Com um mês de atraso (causado pelo aumento no número de casos de Covid-19 nos EUA), a banda de rock norte-americana Flaming Lips realizou neste fim de semana seus “Space Bubble Concerts”, em Oklahoma City. Para manter o distanciamento social nas apresentações, todo público foi colocado dentro de bolhas infláveis individuais.

Não é de hoje que o vocalista do grupo, Wayne Coyne, usa essas bolas gigantes como recurso nos shows – ele entra numa e rola por cima da plateia, numa versão mais segura do famoso “crowd surfing”. Mas para o show na cidade natal da banda, todos tiveram que usar o recurso.

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O Flaming Lips realizou alguns shows em 2020 – todos com ingressos esgotados – da turnê do álbum “American Head”. Em cada um, 100 bolhas infláveis foram distribuídas para o público, com espaço suficiente para até três pessoas dentro. Durante as apresentações, a banda trouxe balões enormes soletrando “F*ck You Covid-19” (F*da-se Covid-19, em bom português).

“Parece absurdo e no início estávamos apenas pensando nisso como uma coisa engraçada, mas agora está se tornando algo sério e real”, afirmou Coyne em uma entrevista ao site BrooklynVegan. “Acho que esse é o tipo de dilema todos enfrentamos: estamos esperando que tudo volte ao normal ou estamos começando a pensar como será o futuro? Qual é o futuro da música ao vivo?”.

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Show na bolha funciona?

Mas o conceito é viável? Os cuidados vão muito além de simplesmente colocar as pessoas dentro das bolhas. Em entrevista ao TMZ, o vocalista do Flaming Lips explicou que é necessário muito espaço aberto ao redor do salão principal do show para tornar mais fácil manter a distância entre as pessoas enquanto elas entram nas bolhas.

O processo para inflar as bolas leva cerca de 45 minutos. As bolhas, segundo Coyne, retêm oxigênio suficiente para três pessoas respirarem por aproximadamente uma hora e 10 minutos antes de serem recarregadas ou abertas.

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Dentro de cada bola estão “alto-falantes suplementares de alta frequência” para cada espectador usar no pescoço. Isso ajuda a evitar o abafamento do som através do plástico, especialmente para aqueles que estão nos fundos do salão. As bolhas também são equipadas com ventiladores individuais operados por bateria, também usados ​​ao redor do pescoço.

Com as pessoas pulando e dançando, pode ficar úmido por dentro da bolha. Por isso foi distribuída uma placa que diz: “está calor aqui”. Atendentes ficam de prontidão para injetar ar novo e fresco nas bolas. Do outro lado da placa está a mensagem “eu tenho que fazer xixi”. Mostrando-a, você consegue ajuda para sair e voltar sem perturbar o resto do público.

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E o vírus?

Os shows foram bem planejados, mas funciona para manter a Covid-19 afastada? “Eu precisaria ver como estava ocorrendo a troca de ar entre o exterior e o interior das bolhas para poder dizer se era seguro para todos ou se o risco de transmissão era reduzido”, avalia o diretor da saúde global na Northwell Health, de Nova York, o médico Eric Cioe-Peña.

O público podia tirar suas máscaras dentro da bolha, mas tinham que usá-las depois de sair da proteção. Por isso, alguns especialistas em saúde se preocuparam com a segurança dos usuários dentro das bolhas.

“Não há evidências sobre a eficácia – ou a falta dela – dessas bolhas do ponto de vista da transmissão de doenças infecciosas”, afirma Sandro Galea, reitor da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston. Para o médico, o controle da transmissão do vírus depende de uma boa circulação de ar e filtragem.

“Então, em teoria, se a filtragem do ar for boa, as barreiras de proteção podem aumentar e reduzir o risco de transmissão, mas eu ficaria hesitante em assistir a um show em uma bolha no momento, a menos que isso tenha sido avaliado mais detalhadamente”, completa.

Para Cioe-Peña, as bolhas de plástico usadas nos shows pareciam não ter ventilação o suficiente. Mas se cada uma das bolhas “tivesse um suprimento de ar filtrado bidirecionalmente”, explica, “isso impediria efetivamente a transmissão da Covid entre as bolhas”.

Embora uma bolha de plástico possa ajudar a reduzir a exposição das pessoas a “agentes infecciosos” (se preenchida com ar filtrado), ela também pode levar ao aumento dos níveis de dióxido de carbono, segundo o professor associado de ciências da saúde ambiental da Universidade de Massachusetts Amherst, Richard E. Peltier.

“Minha recomendação seria adicionar um pequeno sensor de CO2 à bolha”, disse ele. “Embora nem sempre sejam os mais precisos, eles devem ser suficientes para dizer a um espectador que é hora de fazer uma pausa e refrescar aquele ar viciado. E depois volte a curtir a música com segurança”.

Via: New York Times/LA Times

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