Por vezes o timing de uma publicação é perfeito. Vejam o caso da revista inglesa de cinema Sight and Sound. Escolheu o diretor sensação do momento – Bong Joon Ho, de “Parasita” – como editor convidado da edição de março de 2020, que chegou às bancas inglesas em 3 de fevereiro, antes, portanto, da cerimônia do Oscar.

Obviamente, o convite foi feito antes mesmo das indicações para o Oscar. E a revista surfa agora com essas premiações, uma vez que Bong ganhou os troféus de melhor diretor, melhor roteiro, melhor filme internacional e melhor filme, uma vitória sem precedentes.

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O diretor e editor convidado, numa das primeiras matérias da edição, escolheu, para comemorar seus 20 anos de carreira, 20 cineastas para acompanharmos nos próximos 20 anos de cinema. Ou seja, aqueles que prometem maiores frutos daqui até 2040.

Vamos aos nomes, com breves comentários:

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1. Ali Abbasi (Irã, 39 anos)

“Border”, filme sueco, foi muito elogiado pela crítica brasileira, mas apesar de ser um filme perturbador, tem momentos constrangedores. O diretor filme segundo a cartilha do novo academicismo: câmera capta a respiração dos atores, numa ideia de fluxo de imagens.

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2. Ari Aster (EUA, 33 anos)

Com apenas dois longas, o patético “Hereditário” e o mediano “Midsommar”, Aster revelou certo progresso. Mas ainda é muito pouco para colocá-lo entre os 20 a serem seguidos.

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3. Bi Gan (China, 30 anos)

Outro que tem sido muito elogiado por seu último longa, “Longa Jornada Noite Adentro”. Não chega à supervalorização dos dois diretores acima, mas há um certo exagero também na recepção ao seu filme, que me pareceu bom, mas não especial.

4. Jayro Bustamante (Guatemala, 43 anos)

Ainda não vi seus filmes, mas seu recente “La Llorona” foi amado na mesma medida com que foi desprezado pelos festivais internacionais. A conferir.

5. Mati Diop (França, 37 anos)

Diretora já elogiada pelos curtas, e que agora desponta, com justiça, pelo belo “Atlantique”, disponível na Netflix.

6. Robert Eggers (EUA, 36 anos)

Com “A Bruxa” surgia uma promessa. Com “O Farol” surge a inquietação: seria Eggers um diretor realmente talentoso? É o terceiro longa que irá nos dizer. Ou não.

7. Rose Glass (Inglaterra, 30 anos)

Não conheço essa diretora britânica, mas seu primeiro longa, Saint Maud (2019), foi bastante elogiado por parte da crítica.

8. Ryusuke Hamaguchi (Japão, 41 anos)

Outro que tem sido supervalorizado por “Asako I e II” (2018). Longe de ser um mau filme, está longe de tirar seu diretor da condição de incógnita para os próximos anos.

9. Alma Har’el (Israel/EUA, 44 anos)

Diretora de vídeos interessantes para a banda eclética Beirut, tem angariado elogios com seus longas.

10. Kirsten Johnson (EUA, 54 anos)

Tem filme novo dela a pintar, “Dick Johnson is Dead”. O que pudemos ver, “Cameraperson”, de 2016, revela ao menos um olhar detido. Outro nome a ser seguido.

11. Jennifer Kent (Austrália, 50 anos)

Goste-se ou não de seus filmes, é inegável que “The Babadook” (2014) e “The Nightingale” (2018) revelam uma autora que não recua diante das possibilidades fortes que suas premissas levantam.

12. Oliver Laxe (França/Espanha)

Diretor revelado com “Mimosas”, de 2016. É mais uma escolha que revela de que posição escolhe Bong: a de um frequentador de festivais, mais que a de um cinéfilo curioso.

13. Francis Lee (Inglaterra, 51 anos)

Diretor que anda batendo na trave da moda atual, o que pode ser revertido com seu próximo longa, “Ammonite”. Aguardemos.

14. Pietro Marcello (Itália, 43 anos)

O cineasta mais inventivo entre todos os escolhidos por Bong, poderá ser conferido pelo cinéfilo paulistano em seu mais recente longa, “Martin Eden” (estreia dia 27), para o qual teve um orçamento médio, o que é muito mais do que ele tinha se acostumado a ter.

15. David Robert Mitchell (EUA, 45 anos)

Entre os americanos, este é o mais promissor. Principalmente por seus dois últimos longas, “Corrente do Mal” (2014) e “Under the Silver Lake” (2018).

16. Jordan Peele (EUA, 40 anos)

Outro cineasta que precisa ser acompanhado é Peele, diretor do razoável “Corra” (2017) e do impressionante “Nós” (2019).

17. Jennifer Reeder (EUA, 49 anos)

Outro nome a ser seguido. O que pudemos ver de sua assinatura ainda permite certa dúvida.

18. Alice Rohrwacher (Itália, 38 anos)

Outra diretora da nova geração do cinema italiano, pode ser conferido pelo cinéfilo brasileiro na Netflix, que tem “Lazzaro Felice” (2018) em seu catálogo.

19. Yoon Gaeun (Coréia do Sul, 37 anos)

Diretora coreana da nova geração que tem sido muito elogiada por críticos respeitáveis (ou seja, aqueles que procuram não se render às pressões invisíveis de festivais). Vale conferir.

20. Chloé Zhao (EUA/China, 37 anos)

Outra jovem diretora que deve sair do circuito de arte com seu novo longa, “The Eternals”, da Marvel. Resta saber se suportará o peso da máquina que costuma enterrar autores e autoras.

* Sérgio Alpendre é crítico e professor de cinema