são muito populares e, às vezes, causam estranhamento. “Algumas das [casas] que vi seriam magníficas no Museu de Arte Moderna (MoMA), mas eu não me imaginaria vivendo nelas”, diz Margaret Whelan, fundadora e diretora-executiva da Whelan Advisory, que assessora a indústria de construção civil.

Para Ballard, o maior desafio técnico enfrentado pela Icon é ter concreto para misturar e bombear automaticamente nas máquinas — os trabalhadores têm de misturá-lo manualmente e carregá-lo com baldes. “Já explodimos muitas bombas”, diz ele. “A ponto de ir concreto líquido em todas as superfícies e todos os humanos no ambiente.”

Jonathan Lawless, vice-presidente de desenvolvimento de produtos e moradias acessíveis da Fannie Mae, diz que trabalha para garantir à indústria de empréstimos que casas impressas em 3D sejam uma aposta menos arriscada do que casas convencionais porque o concreto resiste a desastres naturais e leva a custos menores de energia. “Queremos ter certeza de que, quando as pessoas pensarem em uma casa impressa em 3D, não a associem a plástico barato”, pontua.