No ano passado, o Olhar Digital escreveu sobre como o atraso da Intel em inovar em seus processadores e finalmente implementar uma arquitetura de 10 nanômetros em seu chips reacendeu uma disputa dormente contra a rival AMD, que havia ficado para trás no mercado havia alguns anos. Agora, na CES 2020, ficou ainda mais evidente: a AMD começou a tomar espaço da Intel.

Primeiro, vamos recapitular o que aconteceu para chegarmos a este ponto e, para isso, é preciso entender a Lei de Moore, criada por Gordon Moore, um dos fundadores da Intel. Sua ideia era simples: a cada dois anos, o número de transistores em um processador deveria dobrar. Isso se dá reduzindo o espaço entre eles, atualmente medido em nanômetros. Com mais transistores e menos espaço entre eles, os elétrons viajam menos até chegar ao seu destino, acelerando tarefas e economizando energia, o que é especialmente útil nos notebooks, que dependem da bateria.

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Em 2014, a Intel anunciou seus primeiros processadores de 14 nm, utilizando a microarquitetura Broadwell, marcando um passo importante após os chips de 22 nm da geração anterior. No entanto, a companhia mostrou extrema dificuldade em avançar além dessa marca, apresentando apenas refinamentos da arquitetura, falhando em acompanhar a Lei de Moore. Só em 2019, a empresa conseguiu implementar os 10 nm em chips mainstream com a geração Ice Lake.

Enquanto isso, a AMD, percebendo-se atrás no mercado, decidiu apostar pesado na arquitetura Zen, que começou a dar frutos em 2017, com os primeiros processadores Ryzen, que já contavam com a tecnologia de 14 nm. Dois anos depois, a companhia conseguiu dar o salto que a Intel não deu, lançando os primeiros processadores de 7 nanômetros e a nova arquitetura Zen 2. A promessa na época era de igualar o desempenho de um Core i9 da 9ª geração, que até então era a que estava em vigor, pela metade do preço, o que é suficiente para chacoalhar o mercado.

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A competição aperta

O cenário acima já mostra que a situação da Intel no mercado passou a ficar ameaçada, mas a CES 2020 solidificou o que está acontecendo: a AMD começou a pisar nos territórios dominados completamente pela Intel.

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Se a arquitetura Ryzen fez com que a AMD voltasse a ser discutida em fóruns como uma opção viável para a montagem de um computador, seja ele voltado para jogos, seja ele voltado para trabalho, e passasse a ser uma alternativa viável também para servidores e workstations, havia um mercado que a empresa não conseguia tocar: o de notebooks. Pelo menos não até agora.

Durante a CES, a AMD apresentou os chips Ryzen Mobile 4000, projetados para trazer a alta contagem de núcleos e eficiência dos outros chips Ryzen para os notebooks, e os números apresentados pela AMD são ameaçadores para o reinado da Intel. O gráfico abaixo mostra a comparação com um Core i7-1065G7, voltado para laptops, e o Ryzen 7 4800U, que será seu competidor direto no mercado de notebooks ultrafinos.

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Reprodução

O resultado desse ataque da AMD já está aí: a Acer anunciou novos notebooks durante a CES e já passou a oferecer ao consumidor a opção de escolher entre um processador AMD ou um Intel na hora da compra do Swift 3. Da mesma forma, a Lenovo anunciou os notebooks Yoga Slim 7 com opções Intel e AMD. Tudo isso fruto dos anúncios dos modelos Ryzen 4000.

Para tornar a situação mais desconfortável para a Intel, os notebooks de ambas as empresas que contam com a opção da AMD são mais baratos, o que sem entrar no mérito de desempenho, indica que eles têm tendência a vender mais. No caso da Acer, a diferença é de US$ 100, e no da Lenovo a diferença salta para impressionantes US$ 360.

Se os notebooks mais baratos com processadores AMD também acompanharem um desempenho igual ou superior, o único mercado em que ainda dominava com tranquilidade também começará a ficar ameaçado. O próximo passo seriam outras companhias como Dell e Apple, que também são parceiras de longa data da Intel começarem a integrar a AMD ao seu portifólio. Seria a vitória definitiva para a AMD e o alerta vermelho para a Intel. É aguardar os próximos capítulos.