Para quem viu a série Breaking Bad e estava com saudades dos personagens, assistir ao longa El Camino: A Breaking Bad Film, dirigido pelo criador da série, Vince Gilligan, é obrigatório. Desde o título até o resumo que o antecede, o filme se coloca o tempo todo como derivado da série. E por mais que seja clichê dizer isso, esta é sua força e sua limitação.

Força porque, obviamente, alguns personagens interessantes ficaram vivos, o que de certo modo coloca aquele ponto de interrogação sobre o destino deles após o desfecho da série. O principal, nesse caso, é Jesse Pinkman (Aaron Paul), que foge do local do conflito como o único sobrevivente. E ele foge com o carro El Camino. Walter White (Bryan Cranston), seu mentor e professor, morreu em combate.

Passamos então a acompanhar a fuga de Jesse, sua tentativa de juntar dinheiro para ir ao homem que vende aspiradores de pó, mas também providencia sumiços para quem deseja começar uma nova vida num lugar distante. O sonho de Jesse é o Alaska, sabemos por um flashback logo no início. O dinheiro ele vai procurar na casa de Todd (Jesse Plemons), o carcereiro de sua prisão particular no esconderijo do Tio Jack.

Não sabem do que estou falando? Pois é. Eis a limitação de que eu falava. Quem não viu a série, ou lembra mal dos principais acontecimentos espalhados pelas cinco temporadas, não vai conseguir acompanhar o longa, ou vai sentir um grande enfado. Muito do que acontece no longa depende de nosso entendimento da série, e os flashbacks intrusivos e sempre tolos só têm a dupla função de nos lembrar de algumas coisas e de informar sobre outras, estas necessárias para o entendimento do que acontece no longa.

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Ou seja, a cada flashback, sentimos uma certa frustração, pois percebemos o quando o filme é dependente, o quanto ele deve à nossa lembrança da própria série (e quem viu faz tempo deve ver o resumo inicial para não ficar perdido). 

Um dos flashbacks, aliás, é um desastre. Jesse acompanha Todd, que matou sua faxineira e precisa enterrá-la no deserto. Todd pede para Jesse, seu prisioneiro há muito tempo, lembremos, pegar alguma coisa no porta-luvas, e Jesse encontra um revólver, providencialmente colocado ali. Ele pega o revólver, podia ter matado Todd e ter se libertado de sua condição sub-humana, mas não tem coragem de matar aquele que o prende, apesar de ter tido coragem de outras coisas durante a série. Esse flashback nos lembra da bobagem que é Jesse e Walt não terem matado Tuco quando podiam, na 2ª temporada. 

Há um outro flashback desastroso pela sua inutilidade. É aquele já perto do final, em que Walter White aparece numa lanchonete com Jesse. Colocado unicamente para matarmos a saudade de Bryan Cranston, esse momento não tem qualquer serventia à trama. É puro pastel de vento. 

Momentos assim revelam uma construção dramática frágil, que prejudicava a série, e agora prejudica o longa. Fazem de El Camino um longa que não se justifica na maior parte de sua duração, uma decepção.