Em setembro 2016, a Apple anunciou ao mundo o iPhone 7. Entre as novidades do aparelho estava a confirmação de todos os rumores que circulavam alguns meses antes: a empresa realmente decidiu remover do seu celular a entrada de fone de ouvido de 3,5 milímetros. A decisão, segundo a empresa, se deu por “coragem” para mudar e abandonar uma porta que, na visão da empresa, já não era mais necessária.

Na ocasião, a Apple teve como resultados imediatos da remoção do componente a implementação da Taptic Engine, um motor interno que permitia a sensação de clique no botão Home quando o componente deixou de ser realmente clicável, e um aumento de bateria. Além disso, o iPhone 7 foi o primeiro iPhone verdadeiramente a ser à prova d’água, e isso só foi possível graças à remoção da entrada de fones de ouvido.

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No mercado de tecnologia, existe uma realidade: a Apple nem sempre inova, mas ela constantemente valida tendências. Algumas empresas hesitam em tomar determinadas decisões e abraçar , temendo uma reação negativa do mercado, mas quando a Apple toma essa decisão, muitas empresas acabam entrando no mesmo barco. É o caso da entrada de fones de ouvido.

Não demorou muito, e começamos a ver celulares da Motorola, da Xiaomi, da Huawei, da Asus, do Google e tantas outras empresas menos famosas seguindo a mesma tendência: celulares sem entradas de fone de ouvido em nome de mais espaço para bateria, melhor impermeabilização e outras justificativas que surgiram ao longo dos anos.

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A Samsung, por sua vez, olhava suas concorrentes seguindo o mesmo caminho da Apple e impressionava por não ceder um só milímetro. Seus aparelhos Galaxy S e Galaxy Note saíam todos de fábrica à prova d’água, com baterias grandes, com leitores de impressão digital sob a tela, com sensor capaz de reconhecer diferentes níveis de pressão no display sem abrir mão da entrada de fone de ouvido. A coreana era prova de que era possível fazer tudo isso sem precisar atacar a saída analógica de áudio.

Isso mudou com o Galaxy Note 10, revelado nesta semana. O aparelho deixou de ter a tal entrada, que já foi motivo de orgulho para a Samsung e um ponto de diferenciação importante em relação aos seus concorrentes. Em múltiplas ocasiões, a empresa não hesitou em caçoar da Apple (e outras companhias por tabela), seja por meio de seus canais de mídias sociais, seja por vídeos publicitários.

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Nesta interação com um seguidor no Twitter, por exemplo, a empresa é questionada se o Galaxy Note 9, do ano passado, teria entrada de fone de ouvido, e a resposta é um “claro que sim” cheio de confiança. O seguidor agradece à Samsung e diz “espero que vocês não copiem a competição se livrando da entrada de fones”, no que a empresa responde que “isso seria idiota”.

Reprodução

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Em outra ocasião, a Samsung resolveu caçoar da Apple pelo excesso de “dongles”, termo levemente negativo para se referir a adaptadores. No caso, um usuário de iPhone vai a uma loja da Apple reclamando, entre outras coisas, que não consegue usar seu fone no novo celular, nem consegue carregar o dispositivo enquanto escuta música. O atendente reforça que ambas as ações só são possíveis com adaptadores.

Quando questionada sobre a mudança de opinião, a Samsung deu uma justificativa que não é muito boa considerando o retrospecto da empresa de conseguir incluir recursos sem abrir mão de nada. Representantes da empresa afirmaram ao site The Verge que a mudança permitiu que a bateria do Note 10 fosse maior, mas apenas marginalmente: são 100 mAh de bateria a mais permitidos pela ausência do conector. Além disso, a empresa também justifica a decisão afirmando que a exclusão do componente também deu mais espaço para implementação de um melhor sistema de feedback háptico, que passa uma sensação de vibração específica quando o usuário pressiona a tela. É, na prática, a mesma justificativa da Apple, apenas dada três anos depois.

Então é isso: morre com o Galaxy Note 10 a esperança de que outras empresas vissem na Samsung um exemplo a ser seguido e voltassem a adotar o conector. Quem quiser um celular top de linha a partir de 2019 precisará se contentar com uma entrada USB-C para saída de áudio.

Por um instante, ao longo deste ano, os fãs da entrada de áudio analógica tiveram uma leve esperança. Afinal de contas, a Motorola revelou o Moto Z4 com o conector após anos de tê-lo removido da linha Z. Da mesma forma, o Google demonstrou o Pixel 3a com a entrada, mesmo depois de abandoná-la desde o Pixel 2. No entanto, ambos os aparelhos se encaixam na categoria intermediária-premium, onde a porta P2 é muito mais comum, e não tops de linha de verdade.

Desvantagens da ausência de entrada

As empresas batem na tecla de que a remoção da entrada de 3,5 mm abre espaço para melhorar outros componentes, mas até o momento não foi oferecido uma substituição à altura para quem aprecia áudio de boa qualidade.

Fones de ouvido Bluetooth, que são a solução apresentada pela indústria, têm seus problemas. Apesar de a tecnologia ter evoluído nos últimos anos, o pareamento não é dos mais simples, e o áudio é obrigatoriamente comprimido para chegar aos seus ouvidos, o que resulta em perda de qualidade.

Outra questão envolvendo os fones Bluetooth é a obrigatoriedade de ter mais um objeto para carregar frequentemente à noite, o que também traz o risco de ficar sem bateria ao longo do dia e ficar incapacitado de ouvir músicas no seu celular.

Enquanto isso, a questão dos adaptadores também não é tão simples, pois tudo depende muito da qualidade desse adaptador. Boa parte deles contam com DACs (conversores digitais-analógicos), que utilizam algoritmos para transformar o áudio digital de uma entrada USB-C para um canal analógico, que é o fone com conector de 3,5 milímetros. A qualidade da reprodução vai depender da qualidade do algoritmo.