Em uma tentativa de proteger a humanidade caso a Terra se torne inabitável, uma equipe de cientistas está tentando elaborar um plano ousado para colonizar um exoplaneta distante.

É um tiro no escuro em todos os sentidos da palavra. Cientistas da Iniciativa para Estudos Interestelares disseram ao OneZero, uma publicação sobre tecnologia e ciência, que o plano de enviar uma tripulação para um exoplaneta potencialmente habitável em outro sistema solar – talvez Proxima Centauri B, a pouco mais de 4 anos-luz de distância – pode levar séculos ou milênios para ser completado. Isso significa que gerações inteiras nasceriam e morreriam durante a jornada.

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Os desafios enfrentados por essa missão são numerosos, mas não impossíveis: “Não há nenhum grande obstáculo do ponto de vista da física”, disse o diretor executivo Andreas Hein ao OneZero. “Existem muitos desafios, mas nenhum princípio fundamental da física é violado.”

Como se poderia esperar de tal empreitada, as dificuldades são muitas e amplas, abrangendo não apenas a física, mas também a biologia, a sociologia, a engenharia e muito mais. Eles incluem enigmas como gravidade artificial, hibernação, sistemas de suporte à vida, propulsão, navegação e muitos problemas que nem estão perto de serem resolvidos.

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Entre esses desafios está descobrir como sustentar a vida humana em uma jornada tão longa pelo espaço. Com base nas pesquisas atuais, mesmo uma viagem a Marte é desaconselhada, porque os cientistas ainda não descobriram uma maneira eficaz de proteger os astronautas da radiação cósmica mortal, e os problemas médicos causados ​​pelo tempo gasto no espaço ainda são pouco compreendidos.

Em uma jornada de milênios, seria necessário substituir regularmente a tripulação, o que leva à dúvida: quantas pessoas seriam necessárias para manter uma população humana saudável por milhares de anos?

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Segundo Frédéric Marin, um astrofísico da Universidade de Estrasburgo que fez os cálculos em seu tempo livre usando uma simulação de computador, seriam necessárias apenas 98 pessoas partindo da Terra para manter uma tripulação sustentável ao longo de 6.300 anos.

E comida? Pressupondo que a maioria das calorias consumidas venha de plantas, com alguns poucos animais como suplemento, seria necessária uma área meio quilômetro quadrado, ou um oitavo do tamanho do Central Park, em Nova Iorque, para alimentar 500 pessoas. Para isso seria necessário o uso da técnica de cultivo aeropônico, em que os nutrientes são borrifados nas raízes expostas das plantas, sustentadas em “prateleiras” umas sobre as outras.

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Para resolver o problema da gravidade, Marin propõe que a nave seja um cilindro com 25 metros de altura e 224 metros de raio girando no espaço, o que geraria gravidade artificial. Não muito diferente de conceitos estudados pela NASA desde a década de 70.

O idioma também é uma questão a ser considerada. Mesmo que todos os tripulantes falem inglês nativamente, e que haja escolas a bordo para ensinar um inglês padronizado, uma língua não é um objeto estático: ela muda com o tempo, de acordo com as experiências culturais dos falantes. O inglês falado hoje não é o mesmo de 1.000 anos atrás, e duas naves que tenham partido ao mesmo tempo, rumo ao mesmo destino, podem acabar chegando lá falando idiomas completamente diferentes ou incompreensíveis.

Também há implicações morais. Crianças que nasçam a bordo não terão escolha a não ser treinar para substituir a tripulação atual e continuar a jornada, o que irá limitar suas experiências de vida. É justo submetê-las a isto?

Muitos podem julgar este tipo de exercício ou planejamento como um devaneio. Afinal, não estamos perto de obter os recursos ou a tecnologia necessária tão cedo. Mas sem esses saltos de imaginação, sem especular sobre o que o futuro poderia ser antes de chegarmos lá, nunca chegaremos a um lugar diferente do presente. E talvez, apenas talvez, um dia um homem ou mulher em um planeta distante estudarão esta pesquisa, por mais antiga que pareça, e chegarão a mesma conclusão.

Fonte: OneZero