Desde os anos 1990 a Microsoft não acerta a mão em um navegador. O Internet Explorer vai entrar para a história da tecnologia mais como um meme sobre lentidão do que como um navegador que foi uma página importante na evolução da tecnologia pessoal. O Edge, da mesma forma, não conseguiu convencer o público em seus 4 anos de existência.

Isso criou uma situação de pressão dentro da Microsoft, que forçou uma mudança drástica. A empresa, que historicamente foi a maior inimiga da filosofia do código-aberto (Steve Ballmer chegou a chamar o Linux de câncer), precisou se render ao Chromium, o projeto open-source que serve como base do Google Chrome. E isso criou uma situação inédita: Microsoft e Google, que sempre se manifestaram agressivamente uma contra a outra, hoje estão trabalhando lado a lado.

O que isso significa é que mesmo com essa rivalidade histórica, hoje os esforços da Microsoft para fazer um browser melhor também resultarão em melhorias para o Chrome. Da mesma forma, quando o Google também terá como função desenvolver novidades que afetarão positivamente o Edge, da Microsoft.

Essa parceria não veio sem atritos, no entanto, já que adoção do Chromium e colaboração com um projeto de código-aberto forçou algumas mudanças na cultura da Microsoft. O site The Verge relata algumas situações curiosas: obviamente, a Microsoft privilegia seus próprios produtos para uso interno, como Word, Excel para produtividade e o Microsoft Teams para organização e comunicação. No entanto, agora os engenheiros da empresa precisaram se render a outras plataformas para viabilizar a interação com o resto da comunidade de desenvolvedores do Chromium, e isso significa usar o Hangouts em vez do Teams para permitir a comunicação e cooperação.

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Os primeiros resultados dessa colaboração já devem começar a ser sentidos nas próximas versões dos navegadores baseados no Chromium. Como o Edge tinha muito foco na experiência em telas sensíveis ao toque, os engenheiros da Microsoft estão levando esse know-how para o projeto Chromium, o que significa que em breve poderemos ver essas melhorias no Chrome, no Opera e similares. Entre as novidades que a Microsoft está ajudando a construir estão uma nova forma de selecionar data ou hora em um formulário web de forma mais amigável ao toque. Além disso, a empresa também trabalha para melhorar o suporte ao teclado touch do Windows no Chromium.

É uma diferença gritante em relação ao que foi visto nos últimos anos envolvendo as duas empresas. A Microsoft e os apoiadores do Windows Phone atribuem, em parte, a derrocada do sistema à falta de suporte do Google à plataforma. Isso porque a empresa de buscas, por exemplo, jamais se deu ao trabalho de desenvolver um aplicativo do YouTube, do Google Maps, do Gmail e de tantos outros serviços para a loja da Microsoft. Mais do que isso: a empresa fazia tudo que estava ao seu alcance para impedir que a Microsoft criasse apps não-oficiais.

As duas empresas também tiveram alguns entreveros marcantes relacionados ao Project Zero, do Google, no qual especialistas de segurança da empresa buscam falhas em softwares de outras companhias. Mais de uma vez o Google expôs vulnerabilidades do Windows antes que a Microsoft realizasse as devidas correções, o que irritou profundamente os

Agora é ver até onde essa parceria entre duas empresas que foram tão inimigas no passado será leal. O Google tem a fama de sabotar navegadores rivais fazendo com que suas propriedades online altamente populares, como os já mencionados YouTube e Maps, não funcionem tão bem em navegadores rivais, o que serve de incentivo para que os usuários utilizem o Chrome. A Mozilla denuncia esse comportamento há anos com o Firefox, afirmando que o Google sabota os competidores propositalmente, com recursos do Gmail e Docs parando de funcionar subitamente.

Por enquanto, o momento é de otimismo. Duas das maiores empresas de tecnologia do mundo estão trabalhando juntas em um projeto que tende a melhorar dois dos principais navegadores do mercado. No entanto, ao mesmo tempo em que são parceiras, Microsoft e Google continuarão sendo concorrentes e será curioso observar como cada empresa vai diferenciar o seu browser do adversário, já que suas fundações, na prática são as mesmas. Essa disputa será leal? Qualquer que seja o caminho seguido a partir de agora, certamente o fato de as duas empresas o estarem trilhando juntas já é um capítulo totalmente inédito na história da tecnologia.