Eddie Murphy é um dos maiores comediantes do cinema americano. Em seu auge, os anos 1980, comandou as bilheterias com policiais cômicos como os da série Um Tira da Pesada e os dois 48 Horas, além de comédias brilhantes dirigidas por John Landis, Trocando as Bolas e Um Príncipe em Nova York. 

Nos anos 1990, o astro experimentou uma ligeira decadência, em parte por projetos mal escolhidos, em parte por uma mania de troca geracional que Hollywood passou a operar vorazmente a partir dos anos 1970. Ainda assim, participou de Um Tira da Pesada 3, justamente o melhor da série, e atuou em Um Vampiro no Brooklyn e a refilmagem de O Professor Aloprado, que se estão longe de serem grandes filmes, estão também longe do desprezível.

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Neste século, a coisa piorou, apesar de um ou outro filme interessante. Até que surge a Netflix e a possibilidade de um ressurgimento com este Meu Nome é Dolemite, dirigido por Craig Brewer, cineasta que ainda não emplacou, mas revelou um potencial com Ritmo de um Sonho e Entre o Céu e o Inferno. Podemos esquecer, neste caso, a refilmagem equivocada de Footloose (o original já não é grande coisa).

Em Meu Nome é Dolemite, percebemos logo que Eddie Murphy é o melhor e o pior do filme. O melhor porque o talento do ator é inegável, e sua presença em cena continua contagiante. Ele enche a tela de carisma e sua performance costuma nos deixar hipnotizados. Por outro lado, sua sede era tanta, do tamanho da que tinha seu personagem, que em alguns momentos há um exagero de sujeira, de linguagem chula e conteúdo sexista. 

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Não se trata de clamar por uma ordem moral, bem à moda nos dias atuais. A questão é que por vezes o filme parece aquele pré-adolescente (muitos adultos estão nessa condição ainda) que se diverte repetindo palavrões à exaustão. As piadas contadas por Dolemite, aliás, Rudy Ray Moore, em sua maioria, respondem a esse padrão pré-adolescente, da descoberta das palavras e situações proibidas. Isso enfraquece o filme, por culpa de Murphy, que não soube (e era difícil, concedo) contornar esse problema, mas por culpa também de Brewer, na condução do ritmo e do tom, e dos roteiristas, Scott Alexander e Larry Karazewski. 

Concentremo-nos, porém, no que o filme tem de melhor. Algumas situações são muito boas: Snoopy Doggy Dog como um DJ que só toca hits; Rudy e seus amigos detestando A Primeira Página, de Billy Wilder, e pensando logo numa comédia que não fosse para branquelos; Wesley Snipes como um ator bufão que só aceita participar do filme de Dolemite porque foi convidado a dirigi-lo; a delirante cena de sexo do filme dentro do filme; a participação não creditada de Bob Odenkirk, o Saul de Breaking Bad, como um magnata de Hollywood; a de Chris Rock como um outro DJ; enfim, achados consideráveis, que alavancam o filme e fazem-no superar as gorduras.

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Uma outra coisa alavanca o filme. É sua sequência final, quando o protagonista encontra seu povo e brilha sem esquecer suas raízes. Nesse momento, o melhor Eddie Murphy mostra que ainda tem muito gás para superar o pior Eddie Murphy. E é sempre bom ver um grande ator renascer num filme, ou melhor, durante um filme.

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