Segundo dados do Bloomberg Law, um serviço americano de análise de dados, a pandemia do novo coronavírus acelerou a implantação de tornozeleiras eletrônicas pelo mundo. De acordo com o levantamento feito em julho, hoje, o uso de dispositivos de rastreamento cresceu quase 30% em relação ao período pré-pandemia.

Este aumento, no entanto, não é positivo. Segundo Lauren Kilgour, pesquisadora da Universidade de Cornell, nos EUA, o crescimento é preocupante, pois, muitos governos encontraram nesta ferramenta uma alternativa para conter surtos de Covid-19 dentro de presídios e penitenciárias, mas não analisaram os impactos negativos disso para a sociedade.

Conforme explica, pesquisas mostram que tornozeleiras e outros rastreadores não contribuem para a redução da reincidência no crime. Além disso, não existem dados históricos que mostram que a tecnologia deve ser usada como uma ferramenta que faça as pessoas cumprirem ordens de saúde pública.

ReproduçãoGoverno dos Estados Unidos tem usado monitores para localizar imigrantes ilegais. Foto: Ryan Rodrick Beiler / Shutterstock

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“Para piorar a situação, os monitores de tornozelo estão sujeitos a falhas técnicas, como perda e desvio do sinal, vida útil da bateria proibitivamente curta e alertas imprecisos enviados a agências de monitoramento. Esses erros complicam ainda mais a vida das pessoas que precisam usá-los”, comentou a cientista, que estuda políticas tecnológicas.

Rastreamento com cautela

Ela também alerta para outro crescimento de monitoramento: o de pessoas que não foram condenadas por crimes. Nos EUA, por exemplo, o governo tem usado tornozeleiras para vigiar imigrantes ilegais e para acompanhar idosos que sofrem com alguma doença cognitiva.

Kilgour diz que ações de rastreamentos são importantes, desde que analisadas com cautela e amparadas em dados históricos e sociais relevantes.

“Ao contrário dessas medidas específicas contra o vírus, o aumento do uso de monitores de tornozelo não necessariamente terminará quando a emergência de saúde acabar. Tornozeleiras são anteriores ao vírus, e não está claro como seu uso intensificado será reavaliado quando o vírus não for mais uma ameaça”, conclui.

Fonte: MIT Review