Uma onda de calor causada pelo aquecimento global está fazendo com que temperaturas na Sibéria passem dos 38 ºC e causando o desaparecimento do gelo que cobre o Oceano Ártico. Há tão pouco gelo sobre o Mar de Laptev, ao norte da Sibéria, e no Mar de Barents, ao oeste, que a cobertura total de gelo no Oceano Ártico chegou ao menor nível para meados de julho desde que se tem registros.

Segundo Mark Serreze, diretor do Centro Nacional para Gelo e Neve nos EUA, “neste ano estamos meio que no meio de um grande experimento”. O “experimento” a que ele se refere é uma combinação de fatores regionais e globais que, juntos, estão levando ao derretimento do gelo em grande volume.

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Em fevereiro o vórtice polar, um “cinturão” de ventos que circunda o Ártico, atingiu velocidade recorde. Isso alterou a circulação dos ventos no planeta, e causou o surgimento de fortes ventos norte na costa da Sibéria, empurrando gelo para o centro do Oceano Ártico.

Isso pode parecer bom, afinal o problema é a falta de gelo. Mas, na prática, o efeito é o contrário. “Estes ventos levam gelo mais velho e estável para o meio do oceano e criam regiões de gelo muito fino na costa”, diz Andrea Lang, Professora Adjunta de Ciências Atmosféricas na Universidade de Albany, em declaração ao site MotherBoard. “Este gelo fino derrete mais rápido, e no verão deixa o oceano exposto muito mais cedo do que se fosse gelo antigo, de múltiplos anos”.

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Isso é acelerado quando há muita luz solar e calor para derreter o gelo. E além do hemisfério norte estar no verão, uma época em que o sol brilha no céu praticamente o dia todo, a região está sofrendo com uma prolongada onda de calor que, nos primeiros seis meses do ano, resultou em temperaturas 5 ºC acima da média.

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A diminuição do gelo no Ártico pode causar o desaparecimento de espécies como os ursos polares.

O pico desta onda ocorreu em meados de junho, quando a cidade de Verkhoyansk, na Rússia, registrou uma temperatura de 38 ºC. Foi nesta época que a quantidade de gelo “literalmente despencou”, diz Zack Labe, climatologista na Universidade do Estado do Colorado.

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Desde então as coisas pioraram. Uma região de alta pressão atmosférica se formou sobre o centro do Oceano Ártico, resultando em temperaturas 10 ºC acima da média. Durante a primeira metade de julho a combinação de sol constante e clima mais quente resultou no desaparecimento de mais de 21 mil km² de gelo diariamente, uma área equivalente ao estado de Sergipe.

Ainda não está claro se 2020 irá superar o recorde de menor quantidade de gelo registrada no Ártico em setembro (fim do verão), estabelecido em 2012. Se o restante do verão tiver um tempo mais fechado e tempestuoso, o derretimento pode desacelerar. Por outro lado, ciclones árticos, comuns no fim do verão e causados pela diferença de temperatura entre o continente e o oceano, podem acelerar a destruição do gelo.

De qualquer forma, o que está acontecendo neste ano é significativo. Segundo Serreze, é “muito provável” que a formação de gelo no outono ocorra mais tarde, o que pode causar impactos que se estenderão até 2021.

Isso pode, a longo prazo, acelerar a tendência de derretimento do gelo do Ártico causada pelo aquecimento global, algo que teria efeitos com repercussão em todo o planeta.

Fonte: Motherboard