No último mês de agosto, um estudo publicado na Revista Nature apontou que existe 200 milhões de toneladas de plástico só no Oceano Atlântico. Como consequência do descarte inadequado desse material, um grande problema para a vida marinha são os pedaços menores, os chamados microplásticos — eles medem menos de 5 mm e são geralmente provenientes de restos de embalagens. 

O mais assustador é que esses fragmentos foram detectados recentemente em tecidos humanos. Uma descoberta inédita, da Universidade Estadual do Arizona, revelou micropartículas plásticas em 47 amostras de órgãos como pulmão, fígado, baço e rins. 

O estudo identificou dezenas de tipos de plástico nos tecidos humanos. Todas as amostragens tinham traços de Bisfenol A (BPA), um produto químico presente em embalagens de alimentos. Também havia em algumas das amostras policarbonato (PC), polietileno (PE) e tereftalato de polietileno (PET) — aquele que é usado em garrafas plásticas.

Ao que indicou o estudo, os microplásticos podem entrar na cadeia alimentar humana. Porém, ainda não se sabe ao certo o tamanho do estrago que esses materiais podem realizar na saúde dos seres humanos. Todavia, a pesquisa foi considerada um grande passo adiante para entender melhor esses efeitos, e foi apresentada em um congresso virtual da Sociedade Americana de Química (ACS, na sigla em inglês). 

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“Não queremos ser alarmistas, mas é preocupante que esses materiais não-biodegradáveis presentes em todo lugar podem entrar e se acumular em tecidos humanos, e não sabemos sobre os possíveis efeitos para a saúde disso”, constatou Varun Kelkar, estudante de graduação e co-autor da pesquisa.

Em busca de respostas

A maior questão da ciência que estuda o microplástico é entender quais danos ele pode realmente ter. Hipóteses anteriores, com base em modelos animais, já apontaram para efeitos como infertilidade, inflamação e até o desenvolvimento de câncer. Além disso, já foi comprovado que o microplástico pode passar pelo trato intestinal.

O diferencial do novo estudo, entretanto, é que os pesquisadores descobriram de modo inédito o acúmulo das micropartículas plásticas nos órgãos. Dados dos doadores dos tecidos foram coletados, incluindo informações sobre estilo de vida, ocupação e dieta dos indivíduos. Isso pode ser a chave para os cientistas encontrarem o caminho que os micro e nano plásticos percorrem no organismo. 

“Assim que tivermos uma ideia melhor do que está nos tecidos, podemos realizar estudos epidemiológicos para avaliar os resultados de saúde humana”, explicou Kelkar. “Dessa forma, podemos começar a entender os riscos potenciais à saúde, se existirem”.

Fonte: Vice