Vikram Kashyap, fundador e CEO da empresa de análise de resíduos humanos Toi Labs, com sede em São Francisco, teve de tomar uma decisão na vida para poder traçar seu futuro: analisou as próprias fezes

O empresário tem colite ulcerosa, uma doença inflamatória intestinal que causa, dentre diversos sintomas, dores abdominais e sangramentos. A doença é, até agora, incurável, embora seus efeitos possam ser controlados.

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Para tentar amenizar os problemas, Kashyap decidiu testar tratamentos experimentais em si mesmo, analisando amostras das próprias fezes, com a ajuda de pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco.

Os resultados do estudo foram publicados em 2010, na revista Science, e iniciaram um esforço sério para desenvolver um “banheiro inteligente” que pudesse ajudar as pessoas a monitorar sua saúde.

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Como um dos projetos, a Toi Labs desenvolveu o TrueLoo, um assento inteligente que a empresa afirma que pode ser instalado em minutos. O dispositivo usa tecnologia de sensores para analisar o desperdício humano e ajudar usuários idosos e seus cuidadores a monitorar uma variedade de distúrbios urinários e digestivos.

Ao realizar as medições ópticas de resíduos e analisar os dados para detectar sinais de doenças e distúrbios, o TrueLoo pode iedntificar desidratação, infecção por vírus e infecções do trato urinário – um dos problemas mais comuns em idosos. A empresa vai testar o produto este ano, em instalações para idosos na área da baía de São Francisco, e possui planos para lançá-lo no mercado até 2021.

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Estudos dos hábitos

O laboratório de Kashyap não é o único a pensar no uso de fezes e urina para obter dados de saúde. Na Universidade de Wisconsin, Madison, Joshua Coon e Ian Miller coletaram mais de 100 amostras da própria urina ao longo de dez dias para ver o que isso poderia mostrar sobre os vários fatores de vida adotados pelos jovens, como nutrição, metabolismo, exercícios e padrões de sono.

Algumas das amostras analisadas incluíram furoyl glicina e ácido quinico, marcadores conhecidos do consumo habitual de café e hipoxantina, que mostrou o quanto eles estavam se exercitando. O estudo com os resultados dos testes foi publicado em novembro, na revista NPJ Digital Medicine.

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No estudo, Coon e Miller usaram um cromatógrafo a gás, usado para separar e analisar vários compostos em uma amostra, e um espectrômetro de massa, usado para analisar moléculas individuais em uma amostra.

Essas ferramentas poderosas podem monitorar níveis de glicose, distinguir infecções virais e bacterianas e identificar marcadores de inflamação e distúrbios metabólicos. Coon e Miller mediram alguns compostos correlacionados com essas condições de saúde, mas esses estavam saudáveis na época do estudo.

Durante os testes, eles também usaram um Apple Watch para comparar a precisão e a quantidade de dados que poderiam obter das duas fontes. As amostras de urina forneceram dados que os dispositivos “vestíveis” já conhecem – como controle de sono e exercícios – mas também dados não fornecidos, como a quantidade de cafeína consumida e nível de álcool.

Obviamente, comprar cromatógrafos a gás e os espectrômetros de massa é uma opção inviável devido ao alto valor. Entretanto, o Toi Labs aposta na tecnologia de sensores, que não é tão poderosa quanto os equipamentos de nível laboratorial, mas ainda pode fornecer dados suficientes para monitorar o que está acontecendo.

Com várias empresas quase prontas para lançar banheiros inteligentes no mercado, as pessoas em breve terão ainda mais informações em suas mãos para ajudar a orientar suas decisões pessoais de saúde.

“Acho que, no fim das contas, estamos cada vez mais caminhando em direção a um mundo em que as pessoas farão as próprias escolhas de cuidados de saúde”, diz Kashyap. “Eu acho que isso mudará completamente a maneira como os consumidores se envolvem com o sistema de saúde”.

Via: One Zero