Mesmo com as medidas de proteção empregadas, o novo coronavírus se espalha pelo mundo rapidamente. Um dos fatores que pode ter contribuído com isso é a presença do vírus em superfícies que são regularmente tocadas pelas pessoas.

Como apontado por Gerald Larrouy-Maumus, pesquisador de doenças infecciosas do Imperial College de Londres, no Reino Unido, as superfícies são uma das maneiras que os patógenos mais utilizam para se espalhar entre as pessoas.

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“As superfícies que tocamos em nossa rotina diária podem ser vetores de transmissão”, diz o pesquisador. Isso de fato é verdade. Estima-se que o vírus que causa a Covid-19 consegue persistir em papelão por até 24 horas, enquanto no plástico e no aço inoxidável esse tempo é estendido para até três dias.

Em alguns outros casos, as bactérias podem sobreviver por vários meses em superfícies comuns – como é o caso da E. Cole e MRSA. Isso apenas reforça a importância de desinfetar continuamente partes frequentemente tocadas.

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No entanto, como apontado por Larrouy-Maumus, há outra solução: alterar a textura das superfícies que usamos ou revesti-las com substâncias que matam bactérias e vírus. O pesquisador aposta em ligas de cobre.

Segundo ele, os íons presentes nas ligas de cobre são antivirais e antibacterianos capazes de matar 99,9% das bactérias em até duas horas. O metal de transição se mostra ainda mais eficaz que a prata – que requer umidade para ativar as propriedades antimicrobianas.

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Ainda hoje, o cobre não é amplamente utilizado em instalações médicas. É caro e mais difícil de limpar sem causar corrosão – além de possuir uma parcela de pessoas que não gostam de tais materiais. Isso fez com que, com o tempo, o cobre fosse substituído pelo aço inoxidável e depois pelo plástico – que tem a vantagem de ser leve e barato.

Reprodução

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Superfícies ajudam na disseminação do novo coronavírus. Foto: electravk 

Embora seja impossível revestir todas as superfícies com cobre, Larrouy-Maumus acredita que seu uso em pontos de acesso específicos, como botões de elevador e maçanetas, poderia ajudar a reduzir a contaminação e a disseminação de doenças, como é o caso do novo coronavírus.

Inspiração na natureza

Enquanto algumas pessoas apostam em elementos presentes estabelecidos, outros procuram formas diferentes – e inusitadas – para combater a disseminação de doenças. Esse é o caso de Elena Ivanova, bioquímica molecular da RMIT University, na Austrália.

A especialista trabalha há cerca de uma década em uma forma de alterar a textura minúscula das superfícies para impedir que colônias bacterianas se desenvolvam. Segundo ela, sua maior inspiração é a asa de alguns insetos.

“As asas da cigarra, por exemplo, são famosas por seu efeito autolimpante. O que significa que as gotas de água batam nelas, mas não fiquem retidas”, disse Ivanova.

Apesar de todo o estudo, ainda não há um material específico que possa recriar as mesmas características. No entanto, a bioquímica aposta em dois elementos: grafeno e titânio.

De acordo com ela, as folhas de grafeno são incrivelmente finas, com “bordas afiadas que podem cortar a membrana bacteriana e matá-la”, embora essas “lâminas” sejam muito pequenas para danificar a pele humana.

Devido às características do titânio, ele pode ser derretido usando alta temperatura e pressão, formando uma folha fina com bordas afiadas que podem matar diferentes tipos de bactérias. “Essas superfícies não exigirão nenhum tratamento específico de agentes químicos ou antibióticos para que sejam eficazes”, declara.

Pilares para prender o vírus

Outra possibilidade para uma superfície capaz de proteger pessoas de se contaminar foi apresentada por Vladimir Baulin, biofísico da Universitat Rovira i Virgili, na Espanha. Ele acredita que é possível prender as partículas virais entre nanopilares – pequenas estruturas em forma de pilar que podem ser produzidas sinteticamente em uma superfície.

Isso poderia ajudar na coleta de vírus para que cientistas possam desenvolver testes e vacinas. Outra estratégia seria texturizar uma superfície para que apresentasse características que rompessem fisicamente a camada mais externa dessas partículas. 

Riscos

No entanto, a abordagem de proteger superfícies para frear a disseminação de doenças deve ser vista com cautela, como alerta Mengying Ren, oficial de política da rede ReAct (Action on Antibiotic Resistence). Ela observa que, “independentemente de quão boas sejam as tecnologias, ainda precisaremos considerar o básico nos estabelecimentos de saúde, como equipamentos de proteção, produtos de limpeza e instalações específicas para prevenir a propagação do vírus”.

Ainda segundo ela, em países de baixa renda, que nem sempre têm um suprimento confiável de água corrente, pode ser especialmente difícil manter os tipos de superfície antimicrobianas limpas. No caso do titânio, a especialista aponta que ele pode ser viável, já que “os detritos das células patogênicas se desprendem das superfícies” – essencialmente tornando-os autolimpantes. O cobre, por sua vez, precisaria ser polido para limitar a oxidação, o que o tornaria menos reativo.

De qualquer forma, levará um tempo para que essas ideias possam encontrar parceiros comerciais que ajudem na implementação. No futuro, essas superfícies podem ser uma ferramenta importante na luta contra doenças infecciosas e até de uma futura pandemia.

Via: BBC