O Telecine divulgou uma nota informando que os atores mais procurados no sistema de busca de sua recém-lançada plataforma de streaming são Sandra Bullock e Tom Cruise.

Curioso isso. Uma atriz que atingiu o estrelato nos anos 1990 e um ator que conseguiu tal feito nos anos 1980 ainda povoam o imaginário dos espectadores, em 2019.

A plataforma, contudo, é muito mais generosa com Tom Cruise do que com Sandra Bullock. Imagino que a partir dessa pesquisa o catálogo de filmes com a Miss Simpatia cresça consideravelmente, mas por enquanto ele conta apenas com quatro filmes. Três, quando lembramos que O Príncipe do Egito é uma animação e conta só com a voz de Bullock.

Os outros filmes não são muito animadores: se Enquanto Você Dormia (1995), de Jon Turteltaub, é o típico veículo bem sucedido para a atriz que bombava naquele miolo da década de 1990, Um Tira à Beira da Neurose (2000), de Eric Blakeney, e A Proposta (2009), de Anne Fletcher, são, no máximo, razoáveis, e devem servir apenas para matar a saudades da atriz.

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Cruise está melhor representado. Temos os seis longas da franquia Missão Impossível, dos quais os melhores são o primeiro, dirigido por Brian De Palma e lançado em 1996, e o segundo, dirigido por John Woo e lançado em 2000. Missão: Impossível 3 (J.J. Abrams, 2006) talvez seja o mais fraco de toda a série, enquanto os três últimos – Protocolo Fantasma (Brad Bird, 2011), Nação Secreta (Christopher McQuarrie, 2015) e Efeito Fallout (McQuarrie, 2018) – apresentam um nível semelhante de qualidade, na faixa do razoável.

No catálogo existem algumas bobagens de ação e aventura como A Múmia (Alex Kurtzman, 2017), Feito na América (Doug Liman, 2017) e Oblivion (Joseph Kosinski, 2013), que até divertem, mas são esquecidos dez minutos depois. Tem também uma aventura sentimentalóide um tanto medíocre, Um Sonho Distante (Ron Howard, 1992) e uma comédia besteirol que surpreende, sobretudo pela interpretação inusitada de Cruise: Trovão Tropical (Ben Stiller, 2008).

O quente do catálogo de filmes com o astro, contudo, pode ser resumido em quatro filmes. Cinco, se lembrarmos que o primeiro Missão Impossível, o assinado por De Palma, também está entre seus melhores trabalhos.

Cocktail (1988) parece um típico veículo para a beleza do ator, mas revela-se um drama sobre a crueldade do capitalismo americano dirigido com mão segura por Roger Donaldson.

Rain Man (1988) recebeu vários Oscars pela história de um jovem playboy (Cruise) que precisa se aproximar de seu irmão autista (Dustin Hoffman, sublime) por causa de uma herança. É um drama muito bem construído e dirigido por Barry Levinson.

Minority Report (2002) é um dos melhores filmes de Steven Spielberg, confirmando sua boa fase iniciada com A.I. Inteligência Artificial (2001). E Cruise se mostra um ator muito mais experiente, capaz de dar conta de seu personagem, um complexo líder de investigação policial num futuro sem assassinatos.

Por fim, uma obra-prima: A Cor do Dinheiro (1986), de Martin Scorsese. Nesse longa sobre competição e afirmação masculinas, a câmera do diretor de fotografia Michael Ballhaus passeia pelas mesas de sinuca com habilidade ímpar, e capta as menores hesitações dos personagens de Cruise (num papel talhado para o que ele era na época), Paul Newman e Mary Elizabeth Mastrantonio com olhar incrivelmente atento. É um dos filmes mais inteligentes e divertidos do grande Scorsese.

Sérgio Alpendre