“Qual é o preço da mentira? Não é que podemos confundi-la com a verdade. O perigo real, é que se ouvirmos mentiras o bastante, não reconheceremos mais a verdade.”

Assim começa a minissérie Chernobyl, que nos primeiros minutos de seu primeiro capítulo nos mostra o protagonista, o cientista soviético Valery Legasov (Jared Harris, filho do ator sessentista Richard Harris), gravando algumas fitas de áudio, escondendo-as em um beco e voltando para casa para alimentar o gato e cometer suicídio.

Esse momento inicial se passa em 1988, dois anos depois do maior acidente nuclear da história, o de Chernobyl. Mas o filme é de 2019, quando o mundo é infestado por fake news e já ninguém mais sabe o que é verdade e o que não é. É uma maneira de dizer que a minissérie vai voltar aos erros do passado para falar do presente.

Mas a minissérie aproveita também para criticar o imperialismo soviético e seus aparelhos. No desejo de mostrar que estavam avançados nas pesquisas científicas, os soviéticos encobriram falhas em suas máquinas. Veio então a tragédia, resultada de uma dessas falhas. Chernobyl serviu então para enfraquecer a União Soviética e favorecer as aberturas promovidas pelos programas da Glasnost e da Perestroika.

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ReproduçãoCães selvagens na cidade de Prypiat, na zona de exclusão de Chernobyl

Chernobyl, a minissérie, captura nossa atenção o tempo todo. A estrutura permite que conheçamos primeiro os envolvidos diretos, tanto os culpados como aqueles que tentaram minimizar os danos. Para depois focar na investigação para chegar aos culpados. Sendo que o verdadeiro culpado, para além da arrogância humana daqueles que detêm os pequenos poderes, foi mesmo o regime soviético com sua empáfia. Essa é, de todo modo, a tese defendida pela minissérie.

ReproduçãoNovo domo de contenção, instalado em dezembro de 2018

A se lamentar a câmera um tanto tremida em muitos momentos, indicando uma incapacidade da direção de criar dinamismo de outros modos, e uma certa exploração dos efeitos da radiação nas vítimas, o que leva a minissérie para os limites do horror.

A se destacar a imponente imagem final do primeiro capítulo, que mostra a um só tempo o futuro ameaçado e a natureza em destruição.