O ano de 2021 mal começou, e já tem gente torcendo pra chegar logo dezembro. E um cometa, descoberto nos primeiros dias de janeiro, promete ser mais um bom motivo para aguardamos ansiosamente o fim do ano.

Órbita para o cometa G4AGJ62 calculada por Mike Meyer
Órbita para o cometa G4AGJ62 calculada por Mike Meyer

O tal corpo celeste foi confirmado oficialmente neste dia 10 de janeiro, pelo Minor Planet Center, e recebeu o nome de C/2021 A1 (Leonard). Ele foi descoberto transitando entre as constelações do Boieiro e Cães de Caça por Gregory Leonard, que usou os telescópios do Mount Lemmon Survey, no Arizona (EUA). Entretanto, após seu reporte inicial, observatórios de outras partes do mundo informaram ter localizado o mesmo cometa em imagens captadas anteriormente. Tal fato permitiu determinar a sua órbita com grande precisão, utilizando um total de 101 observações desde abril de 2020.

Órbita e origem

A partir das observações computadas, o cometa C/2021 A1 (Leonard) possui uma órbita de grande inclinação e hiperbólica. Cometas com essas características são oriundos da Nuvem de Oort, uma região esférica nos confins do Sistema Solar, em que estão localizados os corpos planetesimais, compostos basicamente de gelo e gases congelados. 

Eventualmente uma perturbação gravitacional pode lançar alguns desses corpos em direção ao Sol, numa viagem de milhares de anos e, quando atingem regiões mais aquecidas do Sistema Solar interior (geralmente a partir da órbita de Júpiter), os elementos voláteis presentes no cometa começam a sublimar, formando uma tênue atmosfera chamada de coma.

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A interação com os ventos solares pode arrastar parte dessa atmosfera e também as partículas de poeira do cometa, formando a cauda do cometa. 

Órbita do Cometa C/2021 A1 (Leonard) - Fonte: JPL/Nasa
Órbita do Cometa C/2021 A1 (Leonard) – Fonte: JPL/Nasa

Observação

Atualmente, o brilho do Cometa C/2021 A1 (Leonard) está muito tênue, até mesmo para ser percebido por telescópios. Entretanto, a expectativa é que, ao se aproximar do Sol, ele se torne tão brilhante que possa ser visto facilmente a olho nu, o que deve ocorrer nos últimos dias de 2021.

Gráfico da curva de brilho esperada para o cometa C/2021 A1 (Leonard)

A melhor notícia é que quando esse cometa atingir o seu maior brilho, ele será visto no hemisfério sul do planeta, o que deve favorecer a observação no Brasil. A partir de 15 de dezembro, ele estará visível logo após o pôr do sol, na direção da Constelação de Sagitário. 

Ainda não é possível dizer com exatidão o quão brilhante ele poderá se tornar. Alguns calculam que ele estará próximo à quarta magnitude, o que já é facilmente visível a olho nu. Mas há quem acredite que pode chegar à magnitude zero, um brilho equivalente ao de Vega, uma das estrelas mais luminosas do céu noturno. 

E ainda precisamos considerar o fator surpresa. Cometas são muito imprevisíveis, e com a aproximação do Sol, podem apresentar um surto de brilho, tornando-os ainda mais luminosos que o previsto. Por outro lado, também podem se fragmentar e desaparecer, frustrando expectativas dos observadores aqui na Terra.

Fragmentação do cometa C/2019 Y4 (Atlas) registrado pelo Telescópio Hubble em abril de 2020. Créditos: Fragmentação do cometa C-2019. Créditos: Nasa/Esa/D. Jewitt (Ucla), Quanzhi Ye (University of Maryland)

Se tudo correr bem, no dia 18 de dezembro, o cometa passará a apenas 4 milhões de quilômetros de Vênus, formando uma belíssima conjunção que poderá ser vista no início da noite.

Ele deve aparecer cada vez mais alto no horizonte a cada noite, entretanto, cada vez menos brilhante também. Até o final de dezembro, provavelmente, ainda será visível a olho nu. 

Visão esperada para o Cometa C/2021 A1 (Leonard) em conjunção com Vênus no céu de São Paulo
Visão esperada para o Cometa C/2021 A1 (Leonard) em conjunção com Vênus no céu de São Paulo

Em 3 de janeiro de 2022, ele atingirá o seu ponto mais próximo do Sol, a aproximadamente 92 milhões de quilômetros de distância. Ao longo do mês, o brilho deverá reduzir ainda mais e passará a ser visível apenas por telescópios. Nesse momento, o cometa se despede de nós e inicia sua interminável jornada para fora do Sistema Solar. 

Ainda é cedo para dizer se ele será um cometa discreto ou se dará um espetáculo celeste no fim do ano. É certo, porém que, desde já, gere muita expectativa na comunidade astronômica. Vamos ficar atentos!

Texto por Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia – APA; membro da SAB – Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da Bramon – Rede Brasileira de Observação de Meteoros – e coordenador regional (Nordeste) do Asteroid Day Brasil