Desde o início da pandemia de Covid-19, uma síndrome misteriosa vem afetando crianças na Europa e nos EUA. Batizada de “Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica”, ela é caracterizada por febre, dores abdominais, erupções cutâneas, olhos vermelhos, problemas de circulação sanguínea e alargamento dos vasos sanguíneos.

No Cohen Children’s Medical Center, em Nova York, 25 crianças foram admitidas com estes sintomas nas últimas semanas. Na mesma cidade, o NewYork-Presbyterian Morgan Stanley Children’s Hospital atendeu entre 10 e 20 pacientes com a condição, entre crianças e adolescentes.

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Os sintomas são similares a uma doença conhecida como “Doença de Kawasaki”, caracterizada por uma inflamação nos vasos sanguíneos. Entretanto, esta doença é considerada rara, especialmente nos EUA, e afeta em sua maioria crianças entre os seis meses e seis anos de idade.

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Segundo o Dr. Steven Kernie, chefe de medicina pediátrica de cuidados intensivos da Universidade de Columbia e do NewYork-Presbyterian Morgan Stanley Children’s Hospital, há uma diferença importante entre a Doença de Kawasaki e a nova síndrome: nesta, muitas das crianças doentes entram em choque tóxico, com pressão arterial muito baixa e uma inabilidade do sangue de circular oxigênio e os nutrientes necessários para funcionamento dos órgãos.

Foi o que aconteceu com Jayden Hardowar, de 8 anos. Em 23 de abril ele teve uma febre moderada. Nos dias seguintes começou a se sentir fraco e inquieto, até que em 29 de abril, enquanto assistia TV, gritou “mamãe!” e parou de respirar. Foi salvo por seu irmão, escoteiro, que fez compressão torácica até que a ambulância chegasse.

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No hospital, foi colocado em um ventilador mecânico por três dias até começar a melhorar. Embora os resultados de um teste para presença do coronavírus tenham dado negativo, os testes para anticorpos foram positivos, o que indica que em algum momento nas últimas semanas ou meses ele esteve infectado. Jayden é uma das 11 crianças com a síndrome atualmente internadas na UTI do Cohen Children’s Medical Center.

Casos da síndrome

Nesta segunda-feira (4) o departamento de saúde de Nova York emitiu um boletim pedindo que os médicos reportassem casos da nova síndrome. Segundo o boletim, as autoridades já conheciam 15 casos desde 17 de abril, em pacientes com idades entre 2 e 15 anos. Mas os números podem ser bem maiores. Segundo o The New York Times, entrevistas com médicos revelam ao menos 50 casos de crianças que foram tratadas, nem todas em terapia intensiva.

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Segundo os médicos, os casos da nova síndrome começaram a aparecer cerca de um mês depois do início do surto de Covid-19. Isto “sugere uma resposta imune pós-infecção”, diz o Dr. Leonard Krilov, diretor de pediatria do NYU Winthrop Hospital em Mineola, no estado de Nova York.

Tratamento

Alguns pacientes respondem bem a um tratamento padrão para Doença de Kawasaki, uma injeção intravenosa de imunoglobulina, um soro extraído de sangue doado. Foi o caso de um dos pacientes do Dr. Krilov, um garoto de 4 anos cuja família teve Covid-19 e que apresentou febre, erupções cutâneas e problemas renais. Após tratamento com o soro, em alguns dias sua febre baixou e sua função renal voltou ao normal.

Ainda assim, crianças em geral são muito menos suscetíveis que os adultos à Covid-19 ou complicações relacionadas. Segundo a Dra. Jennifer Lighter, especialista pediátrica em doenças infecciosas no NYU Langone Medical Center, a nova síndrome “é muito, muito rara, e as crianças estão bem no geral”, afirma.

Fonte: The New York Times