Há 30 anos uma espaçonave norte-americana não visita Vênus, nosso “irmão” no sistema solar. Embora seja similar à Terra em tamanho, massa e composição, as condições infernais na superfície tornam a exploração extremamente difícil. A temperatura média é de 462 °C, a pressão atmosférica equivale à encontrada a 900 metros sob nossos oceanos e uma grossa camada de nuvens composta por ácido sulfúrico dificulta a obtenção de imagens de satélite.

Mas isso não significa que os cientistas não queiram voltar. Um grupo de pesquisadores e engenheiros chamado Venus Exploration Analysis Group (VEXAG – Grupo de Análise para Exploração de Vênus) estuda formas de retornar ao planeta e coletar dados valiosos para o estudo da evolução planetária, e talvez para o nosso futuro.

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“Vênus é como o caso de controle para a Terra”, disse Sue Smrekar, membro do VEXAG. “Acreditamos que eles começaram com a mesma composição, a mesma água e dióxido de carbono. E seguiram dois caminhos completamente diferentes. Por quê? Quais são as principais forças responsáveis pelas diferenças?”

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Reconstrução da superfície de Venus em 3D, feita a partir de dados obtidos por satélite.

Sremkar trabalha na proposta de um veículo orbital chamado VERITAS (Venus Emissivity, Radio Science, InSAR, Topography, and Spectroscopy), que iria mapear a superfície do planeta em alta resolução usando frequências capazes de atravessar as nuvens.

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Na segurança do espaço, o satélite poderia medir mudanças na paisagem através do tempo, acompanhar erupções vulcânicas e procurar sinais de terremotos ou da movimentação de possíveis placas tectônicas, como na Terra. Os cientistas acreditam que Vênus tem continentes que se formaram por subducção, quando uma placa tectônica “mergulha” sobre a outra, como ocorre em nosso planeta.

Outros sugerem uma abordagem um pouco mais próxima. Attila Komjathy e Siddharth Krishnamoorthy, do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa, sugerem o uso de uma frota de balões de ar quente, capazes de “surfar” as correntes de vento no topo da atmosfera venusiana, que tem temperaturas mais similares às da Terra.

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“Ainda não há missão programada para enviar um balão a Vênus, mas os balões são uma ótima maneira de explorar o planeta porque a atmosfera é muito densa e a superfície é inóspita”, disse Krishnamoorthy. “O balão é um ponto ideal, onde você está perto o suficiente para obter um monte de informações importantes, mas também está em um ambiente muito mais benigno, onde seus sensores podem realmente durar o tempo suficiente para fornecer dados significativos”.

Os balões seriam equipados com sismômetros capazes de medir a movimentação do solo a distância, um conceito que já foi testado aqui na Terra com balões sobrevoando locais onde frequentemente ocorrem terremotos. Quando a terra treme, a vibração se propaga pela atmosfera através de ondas de infrasom (frequências muito baixas, inaudíveis para ouvidos humanos). Como a atmosfera venusiana é muito mais densa, os tremores seriam ainda mais fáceis de detectar.

Uma coisa é certa, um veiculo capaz de pousar (lander) e explorar (rover) a superfície, como os robôs Curiosity e Mars 2020, em Marte, não está nos planos por vários motivos. Um deles é como fornecer energia para os equipamentos.

Painéis solares estão fora de questão, pois a densa atmosfera bloqueia boa parte da luz solar, reduzindo sua eficiência. E baterias químicas e componentes eletrônicos convencionais não sobreviveriam às temperaturas extremas.

Segundo Jeff Hall, engenheiro do JPL que trabalhou em propostas de landers e balões, “não há como refrigerar um lander. O melhor que você pode fazer é reduzir a velocidade com que ele se autodestrói”. Em 1982 a sonda soviética Venera-13 bateu o recorde de sobrevivência na superfície de Vênus, mantendo contato com um satélite em órbita por 127 minutos.

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Superfície de Venus, fotografada pela sonda soviética Venera 13 em 1982

Por isso a Nasa trabalha no desenvolvimento de “tecnologia quente”, motores e circuitos capazes de suportar altas temperaturas por períodos prolongados. A idéia é desenvolver um sistema capaz de perfurar o solo, coletar e analisar amostras.

Os equipamentos são testados na “Large Venus Test Chamber”, uma câmara no JPL com paredes de aço, capaz de reproduzir fielmente as condições da superfície marciana, incluindo sua atmosfera composta por 100% de gás carbônico.

Fonte: Nasa