A resposta imunológica do organismo contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2) pode ser duradoura, indica uma nova pesquisa publicada na revista Nature nesta quarta-feira (15).

Conduzido por cientistas de institutos de Singapura, o estudo analisou a amostra de 23 pessoas recuperadas de SARS – também causada por um coronavírus – e concluiu que os participantes apresentam respostas de células T contra a doença, mesmo após 17 anos da infecção.

“Esses achados demonstram que as células T específicas para vírus induzidas por infecção por betacoronanvírus são duradouras, apoiando a noção de que pacientes com Covid-19 desenvolverão imunidade a longo prazo por células T”, diz a pesquisa.

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Mais de 2 milhões de pessoas já foram infectadas pelo novo coronavírus no Brasil. Imagem: NIADI

As células T, ou linfócitos T, correspondem a partículas de defesa do sistema imunológico responsáveis por atacar células infectadas por invasores. Elas diferem dos anticorpos, que reconhecem microorganismos fora das células e são produzidos por outra partícula chamada linfócito B.

Assim como os anticorpos, as funções das células T são associadas à memória formada diante de exposições passadas do organismo a agentes infecciosos. Essas memória pode ser curta ou de longo prazo.

Em entrevista ao G1, Natália Machado Tavares, pesquisadora de imunologia e patologia da Fiocruz Bahia, explica que em dado momento anticorpos perdem a função e passam ser degradados, “mas a imunidade tem essa função, esse papel, de guardar uma subpopulação de células de memória”, afirmou a cientista.

Imunidade cruzada

O estudo de Singapura ainda aponta que as células T de pacientes recuperados de SARS são capazes de reconhecer partes do novo coronavírus. Para os autores da pesquisa, isso indica que os linfócitos T podem “proteger ou modificar a patologia causada pela infecção por Sars-CoV-2 [o novo coronavírus]”.

A mesma reação de células T foi encontrada em pessoas que nunca estiveram expostas à Covid-19 ou à SARS. A descoberta sugere, diz a pesquisa, que a infecção por outros vírus também pode aprimorar a resposta defensiva do organismo contra o novo coronavírus.

 

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Ilustração de uma célula T. Imagem: Memorial Sloan Reprodução

Ainda não está claro, no entanto, qual é a verdadeira capacidade dessa imunidade cruzada de proteger o corpo da doença. “Compreender a distribuição, frequência e capacidade de proteção de células T preexistentes com reação cruzada ao Sars-CoV-2 pode ser de grande importância para explicar algumas das diferenças nas taxas de infecção ou na patologia observada durante esta pandemia”, afirma o estudo.

Estudos

Apesar das incertezas, as células T são também objetos de estudo de cientistas no desenvolvimento de vacinas e tratamentos. No Reino Unido, cientistas testam um medicamento chamado interleucina 7, que induz o aumento da produção de células T no corpo. A proposta do projeto é justamente verificar a capacidade dessas células de contribuírem na recuperação de infectados pelo novo coronavírus.

Já no Brasil, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e o Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) estudam uma vacina que, além de buscar a produção de anticorpos contra o vírus, conta com componentes adicionais para estimular a atuação de células T.

Fonte: G1