Poucas tecnologias tiveram tantos avanços nos últimos anos quanto a de reconhecimento de voz, e há um motivo para isso. A indústria está apostando pesado na voz como a próxima grande interface entre humanos e máquinas, mas até onde esse método de interação com computadores pode chegar?

Você já pode perceber que o reconhecimento de voz e o uso da fala entrando aos poucos nas nossas vidas. Começa, claro, com o assistente virtual incorporado ao seu celular, seja ele Google Assistente, seja ela a Siri. Aos pouquinhos, elas foram ganhando cada vez mais funcionalidades e se integrando mais e mais a aplicativos e se expandindo para além do celular.

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Hoje, já é possível comprar caixas de som equipadas com assistentes virtuais que interagem e entendem ordem a qualquer momento do dia, sem que você precise ter um dispositivo em mãos. E cada vez mais aparelhos são equipados para se integrar a assistentes para que seja possível comandá-los só por um comando de voz. Imagine: “Ok, Google, reinicie o roteador”. Isso já é uma realidade.

A interface de voz parece ser fundamental para um conceito que norteia boa parte da indústria, que consiste na “computação invisível”. É a ideia que, em algum momento, não dependeremos mais de telas para realizarmos a maior parte das interações com máquinas de nossas vidas. Basta falar, e as coisas acontecem, sem precisar digitar comandos, sem precisar clicar em nada, sem precisar tocar em nada.

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Existe uma vantagem evidente no uso da voz para comandar máquinas. Por ser um método de input absolutamente natural para a humanidade, mesmo uma pessoa completamente ignorante em tecnologia pode aproveitá-lo sem muitos sustos. Quantos pais e avós que se atrapalham com o celular na mão já não se acostumaram a falar “Ok, Google, crie um alarme para as 8 da manhã?” ou outras ações simples similares que não seriam possíveis se fosse necessário vasculhar um aplicativo atrás adequada?

E, aos poucos, o usuário está se acostumando a interagir com computadores por voz. Uma pesquisa realizada por uma empresa chamada Pindrop, especializada em autenticação por voz com base em uma entrevista conduzida com 4.057 pessoas nos Estados Unidos pela internet mostra que a maioria já está adaptada a usar a fala para dar comandos aos seus eletrônicos. A pesquisa mostra que 63% dos entrevistados já se comunicam com seus dispositivos por meio da voz, sendo que o uso doméstico é o que mais ganha adesão do público.

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O mais interessante, no entanto, é que muitos deles acreditam que dentro de algum tempo, os teclados se tornarão obsoletos. A pesquisa nota que quase metade dos entrevistados (48%) dizem que acreditam que teclados convencionais praticamente deixarão de ser utilizados até 2023, dando lugar à interface de voz como o principal método de interação com máquinas.

A extinção do teclado parece improvável

Tecnologias não somem do dia para a noite, por mais que outra melhor e mais acessível apareça. A tendência é que elas convivam por longos períodos de tempo, se adaptem, e fiquem mais especializadas.

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O teclado e a digitação convencional ainda terá um papel importante na produção de textos que tenham um caráter mais formal, porque a linguagem falada ainda é naturalmente mais informal, interrompida e cheia de falhas. As pessoas raramente conseguem manter uma linha de raciocínio completamente coesa por um parágrafo inteiro, o que tornaria a produção de texto apenas por ditado completamente caótica. A possibilidade de edição do pensamento para transformá-lo em um texto inteligível é o que permite a criação de textos coerentes, porque o raciocínio humano é naturalmente desorganizado.

Da mesma forma, o teclado ainda é primordial para outras funções que vão além da digitação. Um editor de vídeo, por exemplo, ficaria perdido na hora de cumprir suas tarefas apenas com comandos de voz: algumas coisas é simplesmente mais fácil fazer ao utilizar um teclado e um mouse. Neste ponto, no entanto, um teclado especializado com atalhos poderia ser mais eficaz do que um “QWERTY” convencional.

O fato é que sempre haverá usos para métodos de input diferentes, e o teclado não deixará de existir enquanto houver aplicações na qual ele permita melhor desempenho do que os comandos por voz. Basta lembrar do temor de que os tablets acabariam com notebooks quando o primeiro iPad foi introduzido, e que acabou não se confirmando. O que realmente aconteceu foi que, quem não tinha necessidade de um laptop adquiriu um tablet, mas quem dependia de funções mais avançadas continuou preferindo notebooks normais.

Ainda que o teclado nunca seja completamente substituído pelos comandos de voz, no entanto, a tendência é que sua importância seja, sim, amenizada com o passar do tempo. Com maior diversidade de dispositivos, quem só usava um teclado convencional por obrigação terá novas alternativas para realizar tarefas que, no fundo, não dependem de digitação. Afinal, quando olhamos com cuidado, ninguém realmente precisa entrar no aplicativo de relógio do seu celular e digitar “8:00” para configurar um despertador se você simplesmente pode falar para o seu celular fazer isso com mais rapidez. E no fim das contas, algumas pessoas só querem isso de sua interação com produtos tecnológicos.