Os eventos de glaciação mais extremos conhecidos pela ciência literalmente remodelam a superfície da Terra, com o gelo se estendendo das regiões polares do planeta até as latitudes mais baixas. No entanto, nem todas as eras glaciais são tão brutais.

Evidências dessas enormes transformações estão presentes no registro geológico da Terra, sendo as mais recentes de glaciações do período criogênico. Os cientistas acreditam que esses eventos extremos de resfriamento tinham alcance potencialmente global: um fenômeno chamado “Terra Bola de Neve”.

Mas o que poderia desencadear um frio tão implacável ao ponto de congelar todo (ou quase todo) o nosso planeta? Apesar de os gatilhos exatos permanecerem desconhecidos, os pesquisadores descobriram uma nova explicação teórica de como isso pode acontecer.

“Existem muitas ideias para o que causou essas glaciações globais, mas todas se resumem a alguma modificação implícita da radiação solar”, diz Constantin Arnscheidt, pesquisador de ciência planetária do MIT. “Mas geralmente tem sido estudado no contexto de ultrapassar um limite”.

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Terra congelada?

De forma resumida, a explicação convencional para a “Terra Bola de Neve” é que, em algum tipo de projeção cataclísmica de sombra, a maior parte da luz solar não chegaria ao planeta. Como resultado, a Terra esfria e congela.

Outra hipótese, relacionada ao ciclo do carbono, seria o oposto da crise de aquecimento global enfrentada atualmente: e se a Terra tivesse tão pouco dióxido de carbono na atmosfera para segurar o calor que perdemos completamente o clima temperado, com o calor se dissipando no espaço?

“Existe um entendimento geral de que a glaciação é iniciada quando as mudanças nos fluxos radiativos ou nos fluxos de CO2 excedem um limiar crítico”, explicam Arnscheidt e Daniel Rothman, geofísico do MIT e coautor da pesquisa, em seu novo artigo.

Embora a teoria tenha se concentrado nesses pontos críticos antes, os pesquisadores encontraram uma nova via para pensar nos precursores da “Terra Bola de Neve”: e se não fosse um limiar crítico a ser atingido (como a queda da radiação solar), e sim uma taxa crítica de mudança?

Em um novo modelo, pesquisadores simularam os sistemas dinâmicos da Terra em cenários de glaciação – principalmente a interação entre a capacidade de reflexão de radiação do gelo e o ciclo do carbono-silicato.

O primeiro é um exemplo de feedback positivo. À medida que a Terra fica mais gelada e se aproxima do estado de Bola de Neve, sua camada de gelo e neve acabam refletindo mais luz solar do planeta. Isso, por sua vez, acelera os efeitos de resfriamento.

No entanto, conforme a Terra esfria, nosso ciclo usual de carbono-silicato é interrompido. Com as rochas do planeta seladas sob o gelo, elas são menos capazes de absorver o carbono atmosférico, de modo que ele permanece no ar retendo o calor. É por isso que, teoricamente, a Terra não ficaria presa em um estado permanente de “Terra Bola de Neve”, apesar da reflexão de radiação da superfície.

Com esses fatores incorporados em seus modelos, os pesquisadores examinaram se alterações nessas taxas poderiam induzir um evento de glaciação. Nas circunstâncias certas, aconteceu. Os resultados foram publicados na Proceedings of the Royal Society A.

Nas simulações, os cientistas descobriram que, se a radiação solar caísse rapidamente e assim ficasse por tempo o bastante, isso poderia desencadear um evento de “Terra Bola de Neve”. Seria necessária apenas uma queda de 2% na luz solar atingindo a superfície por dez mil anos, segundo as estimativas.

É bem pouco tempo se considerarmos a idade da Terra (aproximadamente 4,5 bilhões de anos). Mas o que poderia esconder o planeta da luz solar por tanto tempo?

Não se sabe ao certo, mas é plausível que algo como um inverno em escala global causado por erupções vulcânicas possa cobrir suficientemente nossa atmosfera. Como alternativa, algum fenômeno biológico no passado da Terra, como um aumento nas algas produtoras de umidade, poderia gerar nuvens de condensação que poderiam congelar e escurecer o planeta.

Todas essas hipóteses existem, apesar de não termos certeza absoluta. Mas isso não significa que devemos deixar de entender como a “Terra Bola de Neve” se formou – especialmente agora, que corremos muito rápido na direção oposta.

“Isso nos ensina que devemos ter cuidado com a velocidade com que estamos modificando o clima da Terra, não apenas com a magnitude da mudança”, alerta Arnscheidt.

Via: Science Alert