O simples fato de estar conectado à internet, já é suficiente para que muitos dos seus dados sejam coletados e compartilhados por diversos serviços na web. Além de nomes como o GoogleMicrosoft, Amazon, Facebook, chegou a vez dos podcasts apostarem nesta nova estratégia de telemetria.

No passado, esse tipo de conteúdo estava livre desta prática de coleta de dados graças ao uso do RSS, um formato livre de distribuição de dados. Esse protocolo impedia que as informações dos ouvintes fossem compartilhados, até mesmo com os produtores de conteúdo.

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Tudo indica, porém, que esse cenário está mudando de forma gradual. A indústria da propaganda, somente no decorrer de 2020, investiu mais de U$ 800 milhões (R$ 4,4 bilhões) para desenvolver soluções que facilitem o acesso e a utilização de dados dos adeptos dos podcasts para fins comerciais. O objetivo é persuadir os ouvintes a gastarem mais de acordo com o que é ofertado dentro do segmento publicitário veiculado nos podcasts.

Por enquanto, as estratégias mais utilizadas para “conhecer” melhor os usuários são a identificação dos endereços de IP e a adição de links de redirecionamento, que coletam dados de localização em tempo real. Essa tendência vem tornando, por outrio lado, o uso do protocolo RSS mais seguro e livre dessas práticas, algo escasso entre os principais podcasts. x

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Prática abusiva?

Esse apelo cada vez mais comercial, inclusive, já virou tópico de discussão entre os diversos segmentos do mundo dos podcasts. Os próprios criadores de conteúdo e até os desenvolvedores de aplicativos se preocupam com o futuro desse tipo de conteúdo.

Um exemplo prático foi uma alteração implementada no ‘Overcast’, um dos tocadores de podcast mais populares. Desde agosto do ano passado, os desenvolvedores do app decidiram adicionar uma funcionalidade que mostra aos ouvintes quando um podcast utiliza algum tipo de ferramenta relacionada à coleta de dados.

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Imagem: Fauxels/PexelsDados como tempo que passa ouvindo podcasts, ou temas que são de seu interesse, já são o suficiente para ter uma ideia sobre os interesses pessoais de cada um. Imagem: Fauxels/Pexels

Outro app em destaque que também passou por mudanças foi o ‘Pocket Casts’. Quando descobriu que era possível utilizar ‘cookies’ (arquivos que armazenam temporariamente as páginas que o internauta visita na web) dentro dos podcasts, Russel Ivanovic, chefe de desenvolvimento de produtos do aplicativo, pediu imediatamente que a função fosse desabilitada. Segundo Ivanovic, apesar dessa prática ser aparentemente inofensiva, não é algo esperado pelos consumidores de podcasts. “Nós sentimos como se isso fosse longe demais”, comentou. 

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Plataforma mais focada em vendas

Como já é de praxe, as gigantes da tecnologia já estão de olho nesse mercado cada vez mais profissional e em crescimento constante. O Spotify já possui um ecossistema sólido de podcasts em sua plataforma de streaming de áudio. A Apple vêm trabalhando para lançar uma série de podcasts exclusivos, e por fim, a Amazon também pretende entrar no segmento dos podcasts criando sua própria plataforma para atrair os criadores de conteúdo.

Imagem: Burdun Iliya/ShutterstockA única forma de mensurar o sucesso de um podcast no passado era o número de downloads. Imagem: Burdun Iliya/Shutterstock

Esses nomes citados até aqui, devem sair na frente na utilização de dados dos usuários para suas próprias plataformas de podcasts. Todas essas companhias já possuem um ecossistema rico e completo que envolvem diversos produtos e serviços onde uma série de informações já são compartilhadas diariamente. Basta combinar esses dados com o hábito dos ouvintes para criar um novo tipo de publicidade cada vez mais eficaz dentro dos podcasts.

Além do acesso a informações como endereço de IP, localização e até o dispositivo utilizado pelo usuário para ouvir seus podcasts, algumas empresas já se dedicam a cruzar esses dados mais simples com banco de dados de outras companhias. Esse é o caso da Podsights, a empresa utiliza esse pacote de informações coletadas na web para estabelecer alguns critérios. Um deles é se a mesma pessoa que ouviu um determinado podcast também acessou algum link que direciona para um produto ou serviço oferecido durante o programa.

Ainda assim, esse cenário de ameaça imediata à privacidade dos usuários deve se intensificar apenas no futuro. Por enquanto, ouvir podcasts no seu celular, seja em qual plataforma escolher, ainda é algo bastante seguro do ponto de vista de coleta de dados pessoais. Segundo Brad Smith, CEO da Simplecast, empresa que hospeda e distribui conteúdo no formato de áudio, os anunciantes querem informações cada vez mais específicas sobre os usuários, algo que na prática, não pode ser obtido no formato atual dos podcasts. Sendo assim, ainda não houve uma mudança significativa que possa ser prejudicial para quem gosta de consumir podcasts. De qualquer maneira, resta saber o que o futuro reserva para esse formato de conteúdo cada vez mais popular.

Fonte: The Markup