Todos nós adoramos listas. É parte integrante de nossa paixão por cinema. Fazer listas, e principalmente discordar das que foram feitas por outros, é e sempre será uma de nossas atividades favoritas. Ou estou enganado?

É praticamente impossível uma lista, qualquer que seja, agradar em cheio a todos. Sempre vai haver discordâncias, o que é saudável, e raramente haverá quem concorde 100% com qualquer uma delas, a não ser que seja minúscula, com cinco filmes ou menos e limitada a um universo muito pequeno (os três filmes de James Dean rankeados, por exemplo). Daí a graça em perder algumas horas elaborando listas de todos os tipos.

No entanto, o site IndieWire caprichou em seu direito de desagradar. Sua lista de 100 melhores filmes do século 21 tende a deixar furiosos tanto aqueles para quem só existe o Universo Marvel como os que preferem um cinema mais intelectualizado, autoral.

Comecemos pelo primeiro lugar: Moonlight ganhou o Oscar de melhor filme de 2017 e trata de representatividade. É um filme antirracista e anti-homofóbico, o que lhe garante uma importância social inegável. Porém, não é nem mesmo o melhor filme de seu diretor, Barry Jenkins, que em seguida realizou o belíssimo Se a Rua Beale Falasse (2018). Quanto mais o melhor deste século. Beale, por sinal, não mereceu um lugarzinho sequer entre os 100 melhores segundo o staff do IndieWire.

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O segundo colocado da lista também merece questionamentos. Sob a Pele (2013), de Jonathan Glazer, tem lá seus méritos. A estranheza de sua narrativa e a interpretação de Scarlett Johansson são verdadeiros trunfos. Mas o filme está longe de merecer esse alto altíssimo posto. Talvez nem devesse estar na lista.

Apenas no terceiro lugar vemos um filme realmente forte. É Cópia Fiel (2010), de Abbas Kiarostami, com Juliette Binoche como protagonista. É o primeiro dos filmes que o genial diretor iraniano realizou internacionalmente, uma vez que seus filmes iranianos tinham muito mais projeção fora de seu país.

Da quarta à décima posição, apenas um filme nos parece merecer estar na lista: Mad Max: Estrada da Fúria (2014), de George Miller. Os outros, ou não são bons o suficiente (Holy Motors, Lady Bird, The Act of Killing) ou não merecem ser considerados dignos de figurar em alguma lista desse tipo (Carol, O Mestre, Inside Llewin Davis).

Em uma passada de olhos pelos outros filmes listados, até o centésimo, encontramos uma série de obras que ainda não venceram a passagem do tempo, e com isso ainda não se mostraram dignas de destaque dentro da história do cinema. Há uma minoria de grandes filmes, um número tão pequeno que podemos até mencioná-los: Timbuktu em 38º, Z – A Cidade Perdida em 47º, O Cavalo de Turim em 58º, Assunto de Família em 62º, Adeus à Linguagem em 71º, Divertida Mente em 78º.

E há também filmes mal escolhidos de grandes diretores (exemplo: Vidas ao Vento, de Hayao Miyazaki, no lugar de A Viagem de Chihiro, sua obra-prima). Sem contar algumas lamentáveis ausências, variáveis de crítico para crítico, de espectador para espectador. Não ter nenhum filme de Clint Eastwood, ou nenhum dos três grandes filmes que o francês Éric Rohmer realizou nos anos 2000, é escandaloso.

Ainda que não seja uma lista para ser levada a sério, por sugerir que este século foi pior do que pensávamos, é sempre divertido imaginar o que colocaríamos no lugar de todos os filmes que, a nosso ver, não mereciam estar nela.

Sérgio Alpendre

* a lista, em inglês, pode ser conferida aqui:

https://www.indiewire.com/gallery/best-movies-of-2010s-decade/