No contexto da Covid-19, comorbidades podem contribuir para o agravamento do quadro de um paciente com a doença. Em Nova York e Washington, 20 a 30% de hospitalizados apresentaram sinais de lesão cardíaca. Ao que indica o estudo da Universidade de Ohio (EUA), agora, estão surgindo evidências de que a condição também pode afetar pacientes assintomáticos ou que apresentem quadro leve de sintomas. Especialmente se eles particarem exercícios físicos enquanto infectados com a doença. 

Essa preocupação cancelou, no mês passado, duas conferências esportivas universitárias que teriam início no segundo semestre de 2020. Segundo a pesquisa, o vírus Sars-Cov-2 tem chances de provocar a miocardite, inflamação da camada média do coração (miocárdio). Além disso, a atividade física enquanto infectado poderia agravar o quadro.  

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A miocardite é frequentemente desencadeada por uma infecção, seja por vírus, bactéria, amebas e vermes. Além das evidências sobre o coronavírus, há outros 20 vírus diferentes identificados como potenciais causadores dessa inflamação. O paciente pode ter falência do bomba cardíaca, ou seja, redução da capacidade do coração de bombear o sangue, a inflamação pode acarretar o surgimento de arritmias cardíacas. 

Praticar exercícios físicos com a inflamação pode causar diversos problemas, desde inchaço nas pernas até tontura, falta de ar e, em casos mais graves, arritmia, parada cardíaca e morte súbita. No mês passado, o jogador de basquete nigeriano Michael Ojo morreu por complicações cardíacas durante uma partida profissional na Sérvia. Aos 27 anos, ele havia se recuperado de Covid-19 há pouco tempo. Quando há repouso, entretanto, a inflamação desaparece e o músculo cardíaco se recupera naturalmente.

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Estudos sugerem que a Covid-19 pode criar inflamação no coração até em quem não tem sintomas, que podem ser agravados por exercícios físicos em pacientes recém recuperados. Créditos: Lucas Oliveira/Fotos Públicas

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Entre junho e agosto deste ano, 26 atletas da Universidade do Estado de Ohio passaram por ressonância magnética após terem sido diagnosticados com Covid-19. Quatro deles apresentaram sinais de inflamação no miocárdio, sendo que dois deles eram assintomáticos. Como esses atletas não fizeram o mesmo exame antes do diagnóstico, não é possível afirmar que esta foi a causa da miocardite.

Não atletas também correm riscos

Outro estudo, conduzido pela Jama Cardiology, na Alemanha, examinou 100 pessoas não atletas após serem diagnosticadas com Covid-19; 78 delas apresentaram sinais de inflamação no miocárdio, sendo que 12 eram assintomáticas.

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A frequência com que isso pode ocorrer, entretanto, ainda não é conclusiva. Segundo Eric Topol, diretor do Scropps Research Translation Institute, na Califórnia, “essa é uma fronteira não mapeada”. Ele afirma que, para se chegar a uma conclusão mais precisa, são necessários estudos sistemáticos em grandes grupos. Até agora, isso não tem sido a prioridade dos pesquisadores, isso porque há outros causadores da miocardite. A diferença, porém, é que “a maioria deles não infecta dezenas de milhões de pessoas em seis meses”. 

Fonte: Wired