Cientistas da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, identificaram um mecanismo usado pela bactéria Vibrio parahaemolyticus para sair de células infectadas e se espalhar pelo corpo humano. Conhecido por causar inflamações no sistema digestório, o microorganismo modifica propriedades de moléculas de colesterol presentes na membrana celular para enfraquecer e violar a camada.

A Vibrio pode infectar humanos por meio do consumo de carne de frutos do mar, como ostras e mariscos, contaminados. Entre os sintomas estão náuseas, vômitos e diarreia. Para os cientistas, embora a descoberta não aponte nenhum tipo de tratamento contra as infecções, o estudo é fundamental para entender como a bactéria provoca doenças – geralmente, pacientes se recuperam sem a necessidade de terapias.

“Quanto mais entendermos como as bactérias manipulam as células hospedeiras em nível molecular, melhor entenderemos como elas causam doenças”, diz a autora principal do estudo Kim Orth, professora de biologia molecular do Centro Médico da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, em comunicado. “As bactérias têm muitos mecanismos diferentes para escapar, mas isso se destacou porque é especialmente novo.”.

Enzima especial

Há quase uma década, Orth e outros pesquisadores revelaram que a Vibrio invade células humanas com a ajuda de uma estrutura conhecida como “sistema de secreção do tipo três 2”, ou T3SS2. Esse sistema é composto por um complexo de proteínas que formam uma espécie de espícula capaz de injetar moléculas na célula. O processo induz as partículas a absorver a bactéria.

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Uma vez no meio celular, a Vibrio se reproduz e parte dos microorganismos abandona a célula hospedeira para procurar por células saudáveis e repetir o processo. Os cientistas, no entanto, identificaram que o T3SS2 não desempenha um papel fundamental no mecanismo de fuga da bactéria.

Os pesquisadores investigaram enzimas chamadas lipases presentes no genoma do microorganismo. As lipases são responsáveis por decompor moléculas de gordura que revestem as membranas celulares. O estudo identificou que uma enzima em especial, chamada VPA0226, atua sobre a mitocôndria das células e provoca alterações nas moléculas de colesterol. As mudanças enfraquecem a membrana celular.

Em experimentos laboratoriais, uma única bactéria foi capaz de se replicar em outros 500 clones. Todas as cópias conseguiram escapar pela membrana enfraquecida. Para confirmar o papel decisivo da VPA0226 no processo, a equipe coordenada por Orth ainda fez testes com Vibrios que careciam completamente da lipase. As bactérias conseguiram invadir células humanas normalmente, mas ficaram retidas dentro das células hospedeiras.

“Tínhamos uma visão de que a TS3SS2 era responsável por toda a atuação da Vibrio, mas a descoberta mostra quantas outras ferramentas ela tem à disposição para usar em sua patogênese”, afirmou Orth.

Via: outbreaknews