Os seus dados estão por toda a internet. Isso é um fato, e você só não sabe disso ainda. A realidade é que, atualmente, não é nada difícil descobrir tudo sobre alguém conhecendo as ferramentas corretas. Uma investigação do Olhar Digital conseguiu conferir na prática o quão simples é esse processo.

Após uma denúncia de um de nossos leitores, o Olhar Digital foi atrás de um site chamado Probusca, que fornece uma ferramenta de pesquisa de dados pessoais de brasileiros. A facilidade com que obtivemos acesso à plataforma foi impressionante.

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Para começar, bastou acessar o site do serviço. Ao fazer isso, o interessado se depara com uma tela de login e senha e uma série de números no WhatsApp para contatar os administradores. Uma ferramenta de chat nativa do site também ajuda a iniciar a conversa. Ao fazer isso, o usuário é orientado a contatar um número específico.

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No WhatsApp, a negociação é simples. Ao se apresentar ao vendedor, ele já mostra dois pacotes chamados “Leão” e “Águia”. É possível comprar apenas um deles por R$ 250, ou ambos por R$ 350. Cada um oferece acesso a bancos de dados distintos.

Durante a negociação, fizemos uma série de perguntas para o vendedor para entender um pouco mais sobre o serviço, mas, sem surpresas, as respostas foram um pouco evasivas. Quando perguntamos se o serviço era ilegal, ele limitou-se a responder que se tratava de uma ferramenta para ajudar empresas nas suas vendas. Ao questionarmos a origem dos dados, apenas afirmou que algumas informações são de um banco próprio, outras de parceiros.

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O pagamento poderia ser feito por meio de transferência bancária. O processo poderia ser concluído em uma Lotérica, ou então por uma transferência online convencional. Quando perguntamos para onde deveríamos enviar os valores, o vendedor perguntou qual banco usaríamos, e, ao respondermos, passou uma conta daquele mesmo banco, o que indica o uso de múltiplas contas para o recebimento das quantias.

A partir do momento em que pedimos uma prova da eficácia do serviço, para garantir que não se tratava de um golpe, o vendedor nos ofereceu um login temporário, com duração de apenas 10 minutos. Foi o bastante para confirmarmos que, sim, é possível encontrar dados de basicamente qualquer pessoa, a partir de um mínimo de informações.

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O mais impressionante aconteceu quando optamos por testar o sistema com uma placa automotiva de um dos jornalistas do Olhar Digital. A partir dessa informação, foi possível descobrir endereço, número de telefone, CPF, nome dos pais e outros dados bastante sensíveis, que poderiam levar a consequências graves. Um criminoso pode usar a placa do veículo para descobrir onde é a casa de uma vítima em potencial, por exemplo; da mesma forma, um assediador pode descobrir informações de uma mulher que viu entrando em um carro.

Serviços assim não são incomuns

Um caso notável similar ao do Probusca que aconteceu em 2015 foi o Tudo Sobre Todos, uma página que tinha um propósito bastante similar. Pagando uma quantia, era possível consultar todos os tipos de informações sobre brasileiros, obtidas por meio de múltiplos bancos de dados, cujas origens nunca foram reveladas. A página alegava que todas as informações haviam sido retiradas de bancos de dados públicos.

Quando o serviço foi exposto, a Justiça Federal do Rio Grande do Norte tratou de tentar tirá-lo do ar por meio de uma liminar. Como a página estava registrada em um domínio na Suécia, o governo brasileiro precisou contatar o governo sueco para tentar obter os dados dos responsáveis.

“A empresa ao disponibilizar dados de caráter pessoal, sem que tenha autorização dos seus titulares, viola a Constituição Federal, atingindo-lhe o núcleo dos direitos e garantias individuais, mais especificamente, os direitos à intimidade e à vida privada”, dizia o juiz Magnus Augusto Costa Delgado sobre o Tudo Sobre Todos na época em que emitiu a liminar.

No longo prazo, no entanto, a medida não surtiu efeito. O Tudo Sobre Todos continuou no ar, embora atualmente a página mostre um aviso de manutenção, e a página pode ser facilmente encontrado com uma pesquisa no Google.

Veja também: o que fazer quando seus dados vazam na internet?