Um grupo de cientistas de universidades de São Paulo projeta que os números de infectados e mortos pelo novo coronavírus podem crescer até 150%, em dez dias, nos municípios que relaxaram medidas de distanciamento social.
Os cálculos são baseados em estatísticas oficiais e nas taxas de aumento de casos registradas em cidades que afrouxaram regras restritivas de circulação durante a pandemia. Os pesquisadores citam o caso de Blumenau, em Santa Catarina, e Milão, na Itália. O número de pacientes infectados na cidade catarinense saltou 160% em cinco dias, após a reabertura de shoppings e do comércio de rua.
De acordo com o especialista em modelagem computacional Domingos Alves, do portal Covid-19 Brasil, grupo formado por cientistas e estudantes de universidades, os municípios do Rio de Janeiro e de Guarulhos apresentam situações especialmente críticas diante da falta de leitos e da tendência de aumento de casos já antes da flexibilização do distanciamento.
A capital carioca iniciou, na terça-feira (2), um plano gradual de retomada das atividades econômicas no município. O projeto é dividido em seis etapas e prevê a abertura de igrejas nas orlas da cidade. Já o estado de São Paulo instituiu um programa de flexibilização de medidas preventivas segmentado em cinco fases. Cada município paulista é responsável por regular os processos de reabertura de acordo com as diretrizes estaduais.
Os pesquisadores estimam que 30% das pessoas infectadas pelo coronavírus não apresentarão sintomas, 55% vão desenvolver sinais leves a moderados, 10% representação quadros graves, e 5% dos casos serão críticos, dos quais metade resultará em mortes. Uma vez que os sintomas de Covid-19 demoram até sete dias para se manifestarem, os estudiosos apontam que 15% dos novos infectados precisarão ser internados daqui a uma semana.
Em entrevista ao jornal O Globo, Alves diz que a situação deve sobrecarregar os sistemas de saúde. Ele acusa prefeitos e governadores de relaxarem as medidas de distanciamento social por motivações políticas. “O único distanciamento que vemos neste momento é aquele entre o que falam governadores e prefeitos e o que dizem os comitês científicos que os assessoram”, afirmou Alves, que também é líder do Laboratório de Inteligência em Saúde da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo.
Os pesquisadores afirmam que em quase todos os estados brasileiros a pandemia de Covid-19 continua a acelerar. Eles destacam que a curva de crescimento do contágio no Brasil é a única a manter a tendência de aceleração a partir do 50º dia após o surgimento de casos no país.
“De fato, a partir do 54º dia, o Brasil é o país com a maior taxa de crescimento de casos confirmados”, aponta uma Nota Técnica assinada pelos grupos de monitoramento Ação Covid-19, Covid-19 Brasil e Laboratório de Saúde Coletiva (Unifesp), obtida pelo jornal.
Ao anunciar o programa de retomada econômica no estado, representantes do Governo de São Paulo indicaram que a decisão acompanhava sinais de achatamento da curva de contágio da pandemia. Na ocasião, a secretária de desenvolvimento social Patrícia Ellen citou, no entanto, que o surto ainda está em etapa de crescimento, mas com um ritmo menor.
A nota técnica dos pesquisadores, porém, reforça que as medidas de flexibilização adotadas no Brasil ignoram diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS). A entidade estabeleceu seis critérios que devem ser considerados em decisões de relaxamento do isolamento social.
Para os cientistas, o Brasil ainda não garantiu o achatamento da curva porque não houve desaceleração do número de casos. Este cenário exclui qualquer base para a flexibilização das regras de distanciamento e as medidas de relaxamento adotadas no Brasil não tem qualquer base científica. Além disso, segundo eles, o país continua a testar pouco e de forma incorreta.
Os pesquisadores recomendam que, em vez de abrandar as regras preventivas, cidades como Manaus, Belém, Rio de Janeiro e São Paulo deveriam aderir a regimes ainda mais rígidos de distanciamento social, como o bloqueio total ou lockdown.
Fonte: O Globo
Esta post foi modificado pela última vez em 3 de junho de 2020 16:30