O primeiro meteorito de 2021 caiu na Indonésia e viralizou nas redes sociais após ser servido como “chazinho medicinal” com propriedades mágicas.

Essa história que parece absurda, e é, aconteceu de fato no Sul da Ilha de Sumatra, no Vilarejo Astomulyo, distrito de Punggur, na Indonésia. No último dia 28 de janeiro, moradores da região relataram terem ouvido um grande estrondo do céu, como um trovão. Alguns minutos depois, uma rocha de mais de dois quilos atravessou o telhado de uma casa e caiu no quintal, sendo encontrada parcialmente enterrada ao lado da parede externa do imóvel.

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Meteorito de 2,2 Kg que atingiu a casa em Astomulyo. Foto: Itera
Telhado da casa danificado pela queda do meteorito. Reprodução: Portal Kajian Warga

A rocha espacial tinha tudo para ficar famosa por sua importância científica ou talvez por seu valor comercial. Mas foi a atitude inusitada dos moradores que rapidamente transformou essa queda em uma história que vai entrar para o folclore da meteorítica!

Seguindo os conselhos de um religioso local, os moradores mergulharam o meteorito em um aquário com água, e distribuíram parte dessa água com amigos e familiares. Eles acreditaram que a rocha era mágica e que o “chazinho cósmico” levaria boa sorte e saúde a quem bebesse ou passasse o líquido pelo corpo.

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Moradores se servindo da água onde o meteorito de Punggur está mergulhado dentro de um aquário. Reprodução: infolampungterkini

Segundo o líder comunitário, a rocha foi considerada sagrada porque, além de cair em uma data importante para a religião local, ela veio justamente após as orações do proprietário da casa, que há muito tempo luta contra uma doença renal. O meteorito pareceu uma resposta às suas orações. Como um presente dos céus, com propriedades medicinais e que o proprietário fez questão de compartilhar com toda a comunidade.

Evidentemente que para a Ciência, tudo não passa de uma coincidência. Meteoritos são rochas espaciais formadas há bilhões de anos, durante o processo de formação do Sistema Solar. Eventualmente essas rochas podem atingir a Terra e quando isso acontece, geram belos meteoros, e em alguns casos, meteoritos como esse que caiu em Punggur.

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A grande maioria dos meteoritos são constituídos por rochas que nunca tiveram contato com a água. E para conservar suas propriedades químicas, eles geralmente são mantidos em ambientes fechados, livres de umidade e longe, muito longe da água. Mergulhar o meteorito na água é, cientificamente, um crime hediondo.

Mas durante os dias, e noites, que se seguiram, a população se aglomerou em frente à casa do abençoado morador, que distribuía seu “elixir meteorítico” a todos. Toda essa “magia” só acabou quando uma equipe do Itera, o Instituto de Tecnologia de Sumatra, visitou o local.

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Eles confirmaram que a rocha se tratava de um meteorito e desmentiram seus poderes mágicos e curativos. Disseram ainda que ela poderia ser nociva aos seres humanos, por conter elementos radioativos. Isso não é exatamente uma verdade, mas serviu para pôr fim à distribuição da “infusão meteorítica”.

Parecia que as agressões à rocha alienígena cessariam enfim, mas infelizmente não. Depois de medir as dimensões e a massa do meteorito, os “especialistas” do Itera afogaram, mais uma vez, a rocha em um recipiente com água, provavelmente para medir sua densidade.

Especialistas mergulhando mais uma vez o meteorito na água. Créditos: Reprodução

Depois de todo o sofrimento, o meteorito agora é considerado propriedade comum de todos os moradores de Astomulyo, que podem inclusive vendê-lo, se quiserem. Só que provavelmente não vão conseguir um bom valor numa peça completamente enferrujada e deteriorada, mas que rendeu a curiosa história do meteorito servido como elixir milagroso.

Meteorito de Astomulyo coberto de ferrugem. Foto: Itera

Texto por Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia – APA; membro da SAB – Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da Bramon – Rede Brasileira de Observação de Meteoros – e coordenador regional (Nordeste) do Asteroid Day Brasil