Você já experimentou pesquisar o termo “terapia online” no Google? Logo de cara, uma série de opções de plataformas que oferecem o serviço aparecem na primeira página da busca — algumas inclusive com aplicativos dedicados na App Store e na Google Play. O serviço oferecido? Sessões de psicoterapias online via mensagens de texto, áudio e videochamadas a partir de 60 reais — preço atrativo; bem abaixo do valor médio cobrado em uma sessão presencial. 

Daniela Chohfi, cofundadora e CMO da OrienteMe, gosta de apresentar seu aplicativo como uma alternativa ao público. “Para quem prefere fazer a terapia presencial, ótimo, faça. Queremos promover a saúde mental em primeiro lugar. Pra quem prefere a modalidade online, somos uma opção”, explica. 

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Com pacotes a partir de R$140 por duas semanas de terapia, a OrienteMe conecta paciente e profissional que sejam compatíveis. Esse match se dá a partir do perfil do psicólogo e suas habilidades, que são cadastrados no sistema do serviço, com as características do paciente e do momento pelo qual está passando — perda de parente, divórcio ou apenas uma busca por cuidado com a saúde mental.

“Percebemos que a compatibilidade entre paciente e psicólogo é muito importante. A pessoa nunca fez psicoterapia, vai a um psicólogo por indicação e não se identifica com aquele profissional — sendo que já está em sofrimento. Isso gera um trauma”, pontua ela. 

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Já no Zenklub, outra grande plataforma do gênero, quem faz a escolha é o paciente. Com alguns filtros para selecionar profissionais a partir do tipo de problema, valor da sessão de 50 minutos é de R$60. O serviço oferece uma apresentação para cada especialista, em texto e vídeo, e disponibiliza avaliações anônimas feitas por quem já foi atendido por aquele profissional. 

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As plataformas online trazem comodidade ao paciente; não é necessário marcar horários ou se locomover até um consultório — o que é especialmente útil em localidades mais afastadas ou municípios menores, onde a oferta do serviço é pequena ou inexistente.

Iury Florindo, psicólogo do Zenklub, que atua em psicoterapia online desde 2016, ressalta que a alternativa quebra obstáculos como timidez e insegurança. “Existem pessoas que têm vergonha de mostrar o rosto, ainda mais com o estigma que existe sobre tratamento psicológico em geral. Também há aquelas que residem em cidades muito pequenas e ficam inseguras em ser atendidas por alguém da mesma localidade”. Segundo o profissional, existem ainda casos de brasileiros que moram em outros países e preferem fazer terapia em sua língua materna. 

Renata Tavolaro atua há 26 anos na área, tanto presencialmente quanto por meio de aplicativos, e afirma que a psicoterapia por mensagem dá, sim, resultados. “Uma das grandes vantagens é que o paciente pode falar no momento em que ele está passando por uma determinada situação. No calor do momento, ele abre o aplicativo e coloca tudo o que está sentindo. Muitas vezes, isso faz com que progressos ocorram mais rápido. Tem paciente que precisaria de dez sessões presenciais para compartilhar um problema sexual, por exemplo. Na terapia online, ele já compartilha isso nos primeiros contatos”. 

Por sua vez, Iury Florindo acredita que a preferência pelo atendimento por vídeo ou mensagem de texto deve ser do profissional. “Eu prefiro fazer atendimentos por chamada de vídeo, ou pelo menos por chamada de voz. O texto é pobre nesse sentido, nos faz perder nuances do fenômeno que são importantes para o profissional. Ainda mais atualmente, quando o hábito textual das pessoas é tão distinto”. 

E os resultados? São os mesmos?

Em uma psicoterapia, a relação estabelecida entre o terapeuta e o paciente é considerada central ao tratamento. Quando é problemática, há maior dificuldade para se obter bons resultados. 

No campo acadêmico, estudos como o de Maria Adélia Minghelli Pieta [foto abaixo], doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apontam que a atividade virtual não prejudica essa aliança. “A telepresença, essa presença virtual via videoconferência, se assemelha muito a uma presença real. Em terapia textual, também não é correto dizer que a relação terapêutica fica prejudicada”, explica.

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Ainda assim, as diferenças existem. Em sua pesquisa, Maria Adélia reuniu dois grupos de 12 pacientes. Durante três meses, enquanto um conjunto recebia sessões individuais presenciais, o outro realizava apenas atendimentos virtuais. Com os resultados em mãos, a pesquisadora confirmou que, no atendimento virtual, há um aumento da desinibição do paciente e um incentivo a uma relação mais simétrica. “A relação terapêutica na rede ficava menos hierárquica. A figura do terapeuta, menos imperativa”.

Alguns profissionais fazem ressalvas ao serviço, principalmente em relação à psicoterapia por mensagem de texto. Como o profissional saberá o estado do paciente, se está confortável, em ambiente silencioso, prestando a devida atenção no profissional são algumas questões apresentadas pelos mais críticos. A terapia por videochamada, por sua vez, é mais consolidada.

Em casos emergenciais, auxílio médico ou presencial ao paciente ainda é preferível e deve ser recomendado pelo profissional, se identificar necessidade. Na Inglaterra, por exemplo, onde a psicoterapia é oferecida pelo serviço público de saúde, “casos de sintomatologia de moderada a leve de ansiedade e depressão são atendidos online. Casos de sintomatologia grave são atendidos presencialmente”, conta Maria Adélia, que viajou ao país para concluir sua pesquisa. Iury também pontua que, segundo Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP), vítimas de violência devem receber serviços presenciais. 

Regulamentação

Em 2012, o CFP regulamentou o atendimento psicológico on-line e demais serviços realizados por meios tecnológicos de comunicação a distância. No ano passado, a Resolução 11/2018 foi publicada, atualizando as regras da modalidade. Anteriormente, os profissionais eram obrigados a estar vinculados a um site cadastrado para poder prestar esse serviço. A partir de novembro de 2018, no entanto, essa obrigatoriedade foi derrubada. “Com a nova resolução, o profissional de Psicologia será responsável pela adequação e pertinência dos métodos e técnicas na prestação de serviços, não havendo necessidade de vinculação a um site”.

O crescimento das plataformas de terapia virtual traz mais opções para a pessoa que procura ajuda psicológica. Mas, como sempre, é importante tomar cuidado com o que se compra. Maria Adélia ressalta que a internet pode potencializar um problema antigo na área, que é a falta de preocupação com as credenciais do terapeuta. E relembra: qualquer um pode avaliar o registro e a aptidão do profissional para oferecer psicoterapia.  

Além disso, é importante verificar o discurso da empresa e o tipo de compromisso que é assinado entre as partes, de forma a não cair em falsas promessas que banalizam e desvalorizam a atividade terapêutica. “Se a ética subjacente a essas plataformas for de acordo com o Código de Ética da profissão, não há nenhum problema”, afirma Maria Adélia. “Só vai facilitar a vida do paciente e do terapeuta”. 

*colaborou Henrique Freitas

*editado por Cesar Schaeffer