Em um novo estudo, pesquisadores indicam que uma mulher egípcia mumificada com a boca aberta pode ter morrido de ataque cardíaco. Uma tomografia computadorizada realizada na múmia detectou aterosclerose generalizada, um acúmulo de placas de gordura dentro dos vasos sanguíneos, o que impede a circulação do sangue.

Com isso, os egiptólogos argumentam que ela possivelmente morreu de ataque cardíaco, e que só foi encontrada horas depois do ocorrido, em um momento que o corpo estava começando a apresentar o chamado rigor mortis – um enrijecimento dos músculos e articulações que começa uma ou duas horas após a morte e desaparece quando o corpo começa a se decompor. Sua mandíbula deve ter aberto enquanto morria, ficando congelada para sempre.

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No entanto, pesquisadores são bastante céticos em relação à história. Principalmente porque a mumificação é um processo longo e a rigidez de um corpo dura apenas alguns dias, geralmente o mesmo tempo em que começa a se decompor.

“É muito mais provável que os invólucros ao redor da mandíbula simplesmente não fossem apertados o suficiente para manter a boca fechada, pois ela tende a abrir se deixada por conta própria”, disse Andrew Wade, antropólogo da Universidade McMaster.

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Descoberta em 1881, a múmia estava enterrada no Deir el-Bahari, um complexo de tumbas localizado no lado ocidental do rio Nilo. O nome “Meritamun” estava escrito em seus invólucros, mas especialistas não têm certeza de que essa é sua identidade.

Havia várias princesas no Egito antigo com esse nome, incluindo a filha do governante da 17ª dinastia de Tebas, Seqenenre Taa II, que governou por volta de 1558 a.C., e a filha de Ramesses II – conhecido como Ramsés, o Grande – que se tornou faraó em 1.279 a.C.

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Grito congelado

Meritamun é uma de duas múmias encontradas em Deir el-Bahari com uma espécie de grito congelado. A segunda, identificada como Pentawere, era o filho de Ramsés III, que foi forçado a se suicidar depois que supostamente participou de uma conspiração para cortar a garganta do faraó.

Como ele morreu como um suposto traidor, sua condição ainda pode ser explicada. Além de ser mumificado com pele de carneiro ao invés de linho, seus órgãos não foram removidos. Aparentemente, esse processo feito “de qualquer jeito” fez com que a boca não ficasse firme no lugar. 

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Mistério de Meritamun

Para tentar resolver o mistério da “múmia que grita”, o egiptólogo Zahi Hawass, ex-ministro egípcio de Antiguidades, e Dr. Sahar Saleem, radiologista da Universidade do Cairo, decidiram usar a tomografia computadorizada para montar uma imagem 3D virtual da múmia.

As varreduras feitas revelaram que Meritamun estava bem mumificada. Ao contrário de Pentawere, ela teve seus órgãos removidos, embora seu coração, traqueia e pulmões ainda estivessem presentes. Sua cavidade abdominal estava cheia de linho e resina. O cérebro também não foi retirado. Na morte, ele murcha na parte traseira direita do crânio, fazendo com que a cabeça da múmia se incline.

A tomografia computadorizada não revelou conclusivamente os laços familiares de Meritamun. Uma pista possível para sua identidade é que seu cérebro não foi removido. A remoção do cérebro era mais comum nas múmias da 19ª dinastia do que nas múmias da 17ª dinastia. Por esse motivo, é plausível que Meritamun fosse filha de Seqenenre Taa II, não Ramsés, o Grande.

Com base em seus ossos e dentes, os especialistas estimam que a mulher morreu por volta dos 50 anos e possuía pouco menos de um metro e meio de altura. Em análises mais profundas, os dentes estavam cheios de cáries e alguns molares estavam podres. A maior pista de saúde, no entanto, é a aterosclerose detectada.

Apesar da ideia de morte por ataque cardíaco, isso não passa de um palpite – além de ataque do coração, a condição pode resultar em um derrame ou bloqueio de um vaso sanguíneo do cérebro. Descobertas adicionais devem ser publicadas em uma edição futura da publicação Egyptian Journal of Radiology and Nuclear Medicine.

Acontecimento comum

Múmias “gritando” não são incomuns. Essas expressões geralmente são resultado do relaxamento dos ligamentos da mandíbula. Apesar de os invólucros ao redor mantenham a boca fechada, eles podem se soltar com o tempo.

No entanto, devido ao estado do restante da mumificação de Meritamun, especialistas são céticos em relação ao suposto afrouxamento dos invólucros da mandíbula. “Algum tipo de combinação de rigor e espasmo cadavérico – embora incomum – é uma hipótese razoável”, disse Andrew Nelson, um professor de bioarqueologia da Universidade de Western Ontario.

Via: Live Science