A Black Friday de 2020 será influenciada por diversos fatores – a maior parte deles são consequências da crise causada pela pandemia de Covid-19. Mas no Brasil um novo player está chegando no mercado e há muita expectativa sobre sua performance na data comercial: a plataforma de pagamentos PIX.

Lançado oficialmente a pouco mais de uma semana, o sistema de pagamentos instantâneos movimentou R$ 9,3 bilhões até o último domingo (22), de acordo com o Banco Central. Pode-se esperar que o meio digital de pagamentos, que promete facilidade e agilidade para lojistas e clientes, revolucione a Black Friday – mas não é isso que os especialistas esperam neste ano.

Para a especialista em Banking e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Thaís Cíntia Cárnio, a Black Friday será mais importante para o PIX do que o inverso. “Como esse ano tem sido um tanto quanto atribulado, acho que mesmo com empenho grande em explicar as vantagens da plataforma, ainda é um pouco cedo pra termos um resultado material em relação ao PIX na Black Friday”, avalia.

Por outro lado, observar um aumento nas transações, todas concentradas num único dia, pode ser uma espécie de “prova de fogo” para o sistema. “Quem ainda não fez seu cadastro, pode despertar uma curiosidade. Quem já fez e tiver uma boa experiência no dia, certamente vai abraçar a plataforma”, afirma Thaís. Mas se, por outro lado, os usuários tiverem problemas na sexta-feira (27), essa confiança pode acabar abalada. “E confiança num meio de pagamento digital é tudo”, completa a professora.

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Rovena Rosa/Agência Brasil

Movimento no comércio da rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, durante o Black Friday. Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil

O coordenador do MBA de Gestão de Varejo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ulysses Reis, também concorda que o PIX chegou “em cima da hora” para a Black Friday 2020. “Para além da questão tecnológica, existe a cultural. As pessoas ainda estão se acostumando com o PIX e uma mudança dessas não acontece do dia para a noite. Os clientes que usarão a plataforma agora são os que já estão habituados aos meios digitais e é importante que aconteça esse teste. Mas no ano que vem, a adoção será muito maior”, afirma.

O mercado espera que no futuro não só mais pessoas adotem o PIX (apenas nos primeiros sete dias de funcionamento completo, pelo menos uma chave foi registrada por 2,2 milhões de pessoas jurídicas e 34,5 milhões de pessoas físicas) como novas formas de uso sejam lançadas. “No Brasil há a cultura do parcelamento. Enquanto essa modalidade não chega ao PIX, o varejo tem que apresentar ao cliente outras vantagens em usar esse meio de pagamentos – seja com descontos ou com um programa de pontos”, diz Reis.

Se o PIX ainda não virá com força nesta Black Friday, o mesmo pode se dizer do Natal de 2020 – que independente da plataforma, já não tem boas perspectivas. “Desde 2016, o consumidor adotou o costume de adiantar suas compras de fim de ano na Black Friday, o que vem tirando a força do Natal. Em média, cada pessoa comprava três presentes, mas no ano passado esse número já caiu para dois. E com a crise de abastecimento, muitos lojistas estão segurando as promoções agora para ter produto em estoque depois”, conta o coordenador da FGV.

Ainda assim, os analistas apostam em uma retomada do comércio na qual o PIX pode usar como onda para surfar. “É hora de testar o produto e torná-lo mais conhecido. Há uma demanda reprimida de consumo, o que torna esse um momento interessante para o Pix entrar em ação”, afirma a professora da Mackenzie.

Uma popularização maior do PIX, na opinião de Ulysses Reis, também passa por uma campanha mais efetiva de esclarecimento à população. “Hoje as instituições estão mais preocupadas com a propaganda do que com a solução. O consumidor tem que ter mais clareza sobre o que está usando e as vantagens nisso”.