Mais de 10% das pessoas saudáveis ​​que desenvolvem a forma mais grave da Covid-19 produzem anticorpos que atacam o próprio sistema imunológico em vez do vírus. Outros 3,5% dos pacientes carregam mutações genéticas que prejudicam a resposta do corpo à doença. Essas são algumas das descobertas relatadas em dois estudos produzidos pelo COVID Human Genetic Effort e publicados na Science (aqui e aqui).

As pesquisas ajudam a explicar por que algumas pessoas da mesma faixa etária desenvolvem a Covid-19 de maneira muito mais grave do que outras. Nos dois grupos, foi observada uma carência de Interferons de tipo I – um conjunto de 13 proteínas cruciais para proteger as células do corpo contra os vírus.

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Os pacientes estudados estão entre aqueles que necessitaram de internação em unidades de terapia intensiva, apesar de estarem na casa dos 20 anos e não terem histórico de doenças graves. Quer essas proteínas tenham sido neutralizadas pelos anticorpos ou – por uma mutação genética – tenham sido produzidas em quantidades insuficientes, sua ausência liga diversos casos graves da doença.

“Essas descobertas fornecem evidências de que a interrupção do Interferon tipo I é muitas vezes a causa de um maior risco de morte na Covid-19”, explica Jean-Laurent Casanova, pesquisador do Howard Hughes Medical Institute e um dos autores dos artigos. “E, pelo menos em teoria, esses problemas poderiam ser tratados com os medicamentos e tratamentos já existentes”, completa.

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Ilustração do Sars-Cov-2, o vírus causador da Covid-19. Imagem: Shutterstock

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As descobertas são os primeiros publicados pelo projeto COVID Human Genetic Effort, um coletivo de mais de 50 centros de sequenciamento genético e centenas de hospitais em todo o mundo. Segundo John Christodoulou, coordenador do braço australiano do projeto, os dois artigos fornecem uma explicação potencial para a infecção grave por Covid-19 e talvez até explique a razão da doença ser mais fatal entre homens.

“A forma como o Sars-Cov-2 afeta as pessoas de maneira diferente tem sido intrigante. O vírus pode causar uma infecção sem sintomas e ir embora silenciosamente, ou pode matar em poucos dias”, afirma Christodoulou. “É importante ressaltar que 95% dos quase mil pacientes analisados eram homens, o que pode explicar pelo menos algumas das diferenças de sexo que vemos na infecção”.

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Os trabalhos têm implicações imediatas para diagnóstico e tratamento da pandemia, acredita Casanova. “Se alguém der positivo para o vírus, deve fazer o teste de autoanticorpos também, com acompanhamento médico se os testes forem positivos”, completa. É possível que a remoção dos anticorpos que atacam do sistema imunológico alivie os sintomas da doença.

Os pesquisadores agora estão procurando o condutor genético por trás desses anticorpos – acredita-se que eles podem estar ligados a mutações no cromossomo X. “Essas mutações podem não afetar as mulheres, porque elas têm um segundo cromossomo X para compensar quaisquer defeitos no primeiro. Mas para os homens, que carregam apenas um único X, mesmo pequenos erros genéticos podem ter consequências”, afirma Casanova.

Via: Science Alert/Science Daily