O subgênero da dupla policial inusitada já nos deu uma série de filmes ótimos, da série com o Dirty Harry até os “48 Horas” de Nick Nolte e Eddie Murphy. Normalmente, os dois não se dão. É comum até que um deles nem seja policial. Mas se unem para lutar contra bandidos, da mesma forma que os bons policiais fazem.

“Coffee & Hakeem”, de Michael Dowse, é uma variação desse esquema. Coffee (Ed Helms) é um policial desastrado e incompetente, mas honesto e de bom coração. Ele foi abandonado pela esposa, o que rende alguma gozação no departamento. Mas agora namora uma mãe solteira chamada Vanessa (Taraji P. Henson), cujo filho de 12 anos, Kareem (Terrence Little Gardenhigh), não gosta nem um pouco dessa relação.

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Tentando complicar as coisas para seu futuro padrasto, Kareem acaba se envolvendo, e envolvendo Coffee, numa trama de corrupção e drogas em que um ex-rapper e agora gangster faz parceria com policiais corruptos. De alguma maneira, Coffee e Kareem viram uma dupla inusitada na tentativa de solucionar o caso.

Na porção comédia, o filme vai razoavelmente bem. Ed Helms tem lá sua graça, e o menino Gardenhigh é um verdadeiro achado (revelado nas séries irmãs “Henry Danger” e “Danger Force”). Mas também porque o gangsta-rapper é um pateta, assim como seus comparsas.

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Graças a esses momentos cômicos, não é sacrifício algum chegar ao fim dos quase noventa minutos de aventuras regadas ao acaso e a escolhas equivocadas de todos os lados. Podemos lamentar o aspecto demasiadamente caricatural da policial Watts (Betty Gilpin), e um ou outro momento de gritaria em que o filme descamba para a comédia mais infantilóide (o que é bem pior que infantil). Mas no geral, a graça aparece até mais do que poderíamos esperar numa trama dessas.

Quando pensamos em toda a parte policial, ou seja, quando a detetive Watts e o herói Coffee se esforçam para representar da melhor maneira possível essa profissão tão explorada no cinema americano de gênero, o filme naufraga feio, em parte porque Dowse e o roteirista Shane Mack não conseguiram fazer com que os dois registros se fundissem, como em, digamos, “Um Tira da Pesada” (ao menos o primeiro e o terceiro da série).

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Essa deficiência faz com que “Coffee & Kareem” seja plenamente esquecível no dia seguinte, o que de certo modo é um desperdício do elenco principal e da interação entre um menino e o novo namorado de sua mãe.

 

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* Sérgio Alpendre é crítico e professor de cinema