Justiça condena Google a pagar R$ 50 mil por censura prévia a coletivo

Plataforma postou vídeo no YouTube mostrando abusos de direitos humanos cometidos por emissoras de TV, mas Google derrubou material alegando violação de propriedade intelectual
Por Rafael Arbulu, editado por Flávio Pinto 23/12/2020 18h07, atualizada em 24/12/2020 17h14
Google Justiça
Imagem: Ascannio/Shutterstock
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O Google foi condenado pela justiça brasileira a pagar indenização de R$ 50 mil ao Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social. O motivo, segundo o despacho, é a exclusão de um vídeo publicado pela organização no YouTube, prontamente removido pelo Google por motivo de “violação de propriedade intelectual”.

O vídeo em questão mostrava abusos aos direitos humanos cometidos por emissoras de televisão. A defesa do Google alegou que o sistema de “Content ID”, que permite a detentores de direitos autorais denunciarem vídeos que supostamente os violem, acatou denúncias feitas pelas empresas de televisão.

Segundo a Justiça, o sistema consiste de “censura prévia”, uma vez que se trata de uma função viabilizada pelo próprio Google para que titulares de direitos autorais solicitem exclusões.

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Publicado por Intervozes em Sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A advogada Flávia Lefèvre, que atuou em favor do Intervozes, comentou que a defesa da propriedade intelectual, embora um direito real, não deve ser julgada pelo Google, mas pela justiça. “A decisão está fundamentada no direito constitucional de liberdade de expressão e vedação à censura, garantidos também pelo artigo 19 do Marco Civil da Internet”, disse a especialista.

“Ela [a Justiça] também deixa claro que remoções de conteúdo das plataformas sob a alegação de violação de direitos autorais não podem se dar por uma via paralela ao Poder Judiciário, sob o crivo da análise da Google e dos grandes e poderosos usuários do YouTube titulares de direitos autorais, que têm recebido tratamento privilegiado e discriminatório, viabilizando a censura, como ocorreu no caso do Intervozes”, finalizou Lefèvre.

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O YouTube usa um recurso chamado “Content ID” para remover vídeos que violem propriedade intelectual, mas justiça brasileira entende que mecanismo configura censura prévia. Imagem: NiP STUDIO/Shutterstock

A decisão foi tomada no último dia 15, por três desembargadores da 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP). Como o vídeo em questão mostrava apenas trechos de novelas e outros programas exibidos por várias emissoras (em vez de um segmento longo de um programa específico focado em apenas uma empresa), o entendimento dos desembargadores foi de que o vídeo tinha caráter informativo, logo, houve a prática indevida de censura.

A decisão, vale lembrar, não é final e ainda cabe recurso ao Google em outras instâncias.

A gigante das buscas não comentou o caso, mas o Intervozes alega que o pedido de remoção veio das redes Globo e Bandeirantes. A primeira não comentou as informações veiculadas, enquanto a segunda disse que os programas referidos pelo vídeo do coletivo não estão mais na grade de programação da emissora, que também ressaltou se opor à remoção do conteúdo e que a defesa das minorias é uma de suas principais bandeiras.

Fonte: Folha de São Paulo

Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Flávio Pinto é redator(a) no Olhar Digital