O governo do Paraná anunciou nesta que assinará nesta quarta-feira (12) uma parceria com a Rússia para testar e produzir a polêmica Sputnik V, a vacina desenvolvida pelo instituto Gamaleya contra a Covid-19 e que foi a primeira a ser registrada no mundo.

Apesar da pressa com que os pesquisadores e o governo russo avançaram nos testes e no registro, a expectativa do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) para o composto ainda é conservadora. Em entrevista, Jorge Callado, presidente da instituição, projeta que as aplicações possam começar apenas no segundo semestre de 2021.

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Um motivo pelo qual a previsão ainda é distante é que, da forma como as pesquisas da vacina avançaram até hoje, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não tem condições de aprovar seu uso. Para isso, será necessário que sejam realizados os ensaios clínicos de fase 3, que comprovam se o composto realmente é eficaz contra o vírus.

Com a parceria com Paraná e o governo russo, o Brasil entra na rota da fase 3 de testes da vacina, que permitirão dar maior clareza sobre o composto. “O que assinamos amanhã é um primeiro passo para o Paraná se tornar polo na relação com a Rússia para poder produzir, vacinar, testar”, afirmou o secretário da Casa Civil paranaense, Guto Silva.

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É a segunda vacina internacional que chega para testes ao Brasil por iniciativa do governo paranaense. A primeira foi a do laboratório chinês Sinopharm, com previsão de testes começarem ainda em agosto. Além disso, o país já tem outras três vacinas: a da AstraZeneca e da universidade de Oxford, que veio ao Brasil com uma iniciativa do Ministério da Saúde e produção pela Fiocruz, e da Sinovac, como ação do governo de São Paulo e produção pelo Instituto Butantan. Além disso, também está em andamento o teste do imunizante da Pfizer e da BioNTech.

Será que funciona?

A Sputnik V foi encarada pela comunidade científica com grande desconfiança, apesar do otimismo do governo russo. O problema reside na falta de transparência das pesquisas, sem a publicação dos resultados de nenhuma das etapas de testes com seres humanos.

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Oficialmente, o que se sabe é que a vacina passou pela fase 1, com 38 participantes, sem grandes transtornos, mostrando-se segura quando testada nesta amostragem pequena. A fase 2 estava programada para se encerrar no início de agosto, mas até o momento não há relatos dos resultados. Agora, com a aprovação mesmo apenas a fase 2, a Rússia espera começar a distribui-la primeiramente a profissionais de saúde e, a partir de outubro, para a população em geral, enquanto a fase 3 das pesquisas se desenrola.

A questão é que sem a fase 3, não há como comprovar que a vacina funciona. É nesta etapa que os participantes são divididos em dois grupos, o que recebe o imunizante em testes e o outro que recebe apenas um placebo, incapaz de proteger o voluntário. Esses grupos, formados por milhares de pessoas, são acompanhados por meses para ver se há alguma diferença substancial entre as taxas de contágio. Para acelerar os estudos, profissionais de saúde que estão em contato direto com pacientes infectados são os preferidos para participar dos testes, já que eles tendem a se expor ao vírus com mais facilidade.

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Sem essa etapa, o máximo que se tem é o acompanhamento de marcadores imunológicos, como a geração de anticorpos e células T. A presença dessas partículas protetoras é importante e um sinal positivo, mas não são prova definitiva de que uma pessoa está protegida contra uma infecção. Existem casos que mostram que o exato oposto é possível: o vírus da dengue, por exemplo, possui quatro variações e, quando se desenvolve imunidade contra uma delas, as outras se tornam mais letais por causa da confusão dos sistemas de proteção do organismo.