Um estudo da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, identificou que uma doença infecciosa responsável por deformações ósseas em crianças é propagada há mais de 4 mil anos entre humanos. Provocada pela bactéria Treponema pallidum, a bouba causa lesões na pele altamente infecciosas e é transmissível por meio do contato direto com as secreções das feridas.

Embora seja facilmente tratável nos estágios iniciais, casos graves da doença podem levar à deformações ósseas irreversível. A bouba foi erradicada em grande parte do mundo, mas ainda prevalece em regiões de florestas tropicais na Ásia, África e América Latina. A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 80 mil pessoas são infectadas pela bactéria todos os anos.

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A pesquisadora Melandri Vlork, candidata ao programa de PhD na Universidade de Otago, usou a arqueologia para identificar a incidência da bouba em sociedades antigas. A cientista estuda os primeiros contatos entre sociedades agrícolas e caçadores-coletores, isto é, humanos que viviam em sociedades baseadas somente na caça e coleta de plantas silvestres.

Em 2018, a cientista viajou ao Vietnã para estudar materiais encontrados no sítio arqueológico Man Bac, no norte do país. Explorado entre 2005 e 2007, o local forneceu um grande volume de informações para arqueólogos sobre a formação de sociedades agrícolas no sudeste asiático continental.

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A bioarqueóloga e supervisora de Vlok, Hallie Buckley, encontrou indícios de bouba nos materiais fotografados por sua aluna. As duas pesquisadores então viajaram ao Vietnã e confirmaram a primeira evidência da existência da doença na Ásia pré-histórica. Mais tarde, Vlok ainda identificou um segundo caso provável de infecção.

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A pesquisa sugere que a bouba chegou a sociedades de caçadores-coletores, a partir da migração de populações agrícolas para o sul de onde hoje está localizada a China. Embora já tenham sido registrados indícios de agricultura há 9 mil anos no país, a prática foi introduzida no Sudeste Asiático somente há cerca de 4 mil anos.

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O estudo indica que esse fluxo populacional contribui para propagação de uma série de doenças, incluindo a bouba, para onde é atualmente o Vietnã. Em comunicado, Vlok argumenta que analisar a incidência da bactéria na região pode ajudar a entender as dificuldades de erradicação da infecção.

“Isto importa, à medida que saber mais sobre esta doença e sua evolução muda a forma como entendemos a relação que as pessoas têm com ela. Se está conosco há milhares de anos, provavelmente se desenvolveu para se adaptar muito bem aos humanos.”, pontuou a pesquisadora

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Ela ressalta ainda que o estudo pode proporcionar lições para o presente, principalmente diante da pandemia do novo coronavírus.

“Entendemos hoje como a Covid-19 é eficiente na adaptação aos seres humanos. E a Treponema [bactéria da bouba] está conosco há muito mais tempo. Isso nos mostra o que acontece quando não tomamos medidas contra essas doenças [epidêmicas]. É uma lição sobre o que as doenças infecciosas podem fazer a uma população se você as deixar se propagarem amplamente.”, finaliza.

Via: Phys.org