Era janeiro de 1944. Boa parte da Europa estava ocupada por tropas nazistas, e as forças aliadas se preparavam para a Operação Overlord – a invasão do continente, via Normandia, que mudaria o rumo da Segunda Guerra e a encaminharam ao seu final, que aconteceu há exatos 75 anos, no dia 2 de setembro de 1945. Foi nesse contexto que o Exército dos Estados Unidos formou as tropas especiais conhecidas como “Exército Fantasma”, um grupo que ajudou a vencer a guerra sem disparar nenhum tiro.

Sob o comando do coronel do Harry L. Reeder, a unidade consistia em uma força de 82 oficiais e 1.023 homens, especializados em enganar as tropas inimigas. Não se tratava de espionagem, ou contraespionagem, mas na construção e posicionamento de infantaria, veículos e equipamentos falsos – mas que poderiam ser tomados como verdadeiros pelos batedores adversários, fazendo com que o comando nazista pensasse que as tropas aliadas parecessem muito maiores ou mais espalhadas.

O Museu Nacional da Segunda Guerra, em Nova Orleans, nos EUA, está promovendo uma exposição dedicada ao trabalho do 23º Quartel-General das Tropas Especiais. Em exibição até janeiro de 2021, a mostra “Ghost Army: The Combat Con Artists of World War II” conta a história da unidade e apresenta uma série de artefatos utilizados na época.

“No passado, quando as operações desse tipo aconteciam, era geralmente algo temporário”, explica Larry Decuers, curador do museu. “Esta foi uma unidade desenvolvida especificamente para enganar”.

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The National WWII Museum/Divulgação

As tropas do “Exército Fantasma” em operação na Europa. Imagem: The National WWII Museum/Divulgação

De acordo com o museu, os pouco mais de mil soldados do “Exército Fantasma” eram capazes de simular duas divisões inteiras (aproximadamente 30 mil homens) e usavas recursos visuais, sônicos e de rádio para enganar as forças alemãs durante o último ano de conflito. O grupo participou de 22 operações em grande escala na Europa.

Os oficiais do Exército norte-americano criaram o “Exército Fantasma” inspirado pelo sucesso das táticas britânicas usadas no norte da África. A Operação Bertram, encenada em 1942, usou camuflagem e mais de dois mil veículos falsos para convencer os alemães de que os britânicos estavam fortalecendo uma posição ao sul – o que ocultou a mobilização britânica no norte.

A unidade incluía artistas famosos como o estilista Bill Blass, o pintor Ellsworth Kelly e o fotógrafo Art Kane, além de engenheiros, soldados e recrutas. Veículos e tanques infláveis eram um equipamento comum, que poderia ser facilmente colocado em posição. O tráfego de rádio falso usava operadores tão habilidosos que podiam imitar o estilo de envio de mensagens via código Morse de unidades específicas do Exército.

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Avião falso utilizado para enganar as tropas nazistas na Segunda Guerra Mundial. Imagem: The National WWII Museum/Divulgação

Engenheiros de áudio foram recrutados para pré-gravar sons de exercícios de treinamento e a construção de trincheiras e pontes. Reproduzidas em grandes alto-falantes dentro do alcance das tropas alemãs, esses sons convenciam os nazistas de que unidades de combate inteiras ocupavam locais que na verdade estavam indefesos. O uso de insígnias de outras unidades e uniformes ainda confundiam potenciais espiões nas cidades próximas.

“Sua missão de maior sucesso foi a Operação Viersen”, que aconteceu de 18 a 24 de março de 1945, lembra Decuers. Na ocasião, o “Exército Fantasma” usou 600 veículos infláveis,  uniforme falsos e gravações da construção de pontes flutuantes, “tudo para enganar os alemães fazendo-os acreditar que a 30ª Divisão de Infantaria e a 79ª Divisão de Infantaria estavam se preparando para cruzar o rio Reno”, explica o curador. Ludibriados, os alemães moveram a maior parte de suas defesas através do rio a partir do local suspeito, bombardeando um exército que não existia.

Após a guerra, os seus membros juraram segredo e, com exceção de uma menção em um jornal de logo depois do fim da guerra e um artigo publicado em 1985 pelo museu Smithsonian, o “Exército Fantasma” permaneceu sob sigilo até meados da década de 1990.

Via: LiveScience